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Você conhece a “língua brasileira”?

 

Por Gabriel Bastos

 

 

O português é o sétimo idioma mais falado no mundo, com cerca de 221 milhões de falantes, de acordo com a edição 2019 do “Ethnologue” – publicação da SIL International, organização científica norte-americana sem fins lucrativos e referência no estudo das línguas. A variação brasileira da língua estaria por si só nesta mesma posição, com os quase 210 milhões de habitantes no país.

 

O grande alcance desse português brasileiro não se deve apenas aos falantes nativos daqui. Fatores culturais como o Carnaval e nossas tradicionais novelas também levam essa versão nacional a diversos outros países. Essa dimensão é percebida também em situações em que a variedade brasileira é a norma, como no caso do “Siri”, assistente pessoal de dispositivos móveis da Apple.

 

Tal amplitude é tão expressiva que alguns pesquisadores já reconhecem a existência de uma “língua brasileira”, que é a variedade brasileira da língua portuguesa. Segundo Márcia Oliveira, professora da FFLCH-USP, ela existe e já se distancia muito da que é falada em Portugal.

 

 

Número de falantes da língua portuguesa. Créditos: Amanda Péchy

Número de falantes da língua portuguesa. Créditos: Amanda Péchy

 

Conforme ela explica, os sistemas do nosso português (sua fala, sua semântica, entre outros) já se distinguem bastante dos presentes nas origens europeias da língua, o que é muito significativo, gramaticalmente falando.

 
Essas diferenças são expressas principalmente na língua falada, ao invés da escrita. No nosso português, é comum dizer que “te vi ontem”, ou que “me contaram essa história”, iniciando frases com pronomes átonos. Porém, seguindo as regras da vertente lusitana, esse uso é inadequado.

 
No entanto, o conceito de uma língua brasileira ainda é controverso. Apesar de concordar com a existência do português brasileiro, para a professora Maria Eugênia Lammoglia Duarte, da UFRJ, não somos tão influentes em termos linguísticos.

 
Ela endossa que podemos até promover alguma influência em quesitos lexicais, contribuindo no vocabulário, por exemplo. Mas que isso não afeta estruturalmente a língua, nem a gramática.

 
De qualquer modo, Portugal jamais aceitaria uma desfeita ao seu idioma, ora pois! Segundo Maria Eugênia, nos países africanos onde se fala a língua portuguesa, como Angola e Moçambique, o português europeu continua sendo referência. Inclusive, a mérito de curiosidade: livros de Paulo Coelho já foram até mesmo traduzidos em Portugal. Crês nisso?

 

Errado é o preconceito

 

Por Diego Andrade

 

Ilustrações Mapas Pág 8 e 9

 

Em um país com tantas variedades linguísticas como o Brasil, quem utiliza a palavra como meio de produção cultural pode encontrar nisso um modo de resistir aos padrões impostos e lutar pelo direito de falar à própria maneira.

 

Embora seja apenas um exemplo entre diversas possibilidades, o rap é a primeira manifestação artística que vem à cabeça quando o assunto é preconceito linguístico. Conhecido por denunciar a realidade periférica e a desigualdade social no Brasil, o gênero musical também pode servir como um meio de afirmação da identidade de quem o produz.

 

É um ato de celebração da própria cultura, como afirma o rapper independente Wladinir Gomes, que utiliza o nome artístico ONNI: “o Hip Hop carrega nas suas raízes a responsa de criar um espaço para que possamos ser livres sendo quem somos.” E essa liberdade se materializa também na expressão oral que enfrenta preconceitos que, segundo ele, funcionam como um dos escudos da elite burguesa e são tidos como uma forma de deslegitimação do povo.

 

Essa afirmação é reforçada pelo sociolinguista Marcos Bagno, professor no Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília (UnB) e autor de diversos livros sobre preconceito linguístico. Para ele, o preconceito contra variedades linguísticas menos prestigiadas decorre do preconceito social já existente contra as pessoas que as utilizam. “Essas variedades são menos prestigiadas porque não são faladas pela reduzida minoria branca urbana de classe média. O que não pertence a essa minoria é visto sempre como errado, feio, ridículo, etc.”

 

E se “falar errado” for o problema, ONNI deixa o recado: “antes falar errado do que pensar errado, que é um dos sintomas do preconceito.”

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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