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Eu, os outros e aplicativos de relacionamento

 

Por Isabela Marin

 

Arte e Imagem: Iasmin Cardoso e Sarah Lídice


Longe do nervosismo típico de encontros cara a cara, os matchs se tornam abrigo
para fazer com que eu sinta que valho a pena e que sou admirado por outros. Esse relato é
o de muitas pessoas que baixam aplicativos como Tinder, Happn ou Badoo, plataformas
mais utilizadas desse segmento, para um carinho e acalentar o ego vez ou outra.

Mas todo esse processo é voltado para minha própria identidade, afinal, é a mim que
interessa o contato com outros e ser vista por eles. Sou eu que quero ser enxergado e, de
alguma forma, admirado e ‘aceito’ (num match, por exemplo) em apps de relacionamentos.
A construção da persona que decido apresentar é uma responsabilidade que recai
irrevogavelmente sobre mim.

Um mexe mexe nervoso adentra a mente: fotos e descrição. O que os outros
pensarão do meu perfil? Ao mesmo tempo, visualizar as fotos dos pretendentes é julgar a
todo momento os porquês de entregar um “sim” ou “não” para aquela pessoa. Está muito
longe, não faz o meu tipo, gosta do Palmeiras e odeia baladas, parece esquisito…

Os matches vão se acumulando, mas viram mais como itens numa cesta. Tudo se
transforma num mercado: começo acumulando matches como num estoque, me desfaço
daqueles que não me interessam (descarte) e posso abandonar alguém por outro mais
interessante (troca). Da mesma forma, há uma movimentação para objetificar as pessoas
que aparecem na minha tela e me deparo com a possibilidade de alguém estar do outro
lado da tela pensando o mesmo de mim.

A preocupação bate cada vez mais forte quando tomo conhecimento de informações
como o uso de classificação Elo no Tinder: o sistema vincularia um “nível de popularidade”
ao perfil com base nas curtidas que recebeu. É assim que consigo descobrir, por exemplo,
quanto estou valendo no mercado do outro e se vendi bem meu produto. Se me vendi bem.
Isso gera uma certa disputa das aparências para ultrapassar o status do perfil de pessoas
que nem mesmo conheço.

Alguns matches e conversas sem rumo, elogios e está feito o propósito desses
apps. Agora demorará algum tempo até precisar usar esse artifício novamente.

Colaboraram:
Hellen Taynan, responsável por estudo sobre trocas em relacionamentos virtuais e
objetificação.


O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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