logotipo do Claro!

 

A hora do pesadelo

 

Por Beatriz Lopomo e Thiago Gelli

 
Ilustração Sebastião Moura


Um grito irrompe o calar da noite. As costas empapadas de suor, a sensação de alerta e o coração acelerado causam desorientação — mas, onde antes havia um assassino, agora há uma cômoda. Mais uma vez, os assustadores monstros dos sonhos fizeram sua investida contra Matheus. 

Pesadelos são fenômenos que ocorrem durante o período do sono chamado de REM, traduzido para “movimento rápido dos olhos”, em que a atividade cerebral intensifica-se e a respiração e os batimentos cardíacos estão mais acelerados. Assim como os sonhos, os pesadelos são manifestações da psique, podendo estar relacionados a um fato isolado, como uma notícia ruim consumida durante o dia, ou a um pensamento latente, como a supressão de um desejo, um trauma ou o acometimento de alguma doença psicológica — como a ansiedade e a depressão. 

Eles acompanham e fascinam Matheus Marchetti desde a infância — quando o visitavam recorrentemente —, mas cessaram gradualmente há alguns anos, junto a seu amadurecimento. Hoje, aos 27, ele vem os combatendo na forma de múltiplos filmes que circulam por festivais no Brasil e no mundo, como Fantaspoa, Cinefantasy e Macabro. Escolhendo a profissão de cineasta por afinidade com as artes, os pesadelos que tanto o atormentavam foram implementados em suas obras.

Nas narrativas, assustadores vampiros se tornam válvula de escape para a sensualidade e sentimentos de deslocamento que antes o aterrorizavam. Se seu eu criança temia a hora de dormir devido ao subconsciente traiçoeiro, o jovem cineasta hoje captura fantasmas com sua câmera e com eles enfrenta o público. 

“Os melhores filmes de terror se parecem com pesadelos, trazem uma sensação de medo primitiva e inescapável”, opina Marchetti.

A psicóloga Nícia Tavares, especialista na abordagem Junguiana, explica que, para conseguir parar de temer os sonhos ruins, é necessário compreendê-los. Nesse contexto, ela concorda que relatar e divagar sobre os sonhos pode proporcionar uma válvula de escape ao desvendar o roteiro de nossas horas de pesadelo. 

Agora, em meio ao breu da madrugada, se um vulto ameaçador paira no canto do quarto, ele não passa de um cartaz que Matheus guarda com carinho. “Depois de fazer um filme sobre esse assunto, não tenho mais sonhos com essas coisas”.

Colaboração Dalva Poyares, certificada em Medicina do Sono pela Associação Médica Brasileira, com Doutorado em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com