logotipo do Claro!

 

Noite sem fantasia

 

Por Luiz Attié e Tomás Novaes

 
Ilustração Sebastião Moura


No continente de Ionia, uma árvore mágica guarda os sonhos dos homens, que brotam de suas raízes. Certa noite, a própria árvore sonhou. Deste broto, nasce Lillia, uma jovem metade cervo metade humana, que passa a ser a protetora daquele lugar. Porém, com o passar do tempo, Lillia percebe que os sonhos começam a diminuir.

Click. O computador é desligado. O relógio marca duas da manhã. Cansado de mais uma jogatina de League of Legends, e após ler a história da sua personagem campeã, o estudante de engenharia Alexandre, 20, deita na cama.

Ele não se lembra da última vez que sonhou. Toda noite ele fecha os olhos depois das três da madrugada e, tal qual outros 93,5% dos jovens, não consegue dormir nem por sete horas. Na manhã seguinte, o despertador é pontual.

Na verdade, o sono de Alexandre, por mais curto que seja, é recheado de sonhos – assim como a árvore de Ionia. Mas aqueles vívidos e narrativos, que costumamos lembrar, acontecem no último momento do descanso, o sono REM, o primeiro estágio a ser prejudicado pelas poucas horas de sono.

Além do sono curto, as luzes do computador e dos celulares inibem a produção de melatonina – hormônio regulador dos ritmos fisiológicos ao longo do dia –, o que dificulta a sensação de relaxamento.

Sem os sonhos do sono REM, que revisitam nossa memória emotiva, pode ocorrer uma desregulação emocional. Da depressão à falta de empatia, a crise contemporânea do sono e do sonho é um problema social que afeta 65% dos brasileiros e nasce ali, no quarto de cada um.

E, no quarto de Alexandre, a protetora dos sonhos escolhida por ele no jogo não consegue ajudá-lo. Enquanto ele troca a lua pela luz do computador e o sol pela tela do celular, o sonho continua a acontecer só na ficção. Resta a ele sonhar acordado em ter pelo menos uma boa noite de sono.

Colaboração Mario Pedrazzoli, professor de Biologia do Sono na EACH-USP; Márcia Assis, vice-presidente da Associação Brasileira do Sono; Sérgio Arthuro, pesquisador em medicina do sono; “Interplay of chronotype and school timing predicts school performance”, 2020, Nature Human Behavior; “Sleep quality in the Brazilian general population: A cross-sectional study”, 2022, Sleep Epidemiology

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com