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Os sonhos e a percepção

 

Por Henrique Nascimento e Thomas Toscano

 
Ilustração Jorge Fofano


Nunca é fácil contar seu sonho para alguém. Além de esquecer os detalhes, toda descrição sensorial depende de nossa percepção do real – e da percepção de quem escuta. Sonhar com o eterno scroll das redes sociais ou até com anúncios de cinco segundos dentro do sonho hoje é normal. Já nos anos 1950, eram as TVs monocromáticas que influenciavam o sonhar. Um estudo de 2008 da Universidade de Dundee, Escócia, revelou que quase 25% dos estadunidenses que cresceram nos anos 1950 ainda sonham em preto e branco. 

Os estímulos sensoriais fazem cada pessoa perceber o mundo à sua maneira. Para quem tem deficiência visual, como o jornalista Nikolas Asheshov, que é cego há 20 anos, os sonhos com imagens são raros, mas ainda ocorrem. Ele conta que o predominante são os sonhos com suas músicas favoritas – composições de Bach e Mozart – cheiros, sabores e até mesmo texturas familiares. 

E para quem nunca enxergou? Pesquisas de 2003 da Universidade de Lisboa identificaram a presença de atividade cerebral responsável pela formação de estímulos visuais em cegos congênitos. Em outras palavras: mesmo que nunca tenham enxergado, essas pessoas podem formar imagens concretas nos sonhos (como barcos, palmeiras e gaivotas) e até representá-las em desenhos ao acordar. 

Há também casos de pessoas que têm sentidos como tato, audição e visão, mas os percebem de outra forma. A psicóloga Fernanda Rodrigues estuda o desenvolvimento de crianças com síndrome de Down e o papel dos pais em sua formação. Ela ressalta que “As pessoas com deficiência muitas vezes são regidas por seus cuidadores e perdem parte de sua autonomia. Com isso, acabam também perdendo parte do alcance de seu inconsciente, dos sonhos, limitando-se pelos preconceitos de quem as enxerga”.

Segundo Fernanda, já foi comum julgar essas pessoas como desprovidas de um inconsciente, com sonhos sem significado. As evidências mais recentes, contudo, apontam para o contrário: o estímulo e a noção de diversidade potencializam o desenvolvimento tanto do consciente quanto do inconsciente dos neurodivergentes. 

Quem tem a síndrome se atenta muito mais ao presente e ao cotidiano. Guilherme Campos, rapaz de 26 anos com Down, relata que seus sonhos são voltados para o dia a dia: “Às vezes a gente lembra ou esquece, mas o gostoso disso é, ao lembrar, contar para a família.” Sua mãe, Deise, sempre o incentivou a seguir seus sonhos. Hoje ele cozinha no renomado Restaurante Jacarandá, em São Paulo. Sonha em ser chef e continuar seus projetos como ator. 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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