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À primeira vida

 

Por Larissa Leal

 
Arte: Caroline Kellen

Nossos olhares se encontraram e tudo começou de novo: coração acelerado, estômago revirado e frio na barriga. A sensação de tentar esquecer e só conseguir lembrar. Aquele alguém que desperta um sentimento de quatro letras, e consome tudo que há pela frente. Como explicar de forma lógica que bastou um “oi” para o caos começar? Essa situação me custou dias pensando. Um sentimento desses não surge sem aviso, e eu não sou do tipo que acredita em “à primeira vista”. 

A dúvida veio para incomodar. Tudo que ouvia parecia ser sobre isso, até uma das muitas conversas que escutei disfarçadamente no metrô. Enquanto uma moça contava para a amiga que se sentia presa a uma outra pessoa, esperei ansiosa pelo conselho. A resposta não era bem o que imaginava. “Talvez você esteja de fato presa, só não consegue ver”.

O ponto de interrogação apenas ficou maior. A resposta veio ao assistir um filme sobre dois jovens que, presos ao destino, precisavam ultrapassar a lógica do tempo para se encontrar. Era como me sentia – presa e sem saber porquê. De clique em clique, cheguei à possível solução: regressão. Sim, dessas que voltamos para outros momentos, até outras vidas, a fim de entender o inexplicável.

Deixei o ceticismo de lado e fui em busca de uma explicação. A regressão funciona como uma hipnose, e o terapeuta ajuda a entender sentimentos que podem ter se originado há muito tempo. Aí tudo se esclareceu. De fato, não foi algo que surgiu de repente, foi um sentimento carregado por anos, mesmo que a memória não me permitisse lembrar. A faísca estava ali e o tempo foi a gasolina.

O que pensei que seria um alívio descobrir, me deixou ainda mais inquieta. Saber que esse alguém – e o sentimento atrelado a ele – estavam presentes, não só comigo, mas em outras versões de mim, explicava muita coisa, porém era desesperador. Mesmo assim, precisava aceitar, estávamos presos um ao outro até estarmos prontos para desatar esse nó.

Nós dois precisávamos estar dispostos a resolver e mesmo que carregar esse sentimento não seja fácil, enfrentá-lo parecia pior. Resolvi deixá-lo ali. Talvez o tempo, assim como o ajudou a crescer, ajudaria a esquecer essas quatro letras. Ah, sim, essas quatro letras. Ó-D-I-O. Com todas as minhas forças, te odeio. Quem sabe em outra vida?

Colaboradores: Uma fonte preferiu não ser identificada; Bruno Sabino – Hipnoterapeuta; Rodrigo Prado  – Dirigente da Tenda Umbandista e Espiritualistica Pai Onofre

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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