Apenas 1% dos pretendentes habilitados estão dispostos a adotar um adolescente no Brasil. Por outro lado, existem 2.154 pessoas com mais de 12 anos aguardando um lar. Um dos principais aspectos para essa rejeição é o preconceito de que os adolescentes não conseguem criar afeto com a nova família.
Para Aline Domingues, psicóloga especialista em adoção: “Ao estudar neurociência vemos que o cérebro humano se desenvolve até os 25 anos e na adolescência é possível desenvolver novas habilidades emocionais, como o afeto”. Por isso, os traumas advindos da infância no abrigo e a puberdade podem dificultar a construção de laços afetivos, mas não impedir.
Ingrid Domingues, mãe de dois filhos, decidiu adotar o Vinicius, de 16 anos, enquanto estava grávida da terceira filha, e Sanmya Lisboa, que não desistiu de ser mãe após ter que retirar o útero em uma cirurgia, adotou a Jamile, de 14 anos, são exemplos dessa possibilidade.
“Foi difícil no começo, pois além de estar passando pela puberdade, ele já tinha sofrido muito e tinha dificuldade de se expressar”, relata Ingrid. Não diferente disso, Sanmya conta: “Eu tive que ser resiliente no começo, pois ela havia acabado de perder a mãe biológica e estava passando pela adolescência”.
Os familiares precisam saber que os adolescentes podem ser impulsivos e inseguros durante a puberdade, quando acontecem mudanças na composição física e hormonal de seus corpos. Nessa fase, há um afastamento natural da família para descobrir gostos individuais e formar novas relações. De uma hora para outra, eles só ouvem pancadão, rock ou k-pop.
Além disso, no caso dos filhos adotivos, a puberdade é misturada com medos, o que desencadeia uma série de questões: Por que eles me quiseram agora? Será que vão me devolver? O que é ter uma família? Para Aline, a principal forma de gerar aproximação em meio a esse turbilhão de sentimentos é conhecer o filho e se interessar pelo que ele gosta e criar um ambiente seguro de aconselhamento e escuta.
Atualmente, Vinicius tem 20 anos e Jamile, 24. Ambos seguem morando com a família que os acolheu na adolescência. Segundo relatos das próprias mães, a “materialização do amor” e a “comunhão” foram peças-chave para criar laços inseparáveis com alguém que elas passaram os primeiros 14 ou 16 anos sem conhecer.