logotipo do Claro!

 

A cor (in)visível

 

Por Marília Monitchele e Melannie Silva

 

Arte: Nathalie Rodrigues

Thiele, Ana Beatriz e Tatiana não se conhecem, mas têm algo em comum. As três são mulheres negras que compartilham uma condição genética que faz com que as pessoas nasçam sem melanina na pele, olhos e cabelo. Embora o albinismo afete indivíduos de todas as etnias, se autodeclarar como uma pessoa negra e viver em uma pele não pigmentada é um desafio significativo, em uma sociedade onde a “cor” é o principal parâmetro de definição da identidade racial.

O albinismo é uma condição rara. De acordo com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, uma em cada 17 mil pessoas no mundo tem essa característica, sendo mais comum entre pessoas negras. No Brasil, estima-se que cerca de 21 mil indivíduos sejam albinos, de acordo com dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Para Adailton Melo, pesquisador em estudos culturais com foco nesta população, há uma falta de políticas públicas para esse grupo, o que prejudica a visibilidade e a noção de pertencimento racial desses indivíduos. “É um paradoxo falar sobre a identidade da população negra albina”. 

Nascida de uma relação interracial entre mãe negra e pai branco, a estudante de psicologia e modelo Ana Beatriz Ferreira se sentiu por muito tempo neste paradoxo racial. “A gente é colocado em uma posição de ‘entre’. Não sou uma pessoa branca, mas também não sou uma pessoa negra de pele escura”. Ana relata que a fidelidade de sua mãe foi questionada mais de uma vez devido à cor de sua pele, levantando suspeitas sobre a paternidade: “insinuavam traições e perguntavam se meu pai era alemão”.

Thielle Luize, atriz carioca, relata que “até a adolescência, não tinha certeza se era apenas albina ou se realmente era negra”. Já para a analista judiciária Tatiana Moreira de Oliveira, o processo de compreensão racial foi ainda mais gradual: “Não aconteceu na infância, nem na adolescência, foi na fase adulta, nos últimos dez anos”, explica. Sua experiência inspirou “A história de Ayana” (2022), um livro infantil que explora a construção da identidade racial de uma criança albina em uma família negra. “Eu tinha tido contato com um ou dois livros sobre identidade, mas nenhum que falasse dessa experiência da negritude”.

Apesar da não pigmentação da pele, pessoas albinas não estão imunes ao preconceito e ao racismo. “Muitos veem a condição como uma doença, às vezes evitam até nos encostar por terem ouvido que o albinismo é transmitido pelo toque”, diz Thielle. Tatiana lembra, porém, que quando falamos de pessoas pretas albinas estamos falando de diversidade. “A branquitude tem todo um escopo de cores que é reconhecido. Por que isso é negado em relação à negritude?”.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com