Arte: Alessandra Ueno
Seitas, cerimônias secretas, organizações fechadas. A forma com que o outro lida com o divino e a espiritualidade pode causar curiosidade ou aversão de quem não conhece ou não se identifica. Quando se trata de tradições religiosas menos habituais, mistérios e teorias do que ocorre dentro dos templos e sobre as pessoas que os frequentam podem surgir.
É como se houvesse uma porta guardando aquela tradição. Se aberta de uma vez, pode ofuscar, como sair de um ambiente escuro para um muito claro. Algo que atinge não só quem está de fora, mas quem está dentro também.
Comumente chamado de “Mórmon”, Daniel Costa, integrante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conta que templo é um lugar sagrado e até membros batizados precisam passar por um processo de dignificação antes de entrar, o que pode colaborar para a sensação de mistério em torno da religião, mas não que haja algo escondido.
Durante a pré-adolescência, ele diz que omitia sua religião dos amigos. De roupa social e cabelos penteados, ele não gostava dos apelidos que recebia. “Eu voltava da Igreja aos domingos e logo tirava a gravata”.
Ser adepto de uma religião que envolve personalidades conhecidas, como Tom Cruise, membro da Scientology, gera ainda mais curiosidade. Diretora da unidade de Cientologia do Tatuapé, Luciana Santos conta que não existem rituais ocultos, mas que por ser menos tradicional, pode causar medo. “Você tem que estudar, testar e ver por você, pois ninguém vai impor. Se cada um permitir, chamamos todos para nossas atividades”.
Para Daniel e Luciana, essas concepções populares se dão pela falta de esclarecimento e distanciamento por parte da população que acaba confundindo-os com outras religiões ou dizendo que fazem parte de uma seita. Entretanto, eles afirmam, “não somos um grupo fechado”.
Apesar dos estigmas relacionados a essas restrições, há tradições religiosas intencionalmente fechadas, chamadas de “Escolas Iniciáticas”, como a Maçonaria. Paulo Henrique Lopes, doutor em Ciência da Religião, diz que nestes casos, o limite é colocado na própria estrutura institucional e hierarquização destas tradições.
Além disso, ele explica que até mesmo grupos autodeclarados ou vistos como abertos podem ter instâncias vedadas e desconhecidas. “É uma dinâmica análoga ao de grupos culturais que se organizam em determinada comunidade. E toda comunidade é relativamente fechada”.