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cidade dorme

 

Por bárbara aguiar e diogo spinelli

 
arte: miriã gama

antes mesmo de ter idade para aprender a ler, luis carlos já enfrentava os desafios de ser uma pessoa sem lar. aos 5 anos, foi abandonado pela mãe com amigas que o “passaram para frente” e acabou adotado de modo informal. no novo lar, onde deveria receber afeto, se viu cercado pela agressividade, e em meio às violências diárias, decidiu fugir de casa. aos 9 passou a dormir nas calçadas e a vaguear pelas estradas.

natural de minas gerais, ele conheceu todo o sudeste de carona – e as ruas, que deveriam ser um caminho para sua nova vida, se transformaram em um ponto final. agora com 53 anos, luis carlos fez uma pausa nas andanças para se estabelecer nos bancos do centro de são paulo e é mais um entre os 335 mil brasileiros que vivem em situação de rua.

assim como ele, a maior parte está nas calçadas por conflitos familiares (47,3%); na sequência, vêm o desemprego (40,5%), o uso abusivo de álcool ou outras drogas (30,4%) e a perda de moradia (26,1%). esta última é combatida pelos movimentos de luta por moradia, que multiplicam as ocupações pela região central.

cláudia, por exemplo, só não encara a vida sob a marquise porque conseguiu um espaço para si e suas seis crianças na ocupação são joão. o sotaque peruano escapa enquanto ela explica que decidiu vir para o brasil com o parceiro em busca de melhores oportunidades financeiras. depois de perder o companheiro, a mãe solo tem no espaço irregular a única coisa que separa os filhos de outros 3.759 jovens sem moradia na capital paulista.

muitas vezes, as causas que levam ao grande número de pessoas em situação de rua se interligam – o desemprego e o uso abusivo de substâncias podem levar à conflitos familiares, por exemplo – e são agravadas pelo fracasso do atual modelo econômico, que falha ao incluir a todos no mercado de trabalho.

“as políticas públicas deveriam oferecer uma rede de segurança social que permita que a pessoa não fique em situação de rua, mesmo que não esteja trabalhando”, explica tomaz moreira, pesquisador da fundação joão pinheiro, ao destacar a moradia como um direito garantido na constituição.

enquanto medidas sociais propostas pelo governo federal esbarram na não adesão dos municípios – responsáveis por colocá-las em prática –, a sociedade civil se organiza e assume o papel que deveria ser centralizada no poder público.

o “bem da madrugada” é uma das organizações sociais que realiza projetos de assistência a pessoas em situação de rua. toda última quinta-feira do mês, profissionais da saúde e voluntários participam do “saúde nas ruas” e prestam atendimento médico aos sem teto. anna pinheiro, estudante de enfermagem, relata uma das principais demandas: “na maioria das vezes, eles só querem conversar”.

na última ação na república, ao lado do theatro municipal, o projeto distribuiu lanches e medicamentos. a fila formada em poucos minutos é repleta das mais variadas pessoas: cláudia e seus seis filhos; amora, mulher trans e militante do movimento por moradia popular; wagner, morador de rua;

e até garis que acabaram o trabalho e querem um lanche antes de voltar para o alojamento. a ausência de um perfil entre os assistidos é sintetizada por luis carlos: “a grande nação brasileira é um povo heróico”.

Colaboradores: observatório brasileiro de políticas públicas com a população em situação de rua (obpoprua) e marco natalino,pesquisador do instituto de pesquisa econômica aplicada (ipea)

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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