Quem deseja importar da Coreia do Sul um cachorro que cabe numa xícara de chá só precisa de duas coisas: bolso cheio e muita coragem. Caso a busca seja por um filhotinho ainda mais específico em raça, gênero, cor ou tamanho, basta desembolsar mais mil dólares, além do valor do animalzinho e da estadia no hotel. Isso garante que, se mesmo assim o cãozinho não agradar, seja possível requerer sua substituição por até duas vezes. Realizado o processo, o valioso amigo do homem pode, finalmente, encontrá-lo.
Mais do que a aquisição de um companheiro, fala-se de um investimento de risco. Fabiana Michelsen de Andrade, geneticista da UFRGS, explica que a priorização por aspectos estéticos na seleção artificial pode levar a problemas de saúde. Esse processo, que já aconteceu com raças mais consolidadas, como Pug, Bulldogue Francês e Dachshund, agora é ampliado, com ênfase na busca por animais mini ou com pelagens diferentes. É a procura pelo “exótico”: “Cães muito pequenos tendem a ter mais problemas imunológicos, ortopédicos e de desenvolvimento, porque suas articulações não são formadas corretamente”.
Além disso, ela conta que, para selecionar rapidamente as características, os criadores recorrem ao acasalamento consanguíneo, que traz sérios riscos à saúde dos animais. “Na mesma ninhada do mini, há filhotes com doenças sérias ou que nem sobrevivem. Mas o comprador não sabe disso”. Sobre as pelagens, um animal filho de dois merle ou de dois arlequim, tende a ser cego e surdo.
O site de doguinhos coreanos assegura vacinação e proteção completa até que os animais cheguem às suas novas casas, e estipula que a expectativa de vida “depende de como for cuidado e espera-se que seja semelhante à de outros cães de sua espécie (que não existe na natureza)”.
Mas não se preocupe: se por alguma eventualidade o cão vier a falecer dentro do período de um ano, tem garantia! Tal qual um carro ou uma TV, ela é válida para casos de problemas cardíacos ou congênitos graves que resultem na morte do animal ou ameacem sua vida. Se for o caso, é fácil acionar o seguro — mai$ dinheiro! O pai ou a mãe de pet deve enviar os laudos de exames e uma foto do animalzinho perecido para comprovar o óbito por essas questões. Isso feito, aí a empresa pode analisar o caso e enviar um novo, com as mesmas especificidades. “Finge de morto, mas é só para ganhar um irmãozinho!”
Na faculdade, você é gato ou cachorro?
 
Por Marina M Caporrino
 
Não faltam testes para tentar nos aproximar mais dos nossos queridos bichinhos de estimação. Por meio desses testes, tentamos determinar se nossa personalidade se assemelha mais à de um gato ou à de um cachorro. Muitas coisas que fazemos no dia-a-dia nos aproximam ou distanciam das personalidades desses animais, e uma coisa que muitos fazem (ou já fizeram) todos os dias e que também é importante para determinar se você é mais gato ou mais cachorro é a faculdade. Por isso, o Claro! foi atrás de questões que envolvem a vivência e as experiências universitárias e traz para você: na faculdade, você é mais gato ou mais cachorro? Faça o teste e descubra! 😉
Nas selvas de pedra habitam criaturas fascinantes — funkeiros, surfistas, hipsters — mas apenas um grupo possui características animais: os furries! Bípedes, peludos e conectados, eles são seres misteriosos, encontrados na maioria das vezes nas profundezas da web.
Mesmo raros, você com certeza já viu um furry. Mickey Mouse, Pernalongas, entre outros personagens famosos, servem de inspiração para a furry fandom — grupo de pessoas adoradoras de animais antropomórficos, ou seja, aqueles que apresentam características humanas, como andar em duas patas, falar e se vestir.
No entanto, na furry fandom, são os humanos que adquirem características animais. Os furries criam personagens animalescos para si mesmos, as chamadas “fursonas” — do inglês, personas com pêlo. Em desenhos, esculturas, histórias e em fantasias personalizadas, esses personagens ganham vida.
Bruna Bogsan é uma das pessoas que deu vida aos furries. Com uma de suas duas fursuits, ou fantasias antropomórficas, ela vive Luna Wolf, uma loba branca do ártico muito descolada e rebelde. “Eu uso as fursuits no dia a dia, para ir ao parque, encontrar outros furries, mas às vezes saio sem fantasia porque também tenho que viver como Bruna”, explica.
Mas nem todos os fursuiters (furries que usam fantasias de suas fursonas) saem na rua vestidos de animais normalmente. Fábio Martins, ou melhor, Arsen Dadrim Rebello, um vira-lata mágico com mistura de labrador e raposa, só aparece em público nos eventos organizados por furries. “O máximo que eu já fiz foi voltar de um evento com a fursuit, mas acompanhado. Sozinho, nunca”, conta.
Isso porque os furries sofrem discriminação. “Tem gente que adora atacar furry. Falam que devíamos nos matar”, divide Arsen, que já sofreu ataques.
Para se divertir como furry e sem medo, Arsen organiza o Furcinema, encontro de furries para assistir filmes com personagens antropomórficos. Outros eventos, como o Furboliche e o FurFest, também são oportunidades de socialização e lazer para eles.
Mas é preciso se dedicar para participar. Os furries costumam passar boa parte de seu tempo melhorando seus desenhos e histórias, estudando a anatomia animal e humana, e economizando dinheiro para suas fursuits – que podem custar de 600 a 5000 reais.
A furry fandom também tem partes obscuras. Existem grupos de furries extremistas, entre eles os “nazi furries”. “Essas pessoas falam que são furries e detestam humanos. Mas, antes de ser furry, você é humano, então não tem sentido falar isso”, contesta Arsen.
Outro lado misterioso da fandom é relacionado a fetiches. Alguns furries produzem suas fursonas com elementos sensuais — bustos extravagantes, roupas íntimas etc. Mas isso não é exclusivo dos furries. “Tudo pode ter uma conduta sexual”, afirma Luna.
“Os furries são um grupo como qualquer outro, mas para pessoas que gostam de animais antropomórficos”, defende Arsen. “Só é ruim quando acham que somos apenas furries. Somos humanos também!”
No início, éramos um só
 
Por Carolina Pulice
 
Em uma forma polimórfica, animais e humanos faziam parte de uma só unidade. E então houve a separação. Animais e humanos passaram a não fazer mais parte do mesmo ser. Mas sua relação ainda mostrava grande poder metafísico. Poder este ainda mantido pelos xamãs.
Há, no xamanismo — prática espiritual entre o homem e os elementos da natureza — uma mistura do sagrado e do natural, do espiritual e do material, do objetivo e do subjetivo, para remediar, cativar, proteger e encantar.
Os elementos da natureza lhes dão força. A troca de fluidos e energias curam os males físicos e psicológicos. A magia dos animais os ajudam nas plantações e na caça.
Mas não são somente os xamãs que podem se comunicar com os animais. Todos temos um animal de poder dentro de nós, aquele que influencia em nossa personalidade, e que nos guiam em nossa vida material.
De acordo com Léo Artése, fundador do portal Xamanismo.com, os espíritos animais se encontram em uma outra realidade espiritual, protegidos por sua sabedoria. Em um nível diferente dos seres humanos, os animais de poder são capazes de nos guiar e auxiliar.
Seja sob a forma de um urso, de uma cobra ou de um tigre, o que está em jogo no xamanismo é a não forma, a interação extracorpórea. Mas o homem urbano trata o animal de uma forma completamente diferente, domesticando-o, imaginando que não haja uma ligação espiritual séria com aquele animal, embora alguns digam saber que há um animal dentro de si.
No Xamanismo, dizer que há um animal em você não é um problema. Porém, é necessário preparar-se para invocar o animal que vive em você, através de um ritual sério e que requer experiência e crença. “As relações entre o xamã e animais são de natureza espiritual, e de uma intensidade mística tal que se torna difícil para a mentalidade moderna, cética, imaginá-la”, complementa Léo.
Fonte:
Kopenawa apud Viveiros de Castro, Eduardo. “A floresta de cristal”. Cadernos de Campo 14/15, 1998, pp. 319-338.
A elipse do feminino
 
Por Carolina Ingizza
 
Você acha que a mulher se assemelha ao lobo? Para Clarissa Pinkola Estés, psicóloga junguiana, essa comparação faz bastante sentido. Em seu livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, de 1992, ela defende essa ideia e propõe maneiras de reaproximar a mulher de seu lado “selvagem”.
Por ser da corrente junguiana (também conhecida psicologia analítica), Clarissa trabalha com conceitos introduzidos por Carl Gustav Jung, como a noção de arquétipo — que para o teórico, é a base psíquica de tudo que existe no mundo, uma espécie de modelo inicial das coisas que nos permite reconhecer e reproduzir tudo.
A autora, por sua vez, escolhe trabalhar especificamente com o arquétipo da Mulher Selvagem, ilustrando-o através de contos que ela selecionou de várias culturas. Ao final de cada capítulo, ela faz uma análise interpretativa da história.
Com isso, Clarissa quer que os aspectos da mulher selvagem voltem a fazer parte da cultura, segundo conta a psicóloga Telma Chirosa. “A autora usa esse arquétipo para tentar retirar as camadas da cultura daquilo que enxergamos das mulheres. Ela quer mostrar que existe uma coisa mais profunda e antiga que diz o que é ser mulher. Algo relacionado a força, instinto, cuidado. Por isso ela recorre aos contos, ao animal, à intuição”.
Daniela Bernardes — psicóloga que trabalha com os contos selecionados por Clarissa — explica que o uso de lendas, mitologias e arquétipos é algo bastante comum para os seguidores de Jung. “Quando narro uma história ou um filme, costumo traçar uma conexão entre a vida da paciente e a do personagem. Às vezes não é preciso, pois a própria pessoa percebe as semelhanças, e quando isso ocorre, uma espécie de catarse acontece”.
Já a comparação entre mulher e lobo surgiu após Clarissa observar esses animais por alguns anos. Daniela conta que a escritora percebeu certa semelhança ao observar que os lobos vivem em famílias e cuidam uns dos outros, mas que nem por isso são frágeis. “É bem interessante esse acolhimento que há entre os lobos e que ela também vê nas mulheres. É um acolhimento relacionado à força”.
Ao longo do livro, a autora defende também que a mulher possui uma força inata que foi se perdendo ao longo do tempo. “Isso ocorreu muito com o fim das sociedades de organização matriarcal, porque nelas o feminino era sagrado, já que dava a vida”, diz Daniela. Ao entrar em sociedades patriarcais, para controlar a sexualidade e a força feminina, foi necessário afastar as mulheres do arquétipo da “Mulher Selvagem”.
Para Kátia Cunha, terapeuta e condutora de um grupo de análise do livro em Uberlândia, o livro é tão unânime na crítica por ser baseado na interpretação de contos. “É o que Umberto Eco chamou de “obra aberta”, aquela que tem uma “continuidade” com a participação do leitor e do público da obra de arte”.
As leitoras, por sua vez, relatam ter superado fases complicadas da vida e contam que melhoraram sua percepção acerca de si mesma após a leitura. Lidia Helena, bancária, conta que o leu após um término de relacionamento difícil e que encarava os capítulos como soluções para cada problema da vida. “Vi naquele livro uma forma de libertação. A autora fala de como as mulheres vêm sendo oprimidas e obrigadas a viver algo que não desejam. Na época, antes do livro, não tinha idéia de que também vivia assim. Achava que era a única forma de se viver, agradando pais, chefes, namorados e a sociedade”.
Doutores do afeto
 
Por Victoria Del Pintor
 
Após receberem uma higienização especial, cães carismáticos adentram as portas de um hospital infantil. Lá, entram nos quartos e recebem, na mesma medida em que dão, carinhos de crianças que passam por tratamentos difíceis, como uma quimioterapia. Fazem o mesmo em asilos, com idosos que carecem de afeto. A prática, que usa cães, cavalos, peixes, tartarugas e pássaros, aumenta o sentimento de afetividade e a socialização em que está sendo tratado.
É a chamada Terapia Assistida por Animais (TAA), que utiliza animais para auxiliar na reabilitação de pacientes, nas áreas psíquicas (como estresse e depressão) e sociais, e também na reeducação física e sensorial. Cavalos, por exemplos, são utilizados para estimular respostas do sistema nervoso central enquanto pacientes com problemas motores cavalgam neles. É também utilizada em situações educacionais, em que o animal entra como uma espécie de co-educador e auxilia na socialização de crianças com pouca desenvoltura.
Apesar de parecer algo simples e prazeroso, a terapia é contestada por alguns ativistas que pregam a liberdade dos animais. Segundo eles, a zooterapia seria uma forma de exploração. Em entrevista, Robson Fernando, dono do blog consciencia.blog.br, expressou sua opinião. Segundo ele, a prática é inevitavelmente uma forma de usar animais em prol de interesses humanos, e tem como premissa “a crença moral de que eles são nossos e podemos usá-los para tirarmos proveito”.
Juliana Camargo, da ONG AMPARA Animal, diz que não deve existir o abuso em forçar o animal a fazer aquilo que ele não quer fazer. Segundo ela, cães são mais recomendados para a zooterapia porque são animais que gostam de ser acarinhados e do contato humano. Ela ainda acrescenta: “Somos extremamente contra o uso de silvestres, pois são animais que deveriam estar na natureza”. Juliana ainda diz que na relação com os cães, quando é diagnosticado seu perfil da forma correta, isso também se torna um momento de prazer para ele.
“O ativista precisa conhecer um pouco. Eu vou deixá-lo de lado”, respondeu Maria de Fátima Martins — Professora Doutora da USP e coordenadora do Laboratório de Pesquisa, Ensino e Extensão em Zooterapia e Helicicultura, Campus Pirassununga —, às críticas que a zooterapia recebe. “Quando um cachorro é adotado, também não se sabe se ele está contente com isso”, exemplifica. Ela afirma que apenas os animais que apresentam o perfil correto, e respondem positivamente através de seu comportamento, são utilizados na terapia.
O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.