Há situações que nos põem em face a invejáveis capacidades animais, inalcançáveis: a capacidade de voar, de atingir grandes alturas, de viver só, flutuando entre árvores, o céu e as coisas. Existe, no entanto, um momento em que essas diferenças abrandam — e, quem sabe, um ser humano pode ser pássaro.
Aos 42 anos, a única resposta que Yuri Cordeiro, desde 2007 praticante do wingsuit — ramo do paraquedismo que utiliza um macacão com asas para realizar saltos —, tem quando fala sobre a sensação de voar é que tem grande emoção. “Sinto muita liberdade, apesar de bater um medo”, pondera ele.
A razão não pode ser outra: com um equipamento que eleva o potencial aerodinâmico, quem salta pode atingir 200 km/h em pleno ar, em meio à queda livre que antecede a abertura dos paraquedas. O salto pode ser praticado de um avião, de montanhas ou penhascos.
O traje do esporte, rijo e alado, não é “a coisa mais confortável do mundo” — como afirma Yuri —, tecido em material sintético, inflexível. “Parece mais uma camisa de força”, diz ele, descrevendo a veste.
Largamente disseminado, o wingsuit já angariou adeptos em vários lugares, e o próprio Yuri já empreendeu saltos no estrangeiro: além da terra brasilis, planou na Noruega, Chile, Itália, França, Suíça e China.
A brincadeira também agrega riscos: em 2016, o wingsuit teve um recorde de 36 mortes. Em esporte que alcança tais velocidades, seria de bom senso que a segurança não se negligenciasse. “O problema é que não há controle e as pessoas fazem como querem”, pontua Yuri, atestando que a realidade não segue sensatas recomendações.
Caso se esteja em um avião, o voador pode fazer sua queda até, no máximo, mesmo da altitude de quatro mil metros . Se preferir se jogar de uma montanha, a maior altitude possível é de 2800 metros. Neste exato momento, em ambas as situações, ao olhar para o alto, tomaríamos o voador como um pássaro, um avião, um ponto ou um super-herói inexistente — mas talvez seja mesmo apenas um homem imitando um bicho.