logotipo do Claro!

 

Uma mão na moda

 

Por Heloisa Iaconis

 

No brejo do tempo, brava que nem, a fim de bradar contra esse breve breque de vendas, brecha encontrei e criei a tal da não brega queima. Ó, sem dó nem pó, décadas irão dividir este brechó. Simples, explico, meu bem: cá comigo, costurei botões meus e alinhavei ideia. Você me ajuda? Sozinha dou conta não – sou oitentinha. Desfilar no já desfilado com novos calçados de olhos. Você me ajuda? Ainda bem, meu bem! Vamos? Toda moda roda, roda e volta.
Vovó Gabrielle estreou o amor vestuditário – adoração pelas roupas que fia o fio das gerações de minha família. Vovó passou pela Belle Époque, repleta de tons pastéis ao lado de renda, chamalote, musselina, tafetá, chiffon e outros, outros, outros tecidos. Ela viveu a eliminação dos espartilhos por Paul Poiret – ufa! – e o advento do decote “V”. Mamãe Jeanne, minimalista no ser e no vestir, acompanhou, por um lado, a escalada de Chanel; mas, por outro: bang!, Primeira Guerra; crack!, quebra da Bolsa; boom!, Segunda Guerra. Fugidas do redemoinho, viemos para terra do samba. Toda moda roda, roda e volta – e eu, do danado desse samba, nunca mais me separei, meu bem.
Firulas no bolso, sim? Mão na moda! Pegue a mala de couro, por favor. Obrigada, meu bem. Aqui estão os itens que irão decorar a vitrine: tendências das épocas abarcadas pelo saldão. Desenganche, gancho! Pronto: mar de lembranças aberto. Jaqueta de couro, ah!, não pode faltar: vai que surge um jovem rebelde e bonito, estilo James Dean, querendo comprá-la? Bota no mostruário! E por falar em jaqueta: uma justa que acentua a cintura, saia longa e plissada, chapéu e saltos. This is a new look!, como disse Dior. Toda moda roda, roda e volta.
Década de 60: este vestido tubinho, engenho de Yves Saint Laurent, entra; a minissaia de Mary Quant, também. Brincadeira entre amigas: eu era Brigitte Bardot; Sabrina, Audrey Hepburn. Risadas garantidas, meu bem, você mal imagina. No canto esquerdo, mix mil: punk, hippie, glam rock – eis os anos 70. Coloque aí: a calça boca-de-sino e as batas com estampas étnicas. Zuzu, o meu anjinho de filha, nasceu nesses meandros de revolução sexual e ditadura. Nessa fase, ostentava o corte “pigmaleão” como o de Tônia Carrero, acredita? Toda moda roda, roda e volta.
Mudou o período e continuei sendo noveleira, meu bem: 1985 e eu lá, cheia de turbantes, lenços e acessórios grandes à la Viúva Porcina. Cores muitas e vibrantes! Aliás, o colar pink está no manequim! Achei collants, polainas e uma sandália Melissa (plástico dói-que-dói). Vitrine adentro! Fim do século: agrupe a calça jeans cintura alta e o tênis All Star (todo vermelho como um astro, por hora, não gasto). A minha neta, Stella, ainda hoje, anda desse jeitinho e, palhaça que é, diz ser Rachel Green. A colega dela, gargalham as duas, prefere o papel de Carrie Bradshaw. Fenômeno que é fenômeno, das roupas à farra, é bem assim: roda, roda e volta. (Engraçado: já falei isso?).

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com