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Sem Rótulos

 

Por Karolina Monte e Rodrigo Tammaro

 

O amor não tinha cor no início do relacionamento de Vinícius e Mariane Martins. Sequer passava pela cabeça dela, uma mulher negra, as futuras conversas sobre interracialidade que viria a ter com o primeiro namorado. Essas conversas ainda acontecem, mesmo após dois anos e meio de namoro.

No começo, nomear as discordâncias entre eles foi difícil. Depois, Mariane e Vinícius se deram conta de que muitos dos problemas que enfrentavam no relacionamento estavam ligados ao fato de ela ser negra e ele branco.

A discussão sobre interracialidade permeou muitos âmbitos de convivência mútua do casal: as experiências eram as mesmas, mas não as atenções. Mariane se preocupava mais com o julgamento de amigos e familiares. A família dela, aliás, ficou receosa com o fato de ela namorar um homem branco.

Para a pesquisadora em Relações Étnicas e Contemporaneidade, Edilene Machado Pereira, essa preocupação faz parte de uma subjetividade das mulheres negras. Após pesquisar relações de gênero, raça e afetividade, Edilene constatou que essas mulheres são preteridas e rejeitadas como parceiras amorosas: “nós somos trocadas pelas mulheres brancas porque elas têm um perfil mais aceito na sociedade. E isso tem implicações muito fortes que afetam o emocional, a autoestima, a saúde psicológica e a existência dessa mulher enquanto mulher negra”, explica.

Mariane não se considera palmiteira, mas poderia ser rotulada dessa maneira na internet. Palmitagem é uma palavra popularizada no Twitter para definir a relação de homens e mulheres negras com pessoas brancas.

O termo é criticado pelo casal e também pelo estudante João Gabriel, o JG. Por escolha própria, o jovem passou anos sem se relacionar com mulheres brancas, mas acredita que o rótulo empobrece o debate. “A palavra bloqueia muitas conversas que poderíamos ter sobre outros aspectos da luta do povo preto”, afirma.

Ele conta que, naquele momento da vida, optou por manter apenas relações afrocentradas por acreditar que essa seria mais uma forma de se aliar às lutas históricas e sociais das mulheres negras. Edilene avalia como justificável e compreensível essa escolha. Além disso, ela afirma que nos relacionamentos afrocentrados as pessoas negras estão menos suscetíveis a agressões psicológicas e amorosas.

JG voltou a se relacionar com mulheres brancas por acreditar que a afinidade e personalidade são mais importantes que a cor de pele. Edilene Pereira, assim como Mariane e Vinicius também mantém relações inter-raciais.

Diante das próprias experiências, eles concluem que as relações afrocentradas não são necessariamente melhores. São apenas escolhas e maneiras diferentes de viver uma relação.

Visões Futuras

 

Por Amanda Marangoni e Lara Paiva

 

O futuro nunca cumpre tanto quanto promete, afirma o ditado popular. Mas isso não impede a especulação e a imaginação de correrem soltas. O campo da ficção científica esboça, de variadas formas, o que há por vir: desde carros voadores e viagens intergalácticas, até histórias distópicas. O gênero provoca reflexões e expectativas sobre o que, de fato, o amanhã pode reservar.

As previsões criativas de obras de ficção científica impressionam muitas audiências. A franquia Star Wars estreou em 1977 e até hoje preserva sua popularidade: o novo filme da saga conquistou o topo da bilheteria mundial em 2015. Mesmo com décadas de distância, a ficção científica perpassa gerações e influencia a expectativa de espectadores e fãs de diferentes idades. 

A saga original foi realizada em meio à Guerra Fria, refletindo o clima armamentista e a corrida espacial. Gerson Lodi-Ribeiro, autor de ficção científica, cresceu durante o período e lembra que acontecimentos como a viagem do homem à lua causaram impacto. Mesmo com a tensão no campo da tecnologia hoje em dia, o futuro assume um caráter positivo quando comparado à realidade de ameaça nuclear. “Alguém poderia apertar um botão e tudo acabaria em minutos.”

Futuróloga e autora de ficção científica, Lidia Zuin aponta que o contexto sócio-cultural afeta as narrativas do gênero como um todo e servem de metáforas para questões concretas da nossa realidade. “É uma forma mais acessível de endereçar temas complexos, como inteligência artificial, de forma que mais pessoas possam entender e, também, perceber que são afetadas”, explica Zuin, sobre sua abordagem na futurologia.

As visões futuras da ficção científica não são proféticas, mas isso não significa que sua influência é puramente fantasiosa. Escritores criam variadas realidades e futurólogos contemplam inúmeras previsões sobre o que acontecerá. Para além de sua veracidade, as perspectivas para o amanhã afetam a maneira como as pessoas enxergam e se relacionam com a realidade presente.

Colaboradores: Lara Soares e Theo Cardoso, estudantes e fãs de ficção científica; Márcio Dala Côrte, profissional de tecnologia da informação.  

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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