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o fim da picada

 

Por Filipe Narciso e Mariana Marques

 

Arte: Pedro Ferreira e Rebeca Alencar


Antenas, ferrão e um corpo menor do que um dedo, listrado nas cores preto e amarelo. Poucos
animais são tão fáceis de reconhecer quanto as abelhas. E você não pensou em uma abelha qualquer, mas sim na Apis mellifera, espécie já protagonista do imaginário coletivo, também conhecida como abelha europeia. 

O Brasil, no entanto, possui uma enorme diversidade de abelhas sem ferrão. Com visuais distintos, essas espécies se destacam pela polinização por vibração. Segurando suas antenas, elas mexem seus pequenos corpos de artrópode até que o pólen se desprenda e chegue às plantas, permitindo sua reprodução.     

O processo, no qual as elas são especialistas há alguns milênios, é um dos mais conhecidos serviços de ecossistemas. O termo científico pode parecer complexo em primeiro momento, mas é simples de entender: é quando uma espécie realiza em seu cotidiano algo que beneficia direta ou indiretamente o ecossistema em que vive. E o resultado é positivo: plantas polinizadas por abelhas experts são mais produtivas e possuem frutos de melhor qualidade. 

Mas esse não é o único segredo que se esconde por trás do bater de asas de uma abelha. Esses insetos voadores vivem em sociedades organizadas de maneira complexa e a divisão social do trabalho é uma das características que mais chama atenção. 

Na maioria das colmeias, uma operária ocupa várias funções de acordo com a sua idade. Ser babá das larvinhas, resfriar a colmeia com o bater das asas ou o uso de sua saliva, recrutar outras abelhas – será que elas também são submetidas a um alistamento militar? –, proteger-se de predadores, descobrir um local para morar e, claro, polinizar as plantas são alguns de seus possíveis trabalhos. Quando você observa uma operária se ocupando de recolher o néctar das flores, saiba que está, muito provavelmente, olhando para uma abelha bastante  madura, que já teve vários empregos em sua vida.   

Mas essas operárias correm o sério risco de enfrentar desemprego estrutural, pois seus habitats e até mesmo suas populações estão desaparecendo. Além do mais, as condições de trabalho pioraram significativamente devido ao avanço do agronegócio, e com ele o uso de agrotóxicos e pesticidas, nas últimas décadas. Adicional por insalubridade? Não por aqui. 

Com a diminuição da população de abelhas, todos os ecossistemas, que no Brasil já são seriamente ameaçados pelo aumento exponencial das plantações de commodities, são afetados. A perda da vegetação natural, o desequilíbrio na cadeia alimentar e o aumento da aridez do solo são algumas das consequências da ausência dos insetos polinizadores. 

Até mesmo a menor das abelhas pode fazer toda a diferença para uma espécie de planta, que por sua vez pode ser essencial para muitas espécies de animais. Essa reação em cadeia é capaz de impactar biomas inteiros, criando problemas ambientais de longa escala. Mesmo diante de tantas precarizações, essas diminutas trabalhadoras seguem existindo, e  a natureza, resistindo.

colaboraram:

Mariana Victorino Nicolosi Arena, doutoranda em ecologia pela Universidade de São Paulo com estudos focados nas relações entre áreas urbanas e abelhas sem ferrão;

Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, professora sênior do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e bióloga referência no estudo de abelhas e outros insetos polinizadores.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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