Arte: Bianca Muniz; fotos: Pixabay, Freepik
Muitas vezes, jogar defensivamente é a única maneira de derrotar um adversário poderoso e cheio de craques no futebol, em uma típica batalha de Davi contra Golias. Contudo, essa não é uma tarefa fácil: os jogadores devem se comportar como peças em um tabuleiro de xadrez, fechando todos os espaços do campo e resistindo para que o adversário não crie oportunidades de gol.
Os zagueiros ficam postados de forma mais recuada, como cães de guarda entre os laterais, que, como o nome sugere, ocupam os lados. Já os meias e atacantes ocupam espaços mais à frente para dificultar a armação de jogadas do oponente. Enquanto isso, o goleiro fica embaixo das traves como o último bastião defensivo, responsável por jogar um balde de água fria no atacante adversário.
Esse estilo de jogo, se bem executado, é eficiente, mas não costuma agradar. Qualquer um que vê uma partida espera muitos gols, dribles e lances bonitos. No entanto, quando um dos times joga na retranca — com todos na defesa —, é comum que a partida termine sem gols ou com uma vitória magra de 1 a 0 para algum dos lados.
Porém, quem opta pelo jogo defensivo não está preocupado em dar espetáculo, e sim em vencer. Por isso, essa estratégia geralmente é adotada por equipes mais fracas em uma tentativa de resistir e derrotar oponentes mais fortes.
Ainda assim, a consagração de um time retrancado é possível, “mesmo que não seja tarefa fácil e dependa de resultados”, conta Celso Unzelte, comentarista esportivo da ESPN.
A Itália, em 2006, ganhou a Copa do Mundo jogando dessa forma. A equipe atuou de modo equilibrado durante o torneio, mas na final, frente ao elenco francês recheado de estrelas, se viu forçada a formar uma muralha defensiva. Com nomes como Cannavaro — único zagueiro a ser eleito melhor jogador do mundo pela Fifa — e Buffon, eleito melhor goleiro da competição, a seleção sufocou o adversário e conquistou o tetracampeonato mundial.
Mais recentemente, pode-se citar a conquista da Libertadores da América pelo Corinthians em 2012, de forma invicta, tendo sofrido apenas quatro gols em 14 jogos. Como conta Unzelte, o clube era traumatizado com a competição por seu histórico de derrotas, e o divisor de águas para que a equipe acreditasse no título foi justamente uma defesa do goleiro Cássio.
Nas quartas de final do torneio, o time enfrentou o Vasco. O placar estava empatado, até que um erro de passe crucial por parte do Corinthians quase pôs tudo a perder. Os segundos que seguiram o lance pareceram uma eternidade para os 35 mil torcedores no estádio do Pacaembu. Enquanto isso, o atacante do time carioca, sozinho, carregava a bola em direção ao gol. Quando ele chutou, tudo já parecia perdido, mas Cássio fez uma importante defesa com a ponta dos dedos e manteve o time no páreo.
Daniel Teixeira, torcedor do Corinthians, viu o lance da arquibancada do estádio. Ele ainda lembra da emoção: “o estádio explodiu em alegria, foi como se tivesse sido marcado um gol”.
Defesa fraca, cobrança forte
Mas como esse estilo não é o mais vistoso, quando os resultados não vêm, as críticas são fortes. Após fraco desempenho em 2019, o que o técnico do Palmeiras mais ouviu foram gritos de “Fora Mano Menezes” e “retranqueiro” por parte da torcida. O resultado foi sua demissão após apenas três meses de trabalho.
Como explica Danilo Benjamim, treinador com passagens por clubes como Athletico-PR e Coritiba, “é mais complicado construir uma parede do que a destruir”. Por isso, o sucesso no futebol é muito atrelado a um jogo bonito e ofensivo, como o do Santos de Neymar, que conquistou diversos títulos entre 2010 e 2012 goleando boa parte de seus adversários.
Mesmo com essa cobrança por ofensividade e gols, o estilo defensivo ainda traz muitas alegrias. Uma vitória sofrida costuma ter um sabor muito bom para o torcedor.