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Imagine um ambiente silencioso…

 

Por Giovanna Simonetti

 
Fotografia: Wender Starlles

Fotografia: Wender Starlles

Vá lá. Feche os olhos e pense no silêncio. O máximo de silêncio possível. Pronto?

Quais sensações vieram à mente? Tranquilidade, medo, desconforto? 

Uma das principais sensações associadas ao silêncio é o relaxamento. Dentre várias opções para lidar com estresses, a busca por quietude é quase inconsciente e se manifesta de diferentes formas – como um simples fechar de portas, o colocar de fones de ouvido e até viagens pela natureza, retiros e exercícios de meditação. 

Na própria meditação, o silêncio é elemento fundamental. Não o exterior, como estamos acostumados a pensar. Sim, um ambiente silencioso ajuda. Mas importante mesmo é o silêncio interior, diz André Fukunaga, professor de meditação. Segundo ele, o silêncio da mente é essencial para usufruir dos benefícios da atividade (entre eles tranquilidade, foco e autoconhecimento).

A praticante de meditação Stella Garcia conta que silêncio foi fator ativo para o melhor entendimento de suas emoções. Mas o processo não foi exatamente silencioso: ao atingir o silêncio, os próprios pensamentos foram amplificados. “O mais difícil foi ouvir tudo o que penso e ver como somos barulhentos”, relata. 

A bancária Carolina Beolchi teve uma experiência similar em sua viagem pela Floresta Amazônica. Por 15 dias, ela se isolou na selva, sem celular nem energia. “O que eu imaginava ser silencioso, se mostrou mais barulhento do que uma metrópole”, afirma. Sem distrações, tudo era ouvido com mais intensidade. 

Mas a busca por quietude pode também ser assustadora. “O silêncio pode te colocar em contato com coisas que você talvez nem queira”, revela Carolina. Ao mesmo tempo que nos conhecemos, podemos enfrentar traumas, angústias e sentimentos indesejados.

E então chegamos a face oposta ao relaxamento. O silêncio pode carregar uma aura do desconhecido, do estranho. Seu uso no cinema é um ótimo exemplo. O que precede o susto em um filme de terror? Todos nós já ficamos aflitos com cenas em que só é possível ouvir passos, a porta se abrindo ou janelas batendo. Ou quando alguém anda por uma rua deserta – o que é angustiante mesmo na vida real. É a ausência de sons que ajuda a criar a atmosfera de tensão. 

 

Mas não é apenas sobre medo. A principal sensação dessa face é o incômodo. Nossos ouvidos são naturalmente adaptados a procurar sons e a falta deles causa uma ruptura. É como um personagem no cinema que dá um grito sem voz. Ou uma explosão sem barulho. Causa estranheza. 

Talvez não seja tão ruim não poder viver em silêncio absoluto…


Colaboraram: Nathália Janovik, psiquiatra, Marco Dutra, cineasta, e Eduardo Santos Mendes, professor do curso de audiovisual da ECA-USP.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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