Com a sua idade, você já deve saber como os bebês são feitos. Mas e se te perguntarem sob quais condições são produzidas as suas roupas, os seus eletrônicos, a sua comida ou o seu carro? Você está ciente de como tudo isso foi parar nas suas mãos?
Com dados assombrosos, a plataforma Slavery Footprint estima que cerca de 42 escravos estejam por trás dos bens e serviços consumidos por um jovem de classe média. A partir da quantidade de produtos que você possui, o programa calcula quantas pessoas em situação análoga à escravidão estão envolvidas na produção.
E se engana quem acredita que apenas a indústria da moda perpetua a escravidão. Só na China, a jornada de trabalho de fabricantes de bolas de futebol chega a 21 horas por dia. Em Uttar Pradesh, Índia, mais de 200 mil crianças trabalham no mercado de tapetes.
Estima-se que ao redor do mundo cerca de 27 milhões de pessoas sejam traficadas e vivam sob algum tipo de exploração. Para se ter uma ideia, esse número é 2,5 vezes maior do que a população de Portugal, país que nos deixou como herança uma sociedade racista e escravista, que claramente não sucumbiu ao riscar da pena da Princesa Isabel.
O professor Jorge Souto Maior, da Faculdade de Direito da USP, lembra que, nos anos 1990, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) interpelou o Brasil para que algo fosse feito em relação às milhares de denúncias ao trabalho escravo. Após a bronca, em 1994, foi criada uma repartição no Ministério do Trabalho para cuidar do assunto. Dez anos mais tarde, três fiscais e um motorista do Ministério foram assassinados ao supervisionarem uma fazenda em Unaí, Minas Gerais.
“De lá para cá, o trabalho escravo continua existindo e nenhuma pessoa foi presa pelo crime. O máximo a que se chega é a ‘libertação’ dos escravos e a determinação de que o escravista pague os direitos trabalhistas que já deveria ter pago”, lamenta Souto Maior.
Só na cidade de São Paulo, seis empresas foram descobertas entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, nas regiões do Brás, Bom Retiro, Lapa e Vila Bela Vista.
Pois é, pertinho da sua linha de trem ou metrô. Você já fez a conta de quantos escravos estão no seu dia a dia?