Nas selvas de pedra habitam criaturas fascinantes — funkeiros, surfistas, hipsters — mas apenas um grupo possui características animais: os furries! Bípedes, peludos e conectados, eles são seres misteriosos, encontrados na maioria das vezes nas profundezas da web.
Mesmo raros, você com certeza já viu um furry. Mickey Mouse, Pernalongas, entre outros personagens famosos, servem de inspiração para a furry fandom — grupo de pessoas adoradoras de animais antropomórficos, ou seja, aqueles que apresentam características humanas, como andar em duas patas, falar e se vestir.
No entanto, na furry fandom, são os humanos que adquirem características animais. Os furries criam personagens animalescos para si mesmos, as chamadas “fursonas” — do inglês, personas com pêlo. Em desenhos, esculturas, histórias e em fantasias personalizadas, esses personagens ganham vida.
Bruna Bogsan é uma das pessoas que deu vida aos furries. Com uma de suas duas fursuits, ou fantasias antropomórficas, ela vive Luna Wolf, uma loba branca do ártico muito descolada e rebelde. “Eu uso as fursuits no dia a dia, para ir ao parque, encontrar outros furries, mas às vezes saio sem fantasia porque também tenho que viver como Bruna”, explica.
Mas nem todos os fursuiters (furries que usam fantasias de suas fursonas) saem na rua vestidos de animais normalmente. Fábio Martins, ou melhor, Arsen Dadrim Rebello, um vira-lata mágico com mistura de labrador e raposa, só aparece em público nos eventos organizados por furries. “O máximo que eu já fiz foi voltar de um evento com a fursuit, mas acompanhado. Sozinho, nunca”, conta.
Isso porque os furries sofrem discriminação. “Tem gente que adora atacar furry. Falam que devíamos nos matar”, divide Arsen, que já sofreu ataques.
Para se divertir como furry e sem medo, Arsen organiza o Furcinema, encontro de furries para assistir filmes com personagens antropomórficos. Outros eventos, como o Furboliche e o FurFest, também são oportunidades de socialização e lazer para eles.
Mas é preciso se dedicar para participar. Os furries costumam passar boa parte de seu tempo melhorando seus desenhos e histórias, estudando a anatomia animal e humana, e economizando dinheiro para suas fursuits – que podem custar de 600 a 5000 reais.
A furry fandom também tem partes obscuras. Existem grupos de furries extremistas, entre eles os “nazi furries”. “Essas pessoas falam que são furries e detestam humanos. Mas, antes de ser furry, você é humano, então não tem sentido falar isso”, contesta Arsen.
Outro lado misterioso da fandom é relacionado a fetiches. Alguns furries produzem suas fursonas com elementos sensuais — bustos extravagantes, roupas íntimas etc. Mas isso não é exclusivo dos furries. “Tudo pode ter uma conduta sexual”, afirma Luna.
“Os furries são um grupo como qualquer outro, mas para pessoas que gostam de animais antropomórficos”, defende Arsen. “Só é ruim quando acham que somos apenas furries. Somos humanos também!”