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Furta-cor (ou a inesperada virtude da iridescência)

 

Por Guilherme Eler

 

 

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Sim, é aquele arco-íris que a gente vê em bolhas de sabão ou manchas de óleo.

 

A iridescência, popularmente conhecida como furta-cor, é um fenômeno óptico possibilitado por outras duas ocorrências físicas: o espalhamento e a interferência dos raios de luz.  

 

Enxergamos a luz do Sol na cor branca porque ela é composta por ondas de todas as cores de nosso espectro visível. Tais ondas variam entre si no comprimento e frequência, e, portanto, se comportam de forma diferenciada. Isso explica o fato de a radiação solar ser mais propícia a sofrer mudanças de trajetória.

 

Quando atingem a camada superior de uma película fina, como as paredes de uma bolha de sabão, alguns raios de luz sofrem refração. Ao voltarem para o meio exterior, podem associar-se a raios que refletiram na superfície da bolha. Essa combinação de ondas produz uma cor. Acontece aqui um tipo de interferência, chamada de construtiva.  

 

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Como a superfície da bolha é irregular e o ângulo de reflexão dos raios é variável, várias cores são produzidas. Tem-se então o efeito de arco-íris, que muda de acordo com a posição de quem observa. É isso que chamamos de furta-cor.

 

 

As cores possuem papel muito importante na comunicação de animais. A maioria delas tem origem pigmentária, explicada pela composição química das penas, escamas, etc. Mas as propriedades físicas também são capazes de influenciar como os bichos são vistos na natureza, seja por predadores ou por potenciais parceiros. O que pode ser considerado uma verdadeira vantagem evolutiva.

 

É o que acontece com certos insetos e determinadas espécies de aves, como o pavão (Pavo cristatus), o beija-flor de peito azul (Amazilia lactea) e o tiziu (Volatinia jacarina).

 

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As cores estruturais são produzidas a partir da interação da luz com estruturas muito pequenas que compõem as penas desses animais. Elas possuem diferentes índices de refração e são responsáveis por reforçar a reflexão de determinados comprimentos de onda. A aparência das plumagens, com isso, apresenta coloração naturalmente iridescente.

 

Uma pesquisa  estudou o comportamento nupcial de tizius, muito comuns no Brasil e América Latina, e pôde concluir que as características de coloração da plumagem desses pássaros estão associadas à qualidade individual dos machos. Em estação reprodutiva, estes costumam apresentar plumagem negro-azulada iridescente.  

 

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Os pássaros que possuem cores mais brilhantes, intensas e próximas da frequência ultra-violeta,  tendem a levar vantagem na competição entre os machos da espécie. Os processos envolvidos no acasalamento, desde a corte até o momento da cópula, também são facilitados. Se sobreviverem  à época de reprodução, estão livres para passar a seus descendentes a habilidade de emular um arco-íris a partir da luz do sol. Roupagem acessível a poucos.

 

As borboletas morpho azuis , em repouso, apresentam uma cor marrom meio pálida. Essa coloração  é uma  grande vantagem no quesito camuflagem, por possibilitar que elas passem discretas entre folhas secas e galhos. A parte interior de suas asas, no entanto, possui escamas capazes de alterar o tom para um azul brilhante, também por meio da iridescência. Ao bater as asas durante o voo, as mudanças rápidas de cor contribuem para que as morpho azuis sejam uma presa difícil de ser perseguida. Isso leva seus predadores naturais a preferir concentrar seus esforços em outros insetos.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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