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Alinhamento de chakras: o que é e como fazer

 

Por Laura Capelhuchnik

 

Os chakras são centros energéticos distribuídos pelo corpo, originários das escrituras sagradas do hinduísmo – a palavra chakra significa “roda” em sânscrito e, não à toa, eles estão em constante movimento. Sua comunicação se dá por canais condutores, chamados Nadis, por onde passa nossa energia vital. De acordo com a terapeuta holística Simone Kobayashi, eles representam nossos “centros magnéticos vitais, que fazem parte da natureza sutil do ser humano”, e por isso, exercem tanta influência sobre a saúde e o comportamento.

 

O corpo, em suas diversas facetas – isto é, física, emocional, espiritual e mental – está sob responsabilidade dos chakras. De acordo com os textos védicos, sagrados no hinduísmo, existem mais de 80 mil desses centros energéticos localizados em nossa geografia, trabalhando diariamente para o garantir a manutenção da casa (que é você). Os mais importantes, no entanto, são sete, que estão localizados ao longo da coluna vertebral. Cada um tem uma área de atuação específica, e o conjunto contempla as sete principais glândulas do sistema endócrino, entre outros componentes da estrutura humana.

chakras no corpo

Para que haja harmonia entre as funções do corpo, é preciso que os chakras estejam alinhados. O equilíbrio de cada ponto vital pode ser trabalhado por meio de diversas técnicas, não necessariamente vinculadas ao hinduísmo. Entre elas, o reiki, a meditação, a terapia com cristais e a cromoterapia. Podemos equilibrá-los sozinhos ou coletivamente; à distância – alguns centros especializados propõem consultas virtuais e tratamentos por meio de visualizações criativas, com mandalas e cores – ou na presença de um terapeuta. Tudo vai depender da linha adotada e do tratamento com o qual cada um se identifica. Cada chakra tem sua pedra, cor e mantra, o que facilita o exercício da harmonização.

 

Mas atenção: apesar de ser possível estabelecer contato com os chakras no conforto de seu lar, essa não é uma atividade (totalmente) para amadores. De acordo com Simone Kobayashi, “não é arriscado ou perigoso quando se busca mais conhecimento e aprofundamento.[Mas] também é importante salientar que normalmente temos uma visão pouco clara de nós mesmos, o que nos faz achar que [o problema] é ‘isso’ ou ‘aquilo’ e podemos estar errados. Por isso, uma análise energética [com um profissional] é a melhor forma de buscar onde precisamos harmonizar, energizar, equilibrar ou limpar.” Mas ela garante: “despertar e ativar sucessivamente cada um dos chakras é abrir as portas para um novo mundo, o do autoconhecimento.”

 

A convite do Claro!, a repórter Isabelle de Almeida realizou o primeiro contato com seus sete chakras principais, a partir da meditação e de uma série de exercícios de yoga. O relato da experiência e a lista completa de posições você pode ver aqui!

LISTA DE CHAKRAS

 

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CHAKRA BÁSICO – Muladhara

De cor vermelha, o chakra básico tem como elemento principal a terra. Ele é responsável pela manutenção da vitalidade, disposição e conexão com o mundo material. Está localizado na região do períneo. Quando desalinhado, pode causar alienação, falta de ânimo ou excesso de apego ao mundo material.

 

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CHAKRA SACRO – Svadhisthana

O chakra sacro fica localizado na região pubiana, é responsável pela manutenção de nosso sistema reprodutor. Ele exerce poder sobre a fertilidade, os impulsos sexuais e também sobre nossa capacidade criativa. Boas ideias são impulsionadas pelo chakra sacro. Sua cor é laranja.

 

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CHAKRA UMBILICAL – Manipura

Fica a três centímetros do umbigo e está intimamente ligado ao sistema digestório, em especial ao pâncreas. Seu elemento é o fogo. É nele também onde se concentra a energia do poder pessoal, da comunicação entre mente e corpo físico. Por ser central, também desenvolve um papel importante na distribuição de energia pelo corpo. Quando desalinhado, pode tornar a pessoa narcisista ou, ao contrário, muito insegura.

 

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CHAKRA CARDÍACO – Anahata

O chakra cardíaco é responsável por fornecer energia ao sistema circulatório e cardiorrespiratório. Também está relacionado à glândula timo, que é componente do sistema imunológico. No campo comportamental, tem a função de reger relações afetivas e sentimentos. Quando desalinhado, pode causar tanto problemas emocionais quanto cardíacos ou imunológicos. Alegria fortalece o chakra cardíaco. E atenção: sua cor é verde, não vermelho.

 

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CHAKRA LARÍNGEO – Vishuddha

É o chakra azul. Fica próximo à garganta e comanda as funções da tireóide. Está relacionado à nossa capacidade de expressão, corporal e verbal. Portanto, quando desalinhado, pode gerar dificuldade na comunicação, insegurança ou problemas na faringe, laringe e nos demais componentes da região.

 

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CHAKRA FRONTAL – Ajna

Pode ser representado em azul ou branco e está localizado na parte superior do rosto. É responsável pelo sistema nervoso e está relacionado também à visão. O chakra frontal, conhecido também como chakra do conhecimento, tem a ver tanto com a nossa capacidade de enxergar o mundo material quanto com a intuição e o sentimento. Em equilíbrio, pode gerar bons frutos, como a concentração e a capacidade de raciocinar com clareza.

 

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CHAKRA CORONÁRIO – Sahasrara

De cor violeta, o chakra coronário está no topo da cabeça. Responde à nossa conexão com o mundo espiritual, com as energias do universo e também com o cérebro e a consciência.

 

Por Laura Capelhuchnik

Antes da última badalada

 

Por Juliana Meres e Vinicius Andrade

 

 

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Um abajur cor Marsala [Pantone 18-1438]

 

Por Leticia Paiva e Matheus Pimentel

 

Como uma empresa domina o mercado de cores e antecipa o desejo dos consumidores

 

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“Persuasivo, mas também suave que transmite compaixão e uma certa compostura”. “Com astral para cima e ousado sem ser avassalador”. Esses trechos parecem ser descrições minuciosas da personalidade de alguém. Seus nomes são um tanto incomuns: Quartz Rose e Radiant Orchid, nessa ordem. Na verdade não são pessoas, mas pertencem a uma mesma família, a de cores da Pantone.

 

Cada cor tem um código Pantone que a identifica na escala de tonalidades. Na prática, é uma espécie de RG que permite sua aplicação. A empresa nasceu há mais de 50 anos nos Estados Unidos justamente com a intenção de padronizar o espectro de cores para diferentes segmentos, como a moda e o design. Uma tremenda mão na roda para os profissionais que lidam diretamente com cores e muitas vezes buscam um tom exato.

 

Com mais de 60 anos de carreira, o designer gráfico Alexandre Wollner afirma que a Pantone possui um bom sistema e melhorou a produção dos profissionais do meio, já que eles podem acessar uma gama completa de cores e se veem livres de desencontros entre a cor idealizada e a que é aplicada. A utilização da paleta por designers “aumentou ao longo dos anos”, avalia. “Eu uso bem a escala da Pantone há muito tempo. Uso pela função, pela cor e pela necessidade, não por moda”, diz Wollner, um dos pioneiros do design gráfico no Brasil.

 

Entre as mais de 10 mil cores catalogadas pela marca norte-americana, um grupo específico possui mais prestígio: as cores do ano. A decisão é tomada após uma reunião com consultores de cores e tendências de diversos países e repercute entre estilistas, designers e editoras, para ficar nos mais conhecidos. O lilás Radiant Orchid esteve no posto em 2014, a cor-de-carne Marsala em 2015 e, neste ano, foi a vez do rosa Quartz Rose, em companhia do azul-bebê Serenity a primeira vez em que houve duas cores escolhidas para um mesmo ano.

 

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Parafraseando a Pantone, as cores escolhidas são responsáveis por representar o espírito dos tempos, traduzir o comportamento global, resumir as manifestações humanas. Todo ano, uma nova cor capaz de apontar para as tendências mundiais e, principalmente, posicionar marcas e criadores no rumo do que eles, os consumidores, anseiam — e às vezes ainda nem sabem.  

 

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Para definir a cor da vez, a Pantone recorre a mecanismos para captar movimentos e tendências. Conhecidos como cool hunters, os pesquisadores de tendências são responsáveis por compreender como a sociedade se comporta, analisando em detalhe as decisões humanas e identificando padrões. A partir daí, reconhecem uma tendência emergente. 

 

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A cool hunter Sabina Deweik, referência em pesquisa de tendências e consumo, coordenadora da área na Escola São Paulo, explica que as tendências surgem de diferentes âmbitos: da arte, arquitetura, tecnologia a até de movimentos sociais, políticos e econômicos.

 

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Para monitorá-las, Sabina diz que são levadas em consideração as relações entre indivíduos, os lugares em que florescem novos movimentos, as manifestações culturais e os projetos públicos e empresariais. Um comportamento pode ser iniciado em uma esfera restrita, difundir-se e afetar outras áreas.

 

Ok, talvez pareça um pouco abstrato. Quer um exemplo? O projeto de incentivar o uso de bicicletas em São Paulo que mudou a forma como as pessoas estão vivenciando a cidade, não apenas em relação ao transporte. Ele seria o desencadeador de uma tendência. Impacta outras áreas, desde a forma como as pessoas se vestem até a própria indústria automobilística, que passaria a se repensar para se adequar ao novo comportamento”, explica a pesquisadora.

 

 

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Para garantir a precisão nas observações, os caçadores de tendências atuam em rede, espalhados pelo mundo todo. Conhecida como maior autoridade em previsão de tendências do planeta e com atuação focada em moda, a agência WSGN tem uma equipe de mais de cem especialistas que rastreiam os movimentos culturais e sociais diariamente. A cada semestre, eles se reúnem para debater os dados observados em cada área de atuação, traduzindo as informações em tendências.



A partir da “radiografia social” feita pelas pesquisas de tendências, as marcas são hábeis a se direcionar no mercado, considerando aspectos importantes para o consumidor naquele momento. Para o instante atual, Sabina aponta um deles: autenticidade, “a história contada tem que ser real”. Esse tipo de decisão vale inclusive para a escolha de sua cor do ano.

 

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Na maior parte das vezes, não é tão fácil decifrar a motivação exata da Pantone para elencar sua cor e as sensações que ela evoca. Com esforço, encontramos algum sentido oculto ao consumidor. A combinação de rosa Quartz e azul Serenity para 2016, por exemplo, mais do que as anunciadas “tranquilidade e paz interior”, sugere um posicionamento da marca em relação à igualdade de gêneros e à fluidez, tendência em alta e simpática aos discípulos de Pantone para quem uma cor nunca é apenas uma cor.

 

A depressão é cinza

 

Por Paula Mesquita

 

 

“Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome

 

    Cores de Almodóvar

         Cores de Frida Kahlo

                     Cores”

 

A doçura da música de Adriana Calcanhotto me cativa desde criança, quando a ouvia tocar no rádio do carro de minha mãe. Na época, nem fazia ideia de quem seriam Frida Kahlo ou Almodóvar; sabia apenas que tinham nomes engraçados, e que, como eu, deveriam gostar das cores. O amarelo, minha preferida desde os doze anos, me remetia ao calor, vida, otimismo. E eu sempre me considerei uma pessoa otimista. Entusiasmada com o caminho que via à frente para a minha vida, amarelo reluzente como o sol.

 

De repente, tudo era cinza. Não foi gradual a minha transição para a vida incolor; fui simplesmente tomada de assalto. O azul do céu do interior, que brilhava sobre minha cabeça todas as manhãs quando ia para a escola, cinza. O vermelho vivo do meu batom favorito, cinza. As árvores, outrora tão verdes, cor nenhuma. Nada. Tudo chumbo, concreto, opaco.

 

 

Me tornei uma grande massa cinzenta por dentro – e por fora, como todos ao meu redor pareciam fazer questão de apontar. “Como você emagreceu tanto?” “Que cara de cansada!” “Por que eu não te vejo mais?”

 

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Por que não me vê mais? Não sei, mas nem eu me vejo mais; talvez esse seja justamente o problema. Uma névoa terrível embaça todos os espelhos e impede que a vista alcance até a mim mesma. E de que importa?

 

O cinza por todos os lados sufoca como uma prisão, da qual não parecia haver escapatória. Cinza é a cor da mordaça que me sufoca; é, também, a cor do tédio – este, talvez, ainda mais perigoso do que a mordaça. Com o alívio que o não sentir representa, um alento para corpo e mente exauridos dos longos períodos de sofrimento intenso, vem junto o desapego que impulsiona uma rota de fuga pela janela do sexto andar.

 

Mas não, a questão nunca foi essa. Cair de cabeça na imensidão disforme não resolverá, não me fará voltar a ver o arco-íris de que tanto sinto falta, e eu sempre soube disso.

 

O que fará, então? Basta querer? Porque eu quero ver. Eu quero ver, quero ver muito! Por favor, alguém me dê algumas canetinhas, uma caixa de lápis, vou criar o meu colorido. Se me arrumarem tintas e um pincel, quem sabe posso me tornar, eu mesma, minha própria Frida Kahlo. Sem arrogância, sem pretensões de ser uma grande artista… Apenas suficientemente satisfatória para pintar alguma vida no quadro da minha existência.

 

Para que finalmente os raios de sol voltem a  beijar minha pele e colorir meu caminho daquele amarelo brilhante da minha infância.  Ou então de rosa, verde, azul, sem preciosismos; se precisar, também pode ser aos pouquinhos. Mas vê se não demora, tá bom, arco-íris? Porque já estou há tempo demais debaixo dessa chuva.

 

A cor do céu é ____________.

 

Por Thiago Castro

 

 

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— Filha, qual é a cor daquele seu brinquedo ali na cadeira?

— Azul! — Disse a menina, pintando seus desenhos debruçada na mesa da varanda.

— Olhá pra cima.. Qual a cor do céu?

—  Hmmmm. Eu acho que é… Branco? Eu não sei…

O pai virou-se para o cunhado sentado ao seu lado, na cadeira de balanço da varanda, e perguntou:

— Entendeu agora porque os gregos não reconheciam o azul?  

— E o que isso tem a ver? Ela é só uma criança. A Grécia é linda, cheia de mar, céu azul, e você quer me convencer que eles simplesmente não viam o azul?  Além do mais, ela soube dizer a cor do brinquedo dela!

— Não é que eles não viam o azul. Eles viam, só não notavam. Não tinham necessidade de usá-lo. O céu não é um objeto, não é uma coisa, sabe? Então não precisa dar uma cor. Nem o mar. E tem pouca coisa na natureza que é azul. Eles enxergavam sim, só que não tinham um nome pra ele. Não reconheciam.

— Sei… — comentou o cunhado, mexendo no celular.

 

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— Pensa que tem tudo a ver com necessidade e contexto. A gente primeiro começou a perceber o preto e o branco, para diferenciar o claro do escuro… FILHA, TOMA CUIDADO COM ESSA TESOURA, VAI SE MACHUCAR! Mas então, voltando ao assunto: depois veio o vermelho, por causa do sangue. As outras cores chegaram depois.

— Isso tá um pouco confuso… Eu li uma vez que se não existe uma palavra para descrever alguma coisa, então esse algo não existe. É tipo isso?

— Mais ou menos. Essa é só uma das teorias, tem gente que não concorda. Mas vamos aqui aceitá-la. Por exemplo, se você não precisa do azul, então não precisa nomeá-lo. Se ele não tem nome que o diferencia das outras cores, então não existe. Você já ouviu falar que os esquimós têm várias palavras diferentes para os tons da neve?

— Ei, isso eu li que é boato!

— Pode ser. Mas já serve pra dar o exemplo. Se eles têm várias palavras para o branco da neve é porque eles vivem no meio dela! Eles precisam diferenciá-la. Se um deles pisar em um tipo de neve fofa, por exemplo, pode afundar e se machucar. A gente vê tudo branco porque pra gente é tudo a mesma coisa.

— Tá, sabe-tudo, mas e o azul? — Rebateu o homem sarcasticamente — Por que a gente vê o azul hoje?

—  Ué, porque a civilização mudou e progrediu. Fomos conseguindo criar novos pigmentos, novos objetos, e assim novas palavras surgiram para nomear cada cor.

Fez-se silêncio na varanda. O cunhado olhava o céu, contemplativo, quando a menina veio correndo para o colo do pai:

— Papai, olha aqui o meu desenho!

 

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— Ela pintou a árvore de rosa! — Disse o cunhado — Será que ela enxerga as árvores assim?

— Filha, de que cor é a árvore?

— Verde!

 

Puxa pra branco, morena-jambo

 

Por Roberta Vassalo

 

 

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“A sua cor não vai mais ter não, mas prova essa em bastão”, a atendente do Boticário ofereceu o produto. Ana passou em seu rosto, mas o tom ainda não era o mesmo. “Mas tá claro, né?”, a cliente observa. “Não, depois que você passa o pozinho, fica tudo certo. Você passa pó, né?”. Ana desistiu e foi tentar no quiosque da Maybelline, no andar de baixo do shopping. Apesar de ter maior variedade de tons escuros, mais uma vez a vendedora tentou empurrar bases mais claras do que a pele negra da estudante de 19 anos.

 

Certa vez, encontrou o tom ideal, 11 K iluminada, da marca Quem Disse Berenice, lembra. “Perguntei o nome da cor para guardar, e o vendedor falou que sairia de linha”.

 

Não só as maquiagens foram desenvolvidas com a ideia de que a cor de pele é uma só: a pele branca. O lápis de cor “cor de pele”, por exemplo, que todo mundo usou na escola, na verdade é um tom salmão; o esmalte nude, é da cor bege; e assim vai.

 

Até as décadas de 60 e 70, os processos fotográficos também não favoreciam os negros. Os cartões de calibragem das impressões de imagens se baseavam na pele clara e não distinguiam nuances mais escuras. Isso só mudou quando fabricantes de chocolate se incomodaram com a aparência de seus produtos no anúncio e exigiram a adaptação aos tons de marrom.*

 

Em seu trabalho Polvo, a artista Adriana Varejão produziu tintas que correspondem à descrição de 33 tons de pele dentre os 136 apontados pela população brasileira em resposta à pergunta “qual a sua  cor de pele?” no censo do IBGE de 1976. Alguns dos tons foram “morena-jambo”, “café com leite”  e “puxa pra branco”. O trabalho, que pretende repensar a percepção da cor de pele no Brasil, foi organizado com a antropóloga Lilia Schwarcz e resultou em uma exposição em que o rosto da artista aparecia pintado com as tintas produzidas.

 

Segundo Lilia, “as cores são sempre colocadas numa relação social com outros indivíduos, por isso há indivíduos que vão se definir ‘quase negros’, ‘indo pra negro’ ou ‘quase brancos’. São uma série de posições indefinidas, que mostram como existe uma negociação no Brasil em relação à cor”. Lilia adianta que Adriana Varejão pretende realizar uma nova exposição, mas agora com a produção de bases de maquiagem.

 

*A pesquisa da socióloga canadense Lorna Roth sobre os cartões da Kodak foi divulgada na revista Zum #10, do IMS

 

Cor x Cor

 

Por Leonardo Milano

 

 

João Mauro Senise é jornalista, mas atualmente trabalha com ativismo e mobilização política no Rio de Janeiro. No dia 13 de março deste ano, foi à manifestação pelo impeachment da presidente Dilma porque acredita que o ciclo do PT no poder deve se encerrar imediatamente. Vestiu-se de verde e amarelo, como a grande maioria que o acompanhou no protesto. “O pessoal de vermelho está na rua defendendo a Dilma, não o Brasil”, afirma.

 

 

Assim como João Mauro, Marcos Hermanson Pomar, residente da capital paulista, saiu às ruas no dia 13 para se manifestar politicamente. Mas, diferente de João, vestiu o vermelho. “Quando eu visto o vermelho, me integro a uma coletividade que simboliza uma série de pautas históricas da esquerda.” Segundo o estudante de jornalismo – que foi a todas as manifestações contra o impeachment da presidente Dilma neste ano – mais do que defendendo o governo, está “lutando pela democracia”.

 

João e Marcos representam muito bem o atual contexto político do Brasil. De um lado, os defensores da manutenção da presidente Dilma. Do outro, os que querem o impeachment. Diferentemente do que ocorreu no movimento das Diretas Já! ou do impeachment de Fernando Collor de Mello, a sociedade está dividida. E, no meio do escarcéu político que se tornou o país, os manifestantes encontraram sua identidade através de três cores. Enquanto o vermelho se tornou símbolo dos defensores do governo, o verde e o amarelo – as cores da bandeira nacional – tornaram-se as referências dos que querem erradicar o PT do poder.

 

Pouca gente sabe dizer, ao certo, qual será o resultado desse embate, e de que forma os  grupos irão se comportar agora que a presidente foi afastada do cargo. Luciano Guimarães, especialista na relação da semiótica das cores com a cultura e professor da ECA-USP, afirma que a utilização das cores nacionais normalmente surge num contexto de retomada do nacionalismo por parte de um determinado movimento. A mobilização pró-impeachment é um exemplo dessa retomada, já que busca construir uma narrativa baseada na ideia de “salvar o país da ameaça petista”. O professor também coloca que a aparente unidade que se dá em torno de ambos os lados é ilusória. “Há todo um conjunto de bandeiras agrupadas que estão usando a mesma cor, o que dá uma ideia de unidade”. As cores, dessa maneira, atuam como aglutinadores.

 

No meio do fogo cruzado, até a tradicional amarelinha da seleção brasileira de futebol, que já trouxe tantas alegrias para o povo brasileiro, está ameaçada. Afinal, sair de amarelo na rua, para alguns, tornou-se sinônimo de apoiar o impeachment de Dilma. Para Luciano, grande parte da mídia tem contribuído para consolidar essa narrativa dualista que contaminou o cenário político nacional , e essa “redução extrema é operada pelas cores”, como nas capas e fotografias.

 

Resta esperar por mais cores na política brasileira.

 

Furta-cor (ou a inesperada virtude da iridescência)

 

Por Guilherme Eler

 

 

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Sim, é aquele arco-íris que a gente vê em bolhas de sabão ou manchas de óleo.

 

A iridescência, popularmente conhecida como furta-cor, é um fenômeno óptico possibilitado por outras duas ocorrências físicas: o espalhamento e a interferência dos raios de luz.  

 

Enxergamos a luz do Sol na cor branca porque ela é composta por ondas de todas as cores de nosso espectro visível. Tais ondas variam entre si no comprimento e frequência, e, portanto, se comportam de forma diferenciada. Isso explica o fato de a radiação solar ser mais propícia a sofrer mudanças de trajetória.

 

Quando atingem a camada superior de uma película fina, como as paredes de uma bolha de sabão, alguns raios de luz sofrem refração. Ao voltarem para o meio exterior, podem associar-se a raios que refletiram na superfície da bolha. Essa combinação de ondas produz uma cor. Acontece aqui um tipo de interferência, chamada de construtiva.  

 

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Como a superfície da bolha é irregular e o ângulo de reflexão dos raios é variável, várias cores são produzidas. Tem-se então o efeito de arco-íris, que muda de acordo com a posição de quem observa. É isso que chamamos de furta-cor.

 

 

As cores possuem papel muito importante na comunicação de animais. A maioria delas tem origem pigmentária, explicada pela composição química das penas, escamas, etc. Mas as propriedades físicas também são capazes de influenciar como os bichos são vistos na natureza, seja por predadores ou por potenciais parceiros. O que pode ser considerado uma verdadeira vantagem evolutiva.

 

É o que acontece com certos insetos e determinadas espécies de aves, como o pavão (Pavo cristatus), o beija-flor de peito azul (Amazilia lactea) e o tiziu (Volatinia jacarina).

 

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As cores estruturais são produzidas a partir da interação da luz com estruturas muito pequenas que compõem as penas desses animais. Elas possuem diferentes índices de refração e são responsáveis por reforçar a reflexão de determinados comprimentos de onda. A aparência das plumagens, com isso, apresenta coloração naturalmente iridescente.

 

Uma pesquisa  estudou o comportamento nupcial de tizius, muito comuns no Brasil e América Latina, e pôde concluir que as características de coloração da plumagem desses pássaros estão associadas à qualidade individual dos machos. Em estação reprodutiva, estes costumam apresentar plumagem negro-azulada iridescente.  

 

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Os pássaros que possuem cores mais brilhantes, intensas e próximas da frequência ultra-violeta,  tendem a levar vantagem na competição entre os machos da espécie. Os processos envolvidos no acasalamento, desde a corte até o momento da cópula, também são facilitados. Se sobreviverem  à época de reprodução, estão livres para passar a seus descendentes a habilidade de emular um arco-íris a partir da luz do sol. Roupagem acessível a poucos.

 

As borboletas morpho azuis , em repouso, apresentam uma cor marrom meio pálida. Essa coloração  é uma  grande vantagem no quesito camuflagem, por possibilitar que elas passem discretas entre folhas secas e galhos. A parte interior de suas asas, no entanto, possui escamas capazes de alterar o tom para um azul brilhante, também por meio da iridescência. Ao bater as asas durante o voo, as mudanças rápidas de cor contribuem para que as morpho azuis sejam uma presa difícil de ser perseguida. Isso leva seus predadores naturais a preferir concentrar seus esforços em outros insetos.

 

Alerta! Comida Vermelha

 

Por Beatriz Quesada

 

 

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Molho de tomate, gelatina de morango, hot dog – “Eu amava cachorro-quente”. Poucas coisas fazem tanta falta para Paula de Lira quanto este último. Há 15 anos ela evita produtos com corante vermelho: passou a ter inflamações na pele ainda criança, sempre que comia um produto colorido artificialmente. Hoje, aos 25 anos, a salsicha não causa mais reações na pele da assessora de imprensa, mas fecha a garganta – não pode comer de jeito nenhum.

 

A alergia a corantes é rara e difícil de ser identificada, afirma a médica e diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatogia (ASBAI), Ana Paula Braga. Como reações a determinados alimentos são mais comuns, o pigmento é deixado de lado como possível origem das inflamações.

 

Cabe ao médico estabelecer a correlação entre os sintomas e a alimentação do paciente, para depois conduzir os chamados “testes de provocação”, uma tentativa de reproduzir os efeitos para verificar se de fato o corante é a causa da alergia. Depois disso, o que tinha a fazer era evitar o contato com esses produtos artificiais. Tarefa complexa numa sociedade com tantos alimentos industrializados, e ainda mais difícil para uma criança.

 

No caso de Paula, essa correlação aconteceu em casa mesmo: ao lado da mãe experimentava e anotava o que poderia ou não fazer mal. Quando pequena, se lembra bem de não poder comer pipoca doce e ter que manter um corte “joãozinho” por conta das feridas no couro cabeludo causadas pela alergia ao corante vermelho.

 

 

Já para Lívia Mersson, 22, o difícil era evitar os doces sabor morango: “Sabe bicho de pé? O doce rosinha? Acho lindo e nunca pude comer”. A radialista conta que a resistência baixa contribui para deixá-la mais vulnerável a ter uma reação ao escarlate artificial, tanto através de alimentos como de produtos para a pele.

 

A descoberta veio quando ela ainda era muito nova, e itens comuns da infância – como danoninho rosa e mertiolate de cor escura e avermelhada – passaram a causar coceira no braços, nas pernas, no peito. Já adulta, lida com a falta do corante de forma quase automática. Um batom nude no lugar do magenta que inflama o lábio, e a maquiagem não perde nada com isso.

 

Paula também encontrou um jeito de conviver com a alergia. Anos de experiência com vermelho artificial fizeram com que soubesse seus limites – sempre com a precaução de carregar seu antialérgico. “Sofri bastante sendo criança e tendo que saber o que comia, mas evitar os corantes acabou me levando para um lado mais natural, mais saudável”, conta.

 

Banquete para as unhas

 

Por Carol Oliveira

 

 

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Geleia de pitanga, risoto de mandioquinha, manjar de tapioca. Não, esse não é o menu de um restaurante com comida típica brasileira. São só esmaltes de uma coleção – chamada, é claro, “Gastronomia”. Tem ainda o suflê de goiaba, que é da corzinha da fruta. Já o marshmallow de alfazema é um roxinho que não lembra nem o marshmallow, nem a alfazema.

 

Dizer se é claro, escuro ou médio é pouco pra descrever a quantidade de cores e tons no mundo dos esmaltes. O branquinho não é só branco. É renda. Top pop. Noivinha. Ou batida de coco – ih, olha a comida de novo.

 

 

Tá um dia meio amargo. Roll down the window. Deixa o ar entrar. Abre alas pro cinza passar, nem sempre é ruim.

 

A cada ano, novas coleções. As empresas fazem reuniões e pesquisas entre clientes e blogueiras para decidir cores e nomes, que devem sempre conversar com o assunto da linha.  Escolha o tema: comida, viagens, amor, futebol, a benção das famosas.

 

 

E as brasileiras gostam mesmo de colorir as unhas. Uma pesquisa de 2013 da Euromonitor mostra que já somos o segundo mercado de esmaltes do mundo, só atrás dos Estados Unidos.

 

 

Ô Meu Santo Antônio… Leo mandou flores. Se é beijo roubado? Zaz! Deixa beijar – mas só se a mina quiser, claro.

 

 

“É quase um vício”, diz a blogueira Nah Melo. Aos 27 anos, ela é dona de uma página no Facebook onde mostra suas unhas, pintadas até dez vezes por dia. A pernambucana se apaixonou pela arte de “esmaltar” quando ainda era pequena. Hoje, sua coleção é feita de produtos que recebe das marcas, e já passa de mil cores.

 

 

Ainda que longe de trocar de cor dez vezes ao dia, as unhas da estudante Gabriella Alves, 19, também ganham vida com o conteúdo das dezenas de vidrinhos que ela guarda organizadamente em seu quarto. “Os esmaltes são importantes porque ajudam a transmitir nosso humor. Sempre que uso vermelho é porque quero arrasar. O rosa é tipo “ei, estou toda romântica”. O nude é como se eu dissesse “tô de boa hoje”’, diz.

 

 

A Gabi chama de pintar. A Nah, de esmaltar. No dicionário, a palavra significa ‘dar realce a; abrilhantar, ilustrar’. “Já é quase um acessório”, diz a blogueira.

 

 

Oxi, que preguicinha. Acho que pede um cochilo na rede. Quase uma siesta de Milão. Ciao Milão.

 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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