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Na sala de ESPERA…

 

Por Fabiola Costa

 

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O  grande  hospital  vivia  mais  um  de  seus  movimentados  dias.  Centenas  de  pessoas

circulavam nos corredores, ocupavam os leitos e preenchiam as salas de espera. São mais de

mil  atendimentos  diários,  fora  as  internações.  Os  profissionais,  naquele  apressado  jeito  de

andar,  tentavam  atender  a  todos.  O  ambiente  gélido  trazia  consigo  a  tensão  invisível,  mas

sempre presente, na vida de um hospital. Burburinhos das conversas baixas, choro ardido da

criança  doente,  sirene  estridente  da  ambulância,  som  abafado  do  alto  falante  que  anuncia  o

próximo paciente… Todos momentaneamente silenciados. Agora era a vez do som metálico, e

ao mesmo tempo suave, do saxofone.

O  saxofonista  vestia jaleco branco de mangas  curtas e andava em passos lentos por

entre os corredores da sala de espera. Careca, de pele morena e óculos de grau, o homem

dedilhava  o  instrumento  com  precisão  e  agilidade.  Do  alto  de  seus  cerca  de  1,80  de  altura,

lançava um olhar esperançoso e demonstrava confiança ao tocar. Isso logo atraiu a atenção de

todos. Ao fundo surgiram o acompanhamento suave do piano, a batida tranquila da bateria e a

melodia de outros instrumentos, vindos de uma pequena caixa de som ligada a uma tomada no

canto da sala.

Enquanto tocava, o ambiente do grande hospital parecia mais acolhedor. A melodia era

sentida de maneira particular por cada um ali daquela sala de espera. Uns esboçavam sorrisos

tímidos, outros fechavam os olhos, alguns cabisbaixos. Havia também aqueles com os olhos

marejados e outros com largos sorrisos.  A criança do choro ardido olhava atenta e silenciosa

para o saxofonista.

Há  três  anos  e  meio  o  artista  dedica  dois  dias  de  sua  semana  para  levar  música  ao

hospital.  Começou  ali  na  sala  de  espera.  Depois  o  convidaram  para  tocar  nas  salas  de

quimioterapia, radioterapia, e, quando se deu conta, todas as alas do hospital já ouviam seu

som. Os médicos o convidaram para tocar até no centro cirúrgico! Na UTI não pode entrar, mas

ele vai até a porta do quarto e dali mesmo faz seu som… Uma vez uma paciente despertou do

coma  enquanto  o rapaz  tocava.  O  fato  aconteceu  há  um  ano  e  meio,  mais  ou  menos.  Mas

história marcante não tem como ser esquecida!

Na  sala  de  espera,  depois  do  último  acorde,  o  saxofonista  de  jaleco  branco  se

apresentou:

­ Sou Hilquias, esse é um trabalho voluntário que faço aqui. Que Deus abençoe vocês. A

minha  frase  é  sempre  esta:  nunca  desista,  nunca  desanime,  porque  Jesus  está  no

barco da nossa vida, e ele nunca nos deixa só.

Talvez nem todos deem muito crédito para o que o saxofonista diz. E nem precisam, a

música já transmitiu o recado.

O músico pega um punhado de CDs e os distribui para as famílias que estão naquela

sala  de  espera.  São  em  média  400  discos  por  semana.  Conversa  com  cada  um,  oferece

abraços e apertos de mãos. No grande hospital, a frieza foi substituída pela gratidão.

Quando  chega  perto  da  criança  que  chorava,  o  saxofonista  novamente  saca  seu

instrumento  e,  abaixado,  olhos  no  garoto,  sopra  um  trecho  de  “Wood  Woodpecker”,  música

tema Pica Pau. Pronto! Logo a criança abre um largo e gostoso sorriso!

O saxofonista parte para sua próxima tarefa: espalhar amor e, com seu gesto, aquecer

o  ambiente  frio  dos  quartos  de  internação,  do  centro  cirúrgico  e  de  cada  canto  do  grande

hospital.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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