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não me apego não

 

Por Leticia Naome

 
Arte: Adrielly Kilryann e Guilherme Castro

Uns com 30 anos de casado

Sem medo de apego

Eu não tive essa sorte

Toda vez que me abri, eu só sofri

Não achei ninguém, com 30 almas gêmeas por aí

Já que dei muito azar, agora vou pra farra 

Esquecer de relação, por mais que volte a sentir

Não vou me entregar, e sim me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Não tem pra que sofrer

No mundo real, o amor é irreal

Por que me comprometer?

Se posso pegar sem me apegar

No outro dia nem ligar 

Agora eu já sei, é só ir pra farra

Esquecer de relação, não preciso mais sentir

Quero, sim, sair e me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Música baseada na história de 4 pessoas e nas pesquisas do Badoo e Sky News. Com colaboração de Felipe de Souza, especialista em psicologia clínica.

O casamento entre verbo e música

 

Por Fernanda Pinotti e Leonardo Lopes

 

Em 1980, ao discutir sobre a capa de seu novo álbum, Adoniran Barbosa se comparou a um palhaço triste. Isso porque, por trás das melodias eufóricas de seus sambas, as letras muitas vezes também carregavam tristeza. Equilibrar-se entre letra e melodia não é apenas uma habilidade presente nas músicas de Adoniran, mas uma relação que se encontra em todas as canções. 

Qualquer composição pode ser analisada a partir do equilíbrio entre dois polos: o da música e o da fala. O compositor e mestre em Música pela UFMG, Kristoff Silva, comenta que a canção pode pender mais para um deles, mas nunca se fixa exatamente em um. Ele explica baseado na “Semiótica da Canção”, teoria criada pelo músico e linguista Luiz Tatit.

A teoria categoriza as composições em três modelos, um deles ligado à oralidade, e os outros à musicalidade. No primeiro modelo, chamado de “figurativização”, a letra da música é valorizada. Ele está mais presente no rap, por exemplo, e nos passa a sensação de que estamos ouvindo uma história. Segundo Kristoff, “o chamamos assim porque cria, na mente da pessoa que ouve, a figura de alguém falando.”

Os outros modelos valorizam a melodia. Chamados de “passionalização” e “tematização”, eles se diferem basicamente pela velocidade. O primeiro diz respeito às músicas mais lentas, que remetem a um sentimento de falta, distância e saudade. Já o segundo engloba as músicas aceleradas, que criam sensação de proximidade e alegria. E sensações diferentes podem ser experimentadas conforme a melodia se relaciona com a letra. A depender do intérprete, uma letra pode cantar um sentimento enquanto a melodia – acelerada ou desacelerada – desperta outro, como fez Adoniran.

A teoria de Tatit pode criar a sensação de que todo compositor toma uma série de decisões racionais ao fazer a canção. Mas Kristoff conta que o ato de compor pode ser involuntário em partes. Enquanto muitos refletem sobre cada nota ou palavra a ser escrita, a cantora baiana, Josyara Lélis, reitera a ideia de Kristoff: “Meu processo criativo é muito solto. Eu pego o violão para passar o tempo, e vem qualquer sentimento que esteja ali batendo para sair. Eu fico cantarolando e a palavra vem.” 

As decisões a serem tomadas durante a composição ganham outras formas quando a dinâmica é feita a quatro mãos. É o caso da sambista Manu da Cuíca, que escreve somente as letras. “O grande barato é ver as mãos dadas entre a letra que vai ser feita por uma pessoa, e a melodia por outra. Os encontros e desencontros disso”, comenta a carioca que foi campeã do carnaval de 2019 assinando o samba-enredo da Mangueira.

 

O mestre e doutor pela USP com pesquisa sobre composições, Marcelo Segreto, ressalta a importância de se olhar as canções pela perspectiva do equilíbrio entre letra e melodia. Isso porque democratiza quais gêneros musicais são aptos a serem analisados mais profundamente em pesquisas. “Entender a canção como essa oscilação é democrático. Todos os tipos, do rap ao erudito, podem ser analisados desse modo”, conclui.

Colaboradores:

Josyara Lélis, cantora, compositora e violonista baiana. 

Kristoff Silva, cantor, compositor, violonista e professor; Mestre em Música pela UFMG.

Manu da Cuíca, sambista, compositora, escritora e percussionista carioca. 

Marcelo Segreto, compositor, cantor e fundador da banda Filarmônica de Pasárgada; Mestre e doutor com pesquisa sobre canção popular pela FFLCH/USP.

10 músicas desconhecidas dos grandes artistas do pop

 

Por Aline e Carol

 

Todos os artistas sonham com o dia em que vão emplacar uma de suas canções nas paradas de sucesso mundiais. Conseguir um hit, além de ser um desejo do cantor, muitas vezes é uma cobrança das gravadoras. No entanto, ainda não criaram uma fórmula secreta para ajudar nessa missão.

Para Yasmin Muller, gerente editorial no Brasil da Deezer, empresa de música por streaming, é necessário uma conjunção de fatores para que uma música caia no gosto do público. “Fatores que vão desde a sonoridade da própria composição, a letra, a forma de promoção da música e do artista no contexto e mercado em que ela está inserida interferem no nascimento de um hit”.

Apostar que alguma música vai se tornar um futuro sucesso é bastante arriscado. Yasmin comenta que é difícil até mesmo para os editores adivinharem, ainda que eles tenham em mãos uma enorme quantidade de dados relativos à resposta do público.

Afinal, até mesmo os grandes artistas erram. Apesar de ficarem famosos por causa das músicas mais tocadas nas rádios e melhores colocadas nos rankings musicais, existem muitos outros trabalhos em seus álbuns que são desconhecidos pelo público e que ficam à sombra de seus singles —  canções viáveis comercialmente e que, por isso, são divulgadas individualmente.

Para mostrar isso, selecionamos as músicas menos reproduzidas no serviço de streaming Spotify, de cada um dos artistas que aparecem no Top 10 da Billboard em 2016. O Spotify é a plataforma mais popular do segmento, com 140 milhões de inscritos, bem à frente da concorrente Apple Music, que possui 27 milhões de assinantes. Já a lista da revista norte-americana é feita a partir do desempenho dos cantores em outros rankings feitos ao longo do ano por ela, como o Billboard Hot 100, Billboard 200 e Social 50.

Será que você conhece todas essas músicas?

Shawn Mendes – Hold On (12.155.421 reproduções)

Uma das atrações confirmadas para o Rock In Rio 2017, o cantor Shawn Mendes tornou-se o artista mais jovem a estrear entre as 25 primeiras posições da Billboard Hot 100 com o seu single “Life of the Party”, de seu primeiro álbum, “Handwritten” (2015). Mas é na versão deluxe de seu segundo álbum, “Illuminate” (2017) que encontramos sua música menos tocada no Spotify: “Hold On”, com 12.155.421 reproduções.

 

Coldplay – Twisted Logic (8.264.752 reproduções)

A banda britânica tem mais de 20 anos de carreira e possui sete álbuns de estúdio lançados. A música menos ouvida no Spotify do Coldplay é “Twisted Logic”, do álbum “X & Y” (2005), com 8.264.752 reproduções. Para se ter uma ideia, a música “A Sky Full of Stars”, do álbum “Ghost Stories” (2014), possui mais de 400 milhões de reproduções no Spotify.

 

The Weeknd – Heaven or Las Vegas (9.919.975 reproduções)

Um dos destaques do festival Lollapalooza de 2017, o cantor canadense The Weeknd tem como um de seus sucessos o single “Starboy”, do álbum de mesmo nome lançado no ano passado. A música conta com 752.922.258 reproduções, diferentemente de “Heaven or Las Vegas”, do álbum “Trilogy” (2012), que aparece no Spotify com somente 9.919.975 reproduções.

 

Ariana Grande – Better Left Unsaid (13.170.773 reproduções)

Ariana Grande, que está em turnê mundial e fará shows no Rio de Janeiro e em São Paulo no final de junho, possui três álbuns de estúdio lançados, sendo o último o “Dangerous Woman” (2016). A dona do hit “Side to Side”, com cerca de 502 milhões de reproduções no Spotify, também canta a música “Better Left Unsaid”, a menos reproduzida em sua conta (13.170.773 reproduções).

 

Rihanna – Willing to Wait (586.534 reproduções)

Cantora do hit “Work” (686.746.340 reproduções), Rihanna foi nomeada a artista que mais vendeu no mercado digital após a venda de 54 milhões de álbuns e 210 milhões de faixas ao redor do mundo. Dona de diversos hits, álbuns e prêmios ao longo de seus 12 anos de carreira, é de se surpreender que seja dela uma das músicas menos escutadas deste ranking. É “Willing to Wait”, de seu álbum de estreia, “Music of the Sun” (2005), com apenas 586.534 reproduções.

 

Twenty One Pilots – Air Catcher (15.844.273 reproduções)

O Twenty One Pilots é um duo norte-americano formado por Tyler Joseph e Josh Dun. Com uma mistura de rock alternativo, indie e rap, a dupla ganhou notoriedade com a música “Heathens”, parte da trilha sonora do filme “Esquadrão Suicida”. Em menos de dois dias, a canção alcançou o quinto lugar no ranking Billboard Hot 100. A música menos tocada do Twenty One Pilots é “Air Catcher”, com apenas 15.844.273 reproduções. Este número é bem menor do que de “Stressed Out”, que foi tocada cerca de 718 milhões de vezes no Spotify.

 

Beyoncé – Gift from Virgo (1.783.871 reproduções)

Beyoncé tem uma trajetória de sucesso na música pop. Segunda colocada na lista das 100 celebridades mais bem pagas do mundo em 2017, a cantora conseguiu emplacar, logo em seu álbum de estreia na carreira solo, dois singles — “Crazy in Love” e “Baby Boy” — no primeiro lugar da Billboard Hot 100. É deste álbum também sua música menos tocada no Spotify: “Gift from Virgo”, com 1.783.871 reproduções.

 

Drake – The Calm (6.254.266 reproduções)

Chegamos ao top 3 do ranking da Billboard com o rapper canadense Drake. O cantor é dono de hits como “Hotline Bling”, um dos singles de maior sucesso de sua carreira, e “One Dance”, a primeira música a atingir um bilhão de reproduções no Spotify. Sua música menos reproduzida está em seu primeiro EP, “So far Gone” (2008), “The Calm”, com 6.254.266 reproduções.

 

Justin Bieber – Home This Christmas (8.158.901 reproduções)

Dono do hit “Sorry”, reproduzido mais de 933 milhões de vezes no Spotify, Justin Bieber lançou em 2011 o álbum “Under The Mistletoe”, seu segundo gravado em estúdio e o primeiro com a temática natalina. É nele que encontramos “Home This Christmas”, a música menos tocada na conta do artista canadense, com apenas 8.158.901 reproduções.

 

Adele – Sweetest Devotion (16.689.654 reproduções)

Artista número um do Top 10 da Billboard, a britânica Adele tem, no mesmo álbum, sua música menos e mais escutada no Spotify. Enquanto a primeira faixa do álbum “25”, “Hello”, possui mais de 700 milhões de reproduções, a música “Sweetest Devotion”, última faixa, aparece com apenas 16.689.654 reproduções.

 

Escute todas essas músicas “desconhecidas” e os hits dos mesmos artistas nessa playlist:

 

Dez músicas que cantam a liberdade

 

Por Victoria Del Pintor

 

Liberdade é uma palavra que, só de ser pronunciada, já traz bons sentimentos, não é mesmo? Não dá para defini-la de maneira simples, por isso, preparamos uma playlist recheada de músicas que abordam os mais variados tipo de liberdade! Com qual você se identificou mais?

 

1 – Natasha – Capital Inicial
A clássica música da banda brasiliense trata daquela vontade que chega em todos os jovens, a liberdade alcançada ao sair de casa, que só se completa quando se tem um lar só seu. Se identificou?


2 – Roxanne – The Police
A música trata dos dilemas da prostituição: para Roxanne, é liberdade ou uma prisão advinda da necessidade? O eu lírico da música pede para Roxanne se libertar, sair dessa vida de vender seu corpo. Vale um debate, não?

3 – Shake it Out – Florence and the Machine

A graciosa Florence Welch nos presenteia com essa melodia, em que fala, implicitamente, de se libertar de um relacionamento abusivo, que seria o demônio nas costas que devemos “shake It out”. Também trata da libertação através da tomada da própria vida… Mas lembrando que essa nunca é a solução, ok? 😉

 

4 – 100% Feminista – Karol Konká e Mc Carol
Essa dupla poderosíssima chega para jogar umas boas verdades com essa música. 100% Feminista defende a causa negra e feminista, focando nas mulheres da periferia que presenciam violência doméstica. Nesse caso, a liberdade é chamada através do feminismo, maravilhoso, não?


5 – Born this Way – Lady Gaga
Lady Gaga traz esse hino, no qual canta a liberdade para si. Com o clássico “don’t be a drag, just be a queen”, a cantora diz: liberte-se! Ame-se do jeito que é, você é incrível assim, apenas seja quem quiser ser!

 

6 – Sarará Miolo – Gilberto Gil
Gilberto canta a causa negra. Aqui a liberdade é no sentido de assumir sua cultura, sua aparência afrodescendente, e sentir-se orgulhoso disso!

7 – I Want to Break Free – Queen
Um clássico é um clássico, não é mesmo? E esse não podia faltar! Liberdade sexual, amorosa, os sentimentos de se apaixonar pela primeira vez e a sensação de liberdade que isso causa, tudo isso é exaltado nessa linda música que embala várias gerações.

8 – Lugar ao Sol – Charlie Brown Jr.
“ Livre pra poder sorrir, sim / Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol…”, quem não lembra? A música fala da liberdade de sonhar, de buscar um mundo que realmente pertença a você. Bem profundo!

9 – Independent Woman – Destiny’s Child
O trio que lançou Beyoncé no mundo arrasou ao cantar uma música tão poderosa em 2001. Fala principalmente sobre a mulher se empoderar e conseguir as coisas por si, sem depender de nenhum homem.


10 – Breakaway – Kelly Clarkson
Quem nunca cantou essa música nos momentos de bad, não é mesmo? O clássico que conta de uma menina que nasceu do interior, mas que busca horizontes para um vôo cada vez mais alto. Quem sonha em se libertar de uma cidade pequena e vir para a cidade grande se identifica, certo?

 

Gostou? Aproveite para seguir a playlist Claro! Livre no Spotify! 

 

 

Adianta bater: por que o jingle entra na nossa cabeça

 

Por clarousp

 

Depois de um sono bom, a gente levanta. Se for fim de semana, depois pode comer um lanche… talvez dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial… às vezes só pipoca e guaraná já é um programa legal. Se é dia de semana, olha a hora! Portas de aço levantam, todos parecem correr… se ligar o rádio do carro em tempos de campanha, talvez ouça que brilha uma estrela, ou seja apresentado a um democrata cristão.
Pois é, o tempo passa, o tempo voa, e algumas músicas não saem da nossa cabeça. Mas o que faz com que gerações que jamais viram o comercial em preto e branco saibam a melodia de “Não adianta bater, eu não deixo você entrar”? De acordo com o compositor, maestro e professor Kleber Mazziero de Souza, estudioso do tema, o jingle não é muito diferente da música popular no que diz respeito à sua estrutura e ao modo como o memorizamos.
Para Souza, o jingle como discurso deve atingir em primeiro lugar o emocional do público; só num segundo momento o ouvinte faz uma análise racional. Por isso as associações feitas com a família (“não espere a mamãe mandar…”) ou com momentos de festa (como o natalino “quero ver você não chorar”).
O bom jingle é aquele que consegue utilizar os recursos de linguagem, música e letra no caso, para compor um discurso de qualidade. Uma melodia memorável, simples mas com traços de requinte, sobre um fundo instrumental que a sustente em uma progressão coerente; e uma letra que não caia na vulgaridade e apresente a sofisticação da linguagem indireta, com metáforas (como o “varre, varre, vassourinha” ou “a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição”). Além da grande exposição, o que faz com que os bons jingles permaneçam na memória das pessoas é essa qualidade de estruturação, de composição dos elementos da linguagem para melhor transmitir sua mensagem.
Esse conhecimento técnico e a experiência levam a alguns formatos que são utilizados para persistirem na memória do público. Exemplo é o formato da canção popular americana, o “AABA” em que “A” é a estrofe e “B” o refrão. Canções que continuam fazendo sucesso depois de décadas seguem essa estrutura. Ou alguém se esquece de “Over the Rainbow” e “Garota de Ipanema”?

Canções para o bem-estar

 

Por Giovana Bellini

 

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Uma melodia que acalma, um ruído que lembra a infância, uma música que faz esquecer da dor: os sons também podem ser uma terapia para quem busca conforto, alívio, bem-estar. Musicoterapia é o nome desse tratamento capaz de auxiliar tanto no tratamento de quadros psicológicos, quanto naqueles relacionados a sensações físicas. “É uma terapia que utiliza as experiências musicais para alcançar os objetivos traçados. É dividida em interativa – quando o foco é o fazer musical – e receptiva, na qual o foco é a audição”, explica a futura musicoterapeuta Tatiana Komi.

 

Não é necessário ter conhecimentos musicais técnicos ou saber tocar instrumentos para procurar a terapia pelo som. Na verdade, é o próprio repertório musical do paciente que irá compor a sessão de musicoterapia. É o que atesta Alessandra Sanchez, que utilizou a terapia com música paralelamente às sessões de quimioterapia: “músicas que meu pai cantava para mim quando pequena ou outras que traziam mensagens de esperança eram as que mais me agradavam ouvir”. Ela foi apresentada à musicoterapia por uma antiga amiga que sabia que, na época, ela enfrentava um câncer de mama.

 

As palavras de Alessandra mostram como a terapia pode ajudar pacientes com doenças graves: “a música trazia companhia e palavras de conforto para aquele período de enfrentamento. De alguma forma, ela amenizava, mesmo que por pouco tempo, as angústias do tratamento”, relata a paciente. Não é só como tratamento, a musicoterapia também auxilia pacientes terminais no processo que envolve a morte. A relevância do assunto é tamanha que surgiram vários cursos de graduação no Brasil para formar profissionais musicoterapeutas.

 

Consenso é a importância do som em nossas vidas. Vivemos, desde a infância,  invadidos pelos mais variados ritmos: cantigas de ninar, óperas e concertos clássicos, as serenatas, o batuque do samba, as músicas românticas, o hino do time, enfim, todo e qualquer tipo de ruído que acaba virando música. Vamos, pouco a pouco, construindo uma coletânea musical que nos acompanha pelo resto de nossas vidas e que, de algum modo, nos desperta alguma sensação. Seja harmonia, letra ou melodia, o som ocupa importância imensurável na constituição da nossa história.

 

Mil Tons Geniais

 

Por Matheus Pimentel

 

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Quem vê Mário Del Nunzio empunhar sua guitarra pode se assustar com o que vem em seguida. Adepto da música experimental, ele conta como conheceu essa sonoridade e o que usa para tocar sua guitarra. Com dois discos e um diploma em Música pela Unicamp, Mário também é curador do FIME (Festival Internacional de Música Experimental), cuja primeira edição .invadiu São Paulo em 2015 e repetirá a dose em julho Confira o papo que ele bateu com o Claro!

 

Claro! — Por que experimentalismo? Quando você sentiu que os sons “convencionais” não eram suficientes?

Mário Del Nunzio Acho que escutei música experimental pela primeira vez por acaso, com uns 15 anos. Eu tava mexendo no rádio, passei por uma estação e tava tocando uma coisa estranha, e aquilo, por algum motivo, me atraiu. Fiquei interessado em entender como funcionava, em saber mais. Eu já estudava música. Não sei dizer se os sons convencionais eram ou não suficientes, não sei se dá para fazer essa distinção, atualmente tá tudo misturado. Toda música pop tem muito ruído, né?

 

A sonoridade de aparelhos eletrônicos permeia seu trabalho. Você utiliza objetos corriqueiros?

O que mais faço é tocar guitarra, que pode estar ligada a um processador, a um computador que influencia no som. Algo que gosto bastante é usar vários objetos, como lata, faquinha, canivete, lixa, escova, para tocar o instrumento. Se coloco uma lata sobre os captadores, vou ter um som que ainda tem identidade da guitarra, mas ao mesmo tempo não faz parte do universo usual. Isso me interessa. Existe uma peça chamada “Onomatopeia” que tem instruções em texto do que a pessoa deve fazer com o instrumento, tipo imitar o som de um carro numa corrida ou o de uma vaca mugindo. A guitarra é um suporte para, com outros objetos, obter esses sons.

 

As estranhezas são maiores para quem compõe ou quem ouve?

Para gente que faz é uma coisa normal, né? Para quem ouve, é possível que no começo cause estranheza, mas ao mesmo tempo algo com que muitas vezes se identificam automaticamente, por diversos motivos. Às vezes tem elementos performáticos ou trabalham com audiovisual, com vídeo. Tem coisas que são muito ruidosas e isso tem um impacto corporal de fato, e as pessoas gostam desse tipo de impacto, ou coisas muito silenciosas. É um campo amplo, tem muito espaço para diferentes pessoas se identificarem com diferentes aspectos.

 

Você também é um dos curadores do FIME. Como avaliam o Festival?

A gente tem convidados e o resto da programação é feita via uma chamada. O ano passado foi muito positivo, foram umas 250 inscrições de mais de 20 países. O Festival também teve desdobramentos, do tipo músicos que estão vindo para o Brasil interagindo com músicos da cena local, tocando em outros contextos. Também teve um bom público, em vários dos concertos a sala estava lotada.

 

Na sala de ESPERA…

 

Por Fabiola Costa

 

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O  grande  hospital  vivia  mais  um  de  seus  movimentados  dias.  Centenas  de  pessoas

circulavam nos corredores, ocupavam os leitos e preenchiam as salas de espera. São mais de

mil  atendimentos  diários,  fora  as  internações.  Os  profissionais,  naquele  apressado  jeito  de

andar,  tentavam  atender  a  todos.  O  ambiente  gélido  trazia  consigo  a  tensão  invisível,  mas

sempre presente, na vida de um hospital. Burburinhos das conversas baixas, choro ardido da

criança  doente,  sirene  estridente  da  ambulância,  som  abafado  do  alto  falante  que  anuncia  o

próximo paciente… Todos momentaneamente silenciados. Agora era a vez do som metálico, e

ao mesmo tempo suave, do saxofone.

O  saxofonista  vestia jaleco branco de mangas  curtas e andava em passos lentos por

entre os corredores da sala de espera. Careca, de pele morena e óculos de grau, o homem

dedilhava  o  instrumento  com  precisão  e  agilidade.  Do  alto  de  seus  cerca  de  1,80  de  altura,

lançava um olhar esperançoso e demonstrava confiança ao tocar. Isso logo atraiu a atenção de

todos. Ao fundo surgiram o acompanhamento suave do piano, a batida tranquila da bateria e a

melodia de outros instrumentos, vindos de uma pequena caixa de som ligada a uma tomada no

canto da sala.

Enquanto tocava, o ambiente do grande hospital parecia mais acolhedor. A melodia era

sentida de maneira particular por cada um ali daquela sala de espera. Uns esboçavam sorrisos

tímidos, outros fechavam os olhos, alguns cabisbaixos. Havia também aqueles com os olhos

marejados e outros com largos sorrisos.  A criança do choro ardido olhava atenta e silenciosa

para o saxofonista.

Há  três  anos  e  meio  o  artista  dedica  dois  dias  de  sua  semana  para  levar  música  ao

hospital.  Começou  ali  na  sala  de  espera.  Depois  o  convidaram  para  tocar  nas  salas  de

quimioterapia, radioterapia, e, quando se deu conta, todas as alas do hospital já ouviam seu

som. Os médicos o convidaram para tocar até no centro cirúrgico! Na UTI não pode entrar, mas

ele vai até a porta do quarto e dali mesmo faz seu som… Uma vez uma paciente despertou do

coma  enquanto  o rapaz  tocava.  O  fato  aconteceu  há  um  ano  e  meio,  mais  ou  menos.  Mas

história marcante não tem como ser esquecida!

Na  sala  de  espera,  depois  do  último  acorde,  o  saxofonista  de  jaleco  branco  se

apresentou:

­ Sou Hilquias, esse é um trabalho voluntário que faço aqui. Que Deus abençoe vocês. A

minha  frase  é  sempre  esta:  nunca  desista,  nunca  desanime,  porque  Jesus  está  no

barco da nossa vida, e ele nunca nos deixa só.

Talvez nem todos deem muito crédito para o que o saxofonista diz. E nem precisam, a

música já transmitiu o recado.

O músico pega um punhado de CDs e os distribui para as famílias que estão naquela

sala  de  espera.  São  em  média  400  discos  por  semana.  Conversa  com  cada  um,  oferece

abraços e apertos de mãos. No grande hospital, a frieza foi substituída pela gratidão.

Quando  chega  perto  da  criança  que  chorava,  o  saxofonista  novamente  saca  seu

instrumento  e,  abaixado,  olhos  no  garoto,  sopra  um  trecho  de  “Wood  Woodpecker”,  música

tema Pica Pau. Pronto! Logo a criança abre um largo e gostoso sorriso!

O saxofonista parte para sua próxima tarefa: espalhar amor e, com seu gesto, aquecer

o  ambiente  frio  dos  quartos  de  internação,  do  centro  cirúrgico  e  de  cada  canto  do  grande

hospital.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

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