Seis da tarde. Metrô lotado. Marasmo…
De repente, um gemido. Ao seu lado, um nariz sangrando.
Sangrando apenas não, jorrando sangue. Pequenos respingos mancham sua camisa. O que você faz?
Nunca viu tanto sangue sair assim de uma pessoa. E que sangue tão vermelho, tão assustador, tão sufocante! Você desvia o olhar quase que automaticamente, mas algo nele te chama e te obriga a encará-lo novamente. Como algo tão horrível pode ser tão bonito?
Enquanto aquele vermelho vivo e quente te hipnotiza, cedem lugar à pessoa sangrando e tentam acudi-la. A sua volta à realidade é brusca e você tem que se segurar para não cair. Tontura… Muita tontura… Ah, o sangue…
O sangue para, a pessoa vai embora. Passado o susto, fica o vazio. Você não fez nada, mas o que poderia fazer? O sangue o assustou como assustaria a qualquer um. Engraçado como ele nos assusta… Ele corre por nossas veias, apressado, como trens deslisam por trilhos, nos dando vida a cada novo instante. Está próximo de nós, está dentro de nós, e ainda assim nos causa medo, repulsa, horror. Ah! E como é belo o sangue!
Talvez não haja nada tão paradoxal quanto o sangue. É horrível e é belo. É morte e é vida. É destruição e é renascimento. Por mais que o evitemos, nunca sai de perto de nós. Está nas nossas conversas — e aí, sangue bom?! — nos nossos machucadinhos cotidianos, na nossa dieta e na nossa personalidade, nos crimes, nas guerras, nos partos. Ele está em nós e às vezes querem escapar por nossas narinas. Não dá pra fugir.