Arte: Nathalie Rodrigues
Trabalhar com uma vista para o mar é o sonho de muitos, mas trabalhar em um escritório flutuando sobre ele é uma oportunidade para poucos. No porto de Rijnhaven, nos Países Baixos, está ancorado um escritório flutuante: o Floating Office Rotterdam (FOR). O edifício de três andares foi projetado para ser desmontável e resistir às variações do nível da água, sendo capaz de subir e descer dois metros por dia, flutuando conforme a maré.
A 9.600 km de distância do FOR, em Joanópolis, no interior de São Paulo, brasileiros também criaram empreendimentos sobre as águas. Em 2019, a empresa Altar desenvolveu duas casas flutuantes que ficam ancoradas em represas e estão disponíveis para hospedagem. O projeto promete ser um meio sustentável de reconexão com a natureza.
Porém, ocupar corpos d’água e suas margens não é algo tão raro. Desde a Revolução Agrícola, populações desenvolvem tecnologias que possibilitam a ocupação de áreas sujeitas a variações do nível da água – como as enseadas, deltas e várzeas de rios. Os moradores vivem em casas que flutuam sobre troncos ou de palafitas para impedir que as residências sejam destruídas durante os períodos de cheia. A técnica é utilizada em diversos locais, como às margens do Rio Amazonas ou do Rio Mekong, na China.
Além de fenômenos naturais, como os períodos de cheia e vazante, outro fator tem alterado o regime fluvial: as consequências da mudança climática. Diante desse cenário, algumas empresas passaram a dedicar esforços para mitigar os agravantes desse problema. O FOR e o Altar, por exemplo, foram pensados para agredir minimamente a natureza: as estruturas são de material sustentável e placas solares geram a energia necessária. Contudo, no escritório, os resíduos gerados são apenas redirecionados para serem reciclados em terra firme. Na casa, um biodigestor trata o esgoto e o lixo sólido é levado a uma fazenda próxima para ser reaproveitado.
Para Alexandre Delijaicov, especialista em infraestruturas urbanas-fluviais, a ocupação das águas, da maneira como acontece hoje, não pode ser vista como uma alternativa para os problemas de regiões submersas ou superlotadas. Seriam necessárias, a longo prazo e em larga escala, a viabilização do tratamento de esgoto, a inserção de uma energia limpa e segura e a extinção do lixo para que os escritórios e casas flutuantes – e os que estão em terra firme – funcionassem de maneira sustentável. “A vida dos seres humanos no planeta está submetida a um modo de produção extremamente prejudicial para a saúde e equilíbrio da natureza. Tanto faz se estão embarcadas ou não.”