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E cadê todo mundo?

 

Por Maria Clara Rossini

 
Página 5 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

“A gente vê extraterrestres em filmes, pesquisas e tem até gente que diz ter visto Ovni voando por aí. Se a gente fala tanto dos benditos aliens, onde é que eles estão?” Isso parece algo que você ouviria em uma conversa informal. Por incrível que pareça, essa foi a mesma pergunta que o físico Enrico Fermi fez aos seus colegas em 1950 nos Estados Unidos. Foi ela que deu origem ao Paradoxo de Fermi.

 

Enrico Fermi desenvolveu o primeiro reator nuclear e recebeu o nobel de física em 1938. Apesar de todas as atribuições, ele não era astrônomo. A sua fala se transformou no paradoxo depois de cair na boca de outros astrônomos, de físicos e da mídia.

 

O paradoxo representa uma ideia bem simples: se existem outros planetas com vida inteligente, por que ainda não nos comunicamos com eles? Antes de responder essa pergunta, precisamos refletir sobre uma anterior a ela: existe mesmo vida inteligente fora da Terra? Atualmente, parte dos cientistas acredita que há uma probabilidade grande, enquanto outros fazem apostas menores.

 

Tudo isso culmina na Equação de Drake, criada pelo astrofísico Frank Drake em 1961. Ela prevê o número de civilizações com as quais nós poderíamos nos comunicar levando em consideração alguns outros fatores.

 

Página 5 - claro! Sideral

Equação de Drake. Imagem: Gabriela Bonin

 

 

Acontece que os cientistas ainda não conhecem os valores de todas essas variáveis e nem sabem se a equação realmente daria certo. Uma pequena alteração em um número pode representar uma grande diferença no resultado. Parafraseando o criador da equação, ela existe para organizar nossa ignorância.

 

Em comparação com organismos unicelulares, a probabilidade de existir vida inteligente fora da Terra é bem menor. No nosso planeta, os seres microscópicos foram as primeiras formas de vida a se desenvolverem e ainda hoje são a maior parte das espécies que conhecemos. No atual estágio da ciência, não conhecemos nenhum tipo de vida diferente da nossa. Assim, faria mais sentido que essa regra valesse para outros planetas também.

 

Por outro lado, uma civilização comunicável seria bem mais fácil de detectar. Assim como nós, eles emitiriam sinais eletromagnéticos vindos de seus celulares, TVs ou qualquer tipo de tecnologia. É por isso que há um esforço por parte dos astrônomos em tentar encontrá-las. O Instituto de Busca por Inteligência Extraterrestre (SETI, na sigla em inglês), associado à Nasa, dedica-se a fazer esse tipo de busca. Ele envia sinais de rádio e também está aberto a receber qualquer tipo de informação vinda do espaço.

 

Apesar dos esforços, nunca obtivemos resposta. A vida fora da Terra é um fato extraordinário — portanto, precisa de evidências extraordinárias para ser comprovada. Mesmo sem uma conclusão, as buscas são importantes para o desenvolvimento de tecnologias para nós, terráqueos. O princípio do armazenamento em nuvem, por exemplo, foi criado por uma demanda do SETI por guardar uma grande quantidade de informações.

 

 

Possíveis respostas ao paradoxo

 

 

Os ETs existem, mas são difíceis de achar 

Existem várias explicações para essa hipótese. Pode ser que a gente não esteja usando o jeito certo de comunicação, que os extraterrestres não possuam a tecnologia necessária ou mesmo que eles não queiram se comunicar. Não faz nem um século que começamos a procura pelos ETs, talvez a nossa tecnologia ainda não seja avançada o suficiente. Caso encontrem uma vida de uma natureza muito diferente da nossa, pode ser até que os cientistas nem consigam reconhecê-la como tal.

 

 

E se os ETs já estiverem aqui? 

A ufologia trabalha com essa hipótese, estudando as evidências de que os extraterrestres passam pela Terra constantemente. Ela conta principalmente com a pesquisa em campo, coletando relatos de milhares de pessoas. Outro ponto que suporta a ideia é a ufoarqueologia, que estuda pinturas rupestres, objetos milenares e mais. Segundo alguns ufólogos, o Stonehenge, datado de 1500 a.C., seria uma evidência dessas visitas.

 

Colaboraram:

José Estevão de Morais Lima – Ufólogo – Presidente da Aspet (Associação de Pesquisas Extraterrestres de Belo Horizonte)

Fábio Rodrigues – Pesquisador do núcleo de astrobiologia da USP

 

Por que nos interessamos pelo Universo?

 

Por Leticia Vieira

 
Página 9- claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

Uma inquietação particular de Galileu, lá no século XVII, pode o ter levado a conhecer os anéis de Saturno, os mares da Lua e os satélites de Júpiter. Mas, daí em diante, pouca ou nenhuma descoberta ocorreu em função de questões existenciais humanas.

 

“O que move o estudo do Universo, não é a curiosidade”. E quem diz isso não sou eu, é Augusto Damineli. Após mais de 40 anos de pesquisa e docência, o astrônomo parece convencido. Não estudamos o Espaço em busca de respostas para grandes dúvidas da humanidade, como a origem do que está a nossa volta ou se estamos sozinhos no Universo. São os avanços sociais e econômicos que motivam os investimentos em estudos espaciais.

 

Não é coincidência que EUA, Rússia, China e Índia, as maiores potências econômicas e bélicas do mundo, estejam na dianteira do estudo astronômico. A exploração espacial depende de altos investimentos e é uma grande fonte de descobertas tecnológicas. Não só aquelas que possibilitarão a sobrevivência em outros planetas, mas principalmente as que facilitam nossa vida aqui na Terra.

 

Ser útil para os cidadãos comuns é um dos princípios da Nasa e o que justifica os investimentos públicos que a agência recebe. Por isso, vários resultados do estudo espacial fazem parte do nosso dia a dia. Eles estão nas papinhas de bebê super enriquecidas, no seu aspirador sem fio e até no aparelho dentário transparente, feito de um material criado para proteger antenas infravermelhas no Espaço.

 

Mas não pense que as aplicações do conhecimento astronômico se resumem a uma questão utilitária. Cada uma delas amplia um pouco mais o nosso imaginário e abre espaço para criações como as aventuras de O Guia do Mochileiro das Galáxias, as missões de Star Trek, as batalhas de Star Wars e a realidade trágica de Wall-E.

 

Hoje, muito mais do que o encantamento pelo céu, são os produtos culturais que despertam o Galileu que há dentro de nós e nos fazem permanecer intrigados com as clássicas questões existenciais. Quais são nossas origens? O que faríamos no Espaço? O quão ético seria? Quem seríamos nós, humanos, num contexto de conquistadores espaciais?

 

Cláudia Fusco, jornalista e mestre em ficção científica, observa que as obras contemporâneas exploram a conquista do Espaço a partir dessas mesmas dúvidas, já presentes em produções dos anos 50.

 

Para ela, o público gosta de se encantar com naves espaciais, tecnologias futuristas, imaginar versões mais sofisticadas deste mundo. Porém, Cláudia é categórica ao afirmar que ficção científica sempre falará sobre pessoas. Isso porque, assim como na Astronomia, é sempre o fator humano que faz o lado de lá da nossa atmosfera ser tão interessante.

 

 

Colaborou com esta matéria: Sylvio Ferraz Mello, astrônomo professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

 

O mercado do futuro é o céu!

 

Por Henrique Votto

 
Página 8 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

 

Desde que o russo Yuri Gagarin esteve a bordo da Soyuz, em 1961, pouco mais de 560 seres humanos visitaram o espaço sideral.  Na próxima década, esse número pode simplesmente dobrar. A espaçonave Unity, da Virgin Galactic, por exemplo, realizou recentemente seu primeiro teste de voo suborbital bem sucedido, e deve fazer viagens comerciais tripuladas até 2020. Já são pouco mais de 700 assentos reservados, por não menos que US$ 200 mil por passageiro. Mas o que está por trás dessa revolução?

 

O turismo espacial da Virgin Galactic é apenas uma das vastas oportunidades comerciais que surgem no horizonte de uma nova explosão do mercado sideral. As grandes peças-chave no cenário de hoje são a mudança de mentalidade de governos e investidores, a evolução tecnológica e o barateamento dos custos. “O chamado New Space resulta da convergência desses fatores e tem levado à rápida proliferação de startups espaciais, com destaque para as empresas de microssatélites, lançadores de pequeno porte e tratamento de dados”, afirma Sidney Nakahodo, especialista em empreendedorismo na New York Space Alliance. De acordo com a agência Space Angels, entre 2009 e 2018, a injeção de capital em startups espaciais aumentou 442%, chegando a um total de US$ 2,97 bilhões no ano passado.

 

As empresas privadas passam a assumir um papel cada vez mais dominante, tornando-se as principais agentes do mercado. São elas que produzem os equipamentos, fornecem os serviços e impulsionam o desenvolvimento de tecnologias disruptivas, como a miniaturização, impressão em 3D e até mesmo a inimaginável reutilização de foguetes, da qual a gigante SpaceX é pioneira. E para Salvador Nogueira, dono do blog Mensageiro Sideral, na Folha de São Paulo, essa mudança de modelo é fundamental para o boom atual:  “É muito interessante porque obriga as empresas a competirem entre si. E isso naturalmente força os preços para baixo. No que você reduz o custo de acesso, começa a abrir possibilidades não só para as agências espaciais, que já tinham grana para fazer essas coisas, mas para empresas realmente empreenderem no espaço.”

 

Isso não significa que as agências espaciais nacionais como a Nasa ou a Roscosmos perderam o protagonismo. No contexto de corrida espacial, os órgãos governamentais ainda são aqueles com capacidade financeira para realizar os mais ambiciosos empreendimentos no céu. A grande diferença é que o modelo de negócio mudou e, em vez de comprar tecnologia, as agências podem contratar serviços completos de empresas privadas. “É o que a Nasa tem feito com o transporte de carga para a Estação Espacial Internacional e o que, em breve, acontecerá com o transporte de astronautas”, recorda Sidney. E tudo isso favorece um ambiente de cada vez mais oportunidades para explorar comercialmente o espaço sideral.


É claro que uma viagem para além da órbita da Terra, hoje, é algo completamente restrito. Mas essa expansão espacial já permite, por exemplo, que um funeral espacial da Celestis, que realizou 15 viagens com essa finalidade desde 1997, seja comercializado hoje por menos de R$ 10 mil. Antes acessível apenas para algumas celebridades – como o criador da franquia de cinema ‘Star Trek’, Gene Roddenberry –, hoje o serviço pode ser comprado por uma pessoa comum como o californiano Steve Munt. Ele inclusive lançou uma campanha de crowdfunding na internet para ajudar a financiar o envio das cinzas do seu falecido gato, o Pikachu, ao espaço. Até o momento, Steve arrecadou 50% do valor. “Sou muito agradecido à ciência e tecnologia por possibilitarem esse tributo final”, ele afirma em mensagem. Imagine só o que essa expansão pode possibilitar em um futuro próximo.

O Alien Tropical

 

Por Amanda Pechy e Bruno Menezes

 
Página 3 - claro! Sideral

Arte: Amanda Péchy e Gabriela Bonin
Diagramação: Giovanna Simonetti

O que o espaço nos reserva

 

Por Bruno Carbinatto e Sabrina Brito

 
Páginas 6 e 7 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

Os astrônomos têm só uma pequena dúvida: o que é o espaço? Você deve pensar em planetas, estrelas e luas — e a resposta não está errada, só muito incompleta. Isso porque tudo o que conhecemos por matéria — aquilo formado por átomos da tabela periódica, como você, uma cadeira e o Sol — constituem, juntos, apenas 5% do chamado universo. O resto é formado pelas chamadas energia escura e matéria escura, cujos efeitos na expansão do universo são detectáveis — mas elas, em si, não são. Ou seja, sabemos que há algo lá fora, só não sabemos o que é.

O futuro da astronomia é complexo e, de certa forma, imprevisível. Mas avanços recentes apontam que estamos perto de descobrir mais sobre a escuridão que nos ronda. As perguntas, no entanto, estão longe de acabar.

Mais do que descobrir o que compõe o universo, é preciso entender ainda como ele surgiu. Apesar de termos avançado nos últimos tempos e de teorias como a do Big Bang serem consolidadas, ainda faltam muitos detalhes. Como costuma formular o astrônomo estadunidense James Trefil, a pergunta que fica é: “por que existe algo ao invés de nada?”.

 

Estamos sozinhos?

Se há 30 anos pensar em aliens era coisa de ficção científica, hoje podemos afirmar que a busca por vida fora da Terra é tema central na ciência astronômica. Nesse ponto, é preciso dividir a área em dois campos bem diferentes.

A astronomia extrassolar busca vida em astros extremamente distantes de nós, tentando identificar planetas ou luas com características similares à da Terra e compatíveis com a vida. É principalmente nesse cenário que se encontra a possibilidade de vida inteligente.

Já para os nossos vizinhos solares, o processo é mais direto: a astronomia está investindo cada vez mais nas missões chamadas landers, em que robôs literalmente pousam nos astros, coletam amostras e as trazem para a Terra para estudo. Além da Lua, que já foi analisada por dessa forma, missões desse tipo estão sendo planejadas para Marte e para algumas luas de Saturno e Netuno, candidatas para abrigar formas primitivas de vida.

 

O grande obstáculo para a maior ambição

Nesse mar de dados e informações, avanços tecnológicos recentes mudaram e devem continuar revolucionando a astronomia no futuro próximo. No espaço, os equipamentos usados ficam cada vez menores e mais leves; na Terra, telescópios são cada vez mais potentes e avanços na área de computação permitem o armazenamento e análise de dados em uma frequência surpreendente. Tudo isso, porém, esbarra naquele que é o maior desafio dos avanços da astronomia: dinheiro. Explorar o espaço é muito, muito caro.

É por isso que a colonização de outros planetas ainda é um desafio. Embora cientistas discordem sobre a factibilidade da empreitada que culminaria na conquista de luas e astros para além da nossa galáxia, todos parecem concordar que colonizar planetas no nosso sistema solar é, sim, possível — mas está longe da atual realidade.

Contudo, a ciência avança a passos largos. “Lembre-se de que, há 100 anos, estávamos começando a entender que as galáxias são objetos fora da Via Láctea, e Einstein estava formulando sua teoria da relatividade”, comenta Antonio Cabrera-Lavers, chefe de operações científicas do Gran Telescopio Canarias, segundo maior telescópio do mundo.

Outra ideia que é consenso entre os especialistas é a de que a curiosidade humana não tem limites, e é isso — em conjunto com o avanço tecnológico — que nos fará continuar vasculhando o universo. Para James Trefil, o ser humano é “uma raça exploradora do espaço por definição”.

 

 

O que está por vir

Afinal, qual será o futuro da relação entre essa espécie inatamente interessada pelo universo e esse tão desconhecido ambiente? Antes de especular sobre isso, afirmam os cientistas, é preciso nos preocupar com o que está mais perto de nós: o bem-estar da Terra. Só se conseguirmos reverter a caótica situação em que se encontra o nosso planeta é que poderemos abrir os horizontes da ciência para de fato explorar o espaço.

Para os mais pragmáticos, como Cabrera-Lavers, a conquista do cosmos pode até despontar como a única chance que a humanidade tem de sobreviver. A fuga do nosso planeta pode ser, diz ele, o modo como evitaremos a nossa própria extinção.

Ainda assim, grandes avanços na investigação do universo podem não representar as enormes mudanças que esperamos que eles signifiquem. De acordo com a perspectiva de Stuart Atkinson, o cosmos será somente um novo pano de fundo para as antigas desavenças humanas. “Transferiremos nossas brigas para lá, com ricos explorando pobres e brigas por recursos naturais. Será um local sujo e duro”, descreve.

Já Sarah Scoles, escritora especializada em ciência, acredita que o temor humano em relação ao que existe lá fora vem da abundância de coisas a se temer na Terra. “Espero que, algum dia, as coisas estejam mais pacíficas e estáveis aqui. Então, o mesmo valerá para o que pensamos sobre o espaço”, conta.

 

Como a ciência chega ao público

Apesar do valor de se buscar respostas para os mistérios da astronomia, pode ser fácil se perder em meio às informações que já possuímos — isso sem falar nos estudos, que estão sempre sendo atualizados e reproduzidos. Como, então, deixar todos a par do que está acontecendo? É esse o papel da divulgação científica.

A importância de escrever artigos sobre o espaço para pessoas sem conhecimento aprofundado sobre o assunto é simples: educar a população sobre o nosso lugar no universo. De acordo com Sarah Scoles, escritora focada em ciência, a meta é popularizar informações de forma simples e em veículos de grande circulação, para que leigos possam aprender sobre o tema sem dificuldade. “Eles não lerão jornais acadêmicos e artigos — e nem deveriam! A escrita científica torna a ciência mais acessível e contextualizada”, opina.

 

Colaboraram

Rosaly Lopes, cientista e vulcanóloga brasileira da NASA

Roberto Costa, astrofísico do IAG com foco em química

John O’Meara, físico norte-americano e cientista-chefe do Observatório Keck, segundo maior do mundo

 

 

A Humanidade e o Céu

 

Por Pedro Vittorio e Thais Navarro

 
Página 3 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

Desde os primórdios, o ser humano observa o céu. Para entender momentos chave dessa relação histórica, montamos uma linha do tempo com datas indicadas pelo prof. Rundsthen Nader, do Observatório de Valongo, UFRJ.

 

Um breve panorama astronômico

 

séc. XIII a.C.

Há registros de que os povos babilônios já podiam prever o acontecimento de eclipses.

séc. III a.C.

O astrônomo Erastótenes, natural de Cirene, colônia grega na atual Líbia, calculou pela primeira vez o diâmetro da Terra. Já Aristarco de Samos, na Grécia, propôs que a Terra se movia em torno do Sol — muito antes de Nicolau Copérnico, no século XVI.

séc. XIII d.C.

São criadas as Tabelas Afonsinas, por iniciativa do rei Afonso X, de Leão e Castela (reinos localizados onde são hoje Portugal e Espanha). As tabelas permitiam o cálculo das posições do Sol, da Lua e dos planetas do Sistema Solar.

1609

O uso do telescópio é introduzido na astronomia por Galileu Galilei.  Para Rundsthen, trata-se do evento mais marcante da história da astronomia.

1687

Isaac Newton publica a obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, que fixou as bases teóricas da Mecânica Clássica e da Teoria Gravitacional — teorias que possibilitaram, por exemplo, um estudo aprofundado dos movimentos dos corpos celestes. Newton também havia inventado em 1668 o telescópio refletor, uma variação do telescópio que funciona em um espectro de luz mais amplo do que os outros.

1905

Albert Einstein apresenta ao mundo a teoria da Relatividade Restrita, que permite a descrição da física do movimento na ausência de campos gravitacionais. Em 1915, apresenta a Relatividade Geral, que aponta, entre outras coisas, a existência dos buracos negros — cuja primeira captação em imagem, por sua vez, foi feita em 10 de abril de 2019.

 

O Homem Pisou na Lua…

 

Por Thais Navarro

 
Página 4 - claro! Sideral

Kennedy Space Center, na Flórida, de onde a Apollo 11 decolou em 1969. Imagem: Thaís Navarro

 

Era um dia de sol de setembro de 1962 quando John F. Kennedy anunciou que mandaria um homem para a lua. Kennedy fez com que 40 mil pessoas ficassem em silêncio e outros milhões por todos os Estados Unidos vidrassem os olhos para assistir a transmissão televisionada do seu discurso no Rice Stadium, no Texas. “Nós escolhemos ir para a Lua nesta década, não porque é fácil, mas porque é difícil. Porque é um desafio que estamos dispostos a aceitar e que pretendemos vencer”. Sete anos depois, em 20 de julho de 1969, os mesmos olhos vidrados assistiram ao vivo os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, a bordo da Apollo 11, pisarem no satélite.

A mais de 6000 quilômetros da Flórida (de onde a nave decolou), um garoto pré-adolescente da periferia de Araraquara assistia ao pouso na casa dos tios em São Paulo, onde havia uma televisão. Com o mesmo brilho nos olhos que só quem viveu o momento pode ter, Ramachrisna Teixeira, hoje professor associado do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP, conta suas lembranças da época — e  do ceticismo que existe até hoje em relação ao feito. “Na minha cidade, quase ninguém tinha sequer viajado de avião. Estávamos muito distantes da tecnologia construída para colocar o homem na Lua, então muitos acharam que era impossível”.

 

Página 4 - claro! Sideral

A Nasa, agência espacial americana, foi responsável por levar o homem à Lua. Imagem: Thaís Navarro

 

 

Só que havia outro tipo de ceticismo: o de quem não queria dar o braço a torcer para os Estados Unidos. Era época de Guerra Fria. Apesar de, por motivos que não se lembra, o professor Teixeira lembrar de ter estado ao lado da Rússia, este tipo de ceticismo também nunca passou pela cabeça dele. No bairro mal iluminado onde vivia, ele costumava ver o céu estrelado com seus amigos e falar sobre futebol, Guerra Fria e Corrida Espacial. Ver aquilo finalmente acontecendo diante dos seus olhos, então, era único.

Quem também não duvidou nem por um segundo foi Timothy Ferris, jornalista que, entre 1967 e 1969, trabalhou na agência de notícias United Press International (UPI). Entre risadas e uma empolgação próprias de quem ama escrever e falar sobre Ciência, ele lembra que o episódio foi primeira página de quase todos os jornais do mundo, e que foi elucidativo. “Antes da Apollo 11, a melhor vista que se poderia ter do céu era através de um telescópio. Com um dos grandes, a visão era um pouco melhor. Mas tudo era em grande parte misterioso”, conta, ressaltando que, é claro, também sentiu um orgulho americano.

 

Página 4 - claro! Sideral

Fachada do Kennedy Space Center, em Orlando, Flórida, uma das estações da Nasa. Imagem: Thaís Navarro

 

E o jornalista apaixonado lembra que a missão tornou os dois astronautas que a conduziram espécies de heróis americanos para toda a vida. Houve diversas produções culturais dos mais diversos formatos sobre o episódio e seus protagonistas: músicas, histórias em quadrinhos, filmes, livros. Um exemplo é o filme “O Primeiro Homem” (2018), baseado no livro homônimo de James Hansen, que escreveu a única biografia oficial e autorizada de Armstrong. Hansen, que tinha só dezessete anos quando assistiu ao pouso, lembra sem titubear de como se sentiu. “Fiquei acordado até tarde com a minha família para assistir, não precisava esperar por um jornal ou revista com a notícia. E foi tudo muito emocionante”, diz.

A importância de lembrar deste fato que ocorreu há cinquenta anos deve-se — além da importância que ele e toda a corrida espacial trouxeram para os desenvolvimentos científicos e tecnológicos consequentes, como destaca Teixeira — ao quanto ele restaurou a esperança e instigou a imaginação. “Aquele momento fez todos pensarem sobre a humanidade e suas capacidades”, diz Hansen. E Ferris completa: “As revoluções tecnológicas que se mostraram possíveis começaram com a imaginação. E, felizmente, muitas pessoas ainda estão imaginando e sonhando hoje”.

 

Perdendo o sono

 

Por Bruno Nossig

 
Página 11 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

Estou tentando dormir, mas não consigo.

 

Ultimamente tenho tido mais dificuldade para pegar no sono. Não é muito fácil dormir aqui na estação. A ausência de gravidade é um dos problemas, e não estamos de fato dormindo em uma cama confortável, como é de se imaginar. Apesar de estarmos acostumados ao ruído da aparelhagem, ele ainda incomoda.

Já perdi o sono outras vezes. Minha solução é sempre manter a calma e continuar pensando, até que em algum momento o cansaço prevaleça.

 

Mas, mesmo assim, não consigo dormir e, não sei dizer o por quê.

 

Hoje não notei nada de diferente. Nas atividades não senti nenhuma variação de humor, o que é um bom sinal. O próprio centro de controle, que nos avalia diariamente, não percebeu nenhum comportamento fora do habitual. Os meus dois companheiros de missão não reportaram nada de estranho na forma como agi. Eu também não notei nada de muito diferente neles. No protocolo tudo segue normal.

Já estamos no quarto mês da missão, e agora nos resta mais dois. De cabeça não sei dizer ao certo em que dia estamos. Mas isso pouco importa. Poderia tentar fazer as contas para me cansar, mas isso normalmente me deixa mais acordado.

Insônia é algo que enfrentamos constantemente aqui. Costumamos dormir cerca de seis horas diariamente, mesmo que tenhamos oito estipuladas pela missão. Mas, nos últimos dias, minha média deve ser menor. Poderia me ocupar agora com o livro que trouxe, mas quero guardá-lo para outros dias.

 

Hoje, eu só tenho um pouco de dificuldade de dormir.  

 

Para chegar até aqui passei por uma avaliação extremamente detalhada. Os testes psicológicos, assim como os físicos, foram longos e minuciosos, já que tentam avaliar  e simular como a personalidade e reações seriam no espaço. Eu fui bem avaliado, o que gera uma certa confiança para os momentos de adversidade.

Do meu lado, meus companheiros são excelentes. Nenhum deles é impulsivo ou agressivo. Nunca apresentaram grandes variações de humor, o que também facilita a convivência. Juntos já passamos pela parte mais difícil da missão.

 

O início é sempre mais estressante. A adaptação a rotina da estação não é simples. Mesmo com todo o treinamento que passamos, vamos dizer que não é fácil se acomodar em um lugar desses.

Posso dizer que o quarto mês tem sido mais estável. Nos últimos dias da missão, quando o cansaço e estresse são maiores, minhas queixas fariam mais sentido. Ainda assim, eu só gostaria de ir dormir.

Não gosto de pensar nas possíveis mudanças que estão ocorrendo no meu corpo, algo que só vou conseguir sentir quando voltar. As últimas pesquisas não têm sido muito animadoras. Perda de massa óssea, músculos atrofiados, danificação em alguns órgãos… Os dois exercícios diários não impedem que nosso corpo mude, já que o corpo humano não está adaptado a viver sem gravidade.

 

Algumas coisas de fato já começaram a me irritar. Os protocolos de checagem, a monotonia, a paisagem…Olhar para a Terra é interessante da primeira vez, mas já se tornou algo comum, e o vazio do espaço não ajuda. Ficar isolado da sociedade, também, não facilita em nada. Faz muito tempo que não vemos os amigos, a família… mas não preciso me preocupar com nada disso nesse momento.

 

Agora, só preciso dormir.

 

Colaborou: Thais Russomano, coordenadora do Centro de Microgravidade

 

Espaço doce lar

 

Por Andre Martins

 
Página 10 - claro! Sideral

Imagem: Juliana Santos

 

Em 2017,  o físico Stephen Hawking alertou para a necessidade de se colonizar outro planeta em até 100 anos. Se, de fato, precisássemos nos “mudar” para além da Terra, o que precisaríamos saber e levar em consideração? Quais as perspectivas para uma expansão humana interplanetária?

 

Afinal, o ser humano viverá em outro planeta?

A resposta para essa projeção ecoou de forma unânime entre os entrevistados: é inevitável. “A Terra é o berço da humanidade. Mas o ser humano não fica no seu berço a vida inteira”. A frase, menção de um pesquisador, é do cosmonauta russo Konstantin Tsiolkovsky, um dos cientistas desbravadores de estudos espaciais.

Esse pensamento reflete bem as afirmativas dos pesquisadores. E também permite entender que, apesar de concordarem com essa tendência, o consenso é que a realidade da exploração espacial ainda se ancora no nível de incipiência.

 

 

Mas quais os destinos prováveis para uma primeira colonização?

De bate pronto, Marte e Lua. O primeiro, além de ser mais vantajoso do que nosso satélite natural do ponto de vista de pesquisas científicas, é o planeta mais próximo da Terra e possui a atmosfera mais semelhante à terrestre.

Em 2015, a Nasa revelou o seu plano de viagem para o planeta vermelho: uma colônia humana em território marciano a partir de 2030. Nossos entrevistados que quiseram arriscar a projeção de tempo acreditam levar ainda várias décadas — cerca de cinco, para ser mais exato.

A Lua, por sua vez, é considerada por alguns dos entrevistados como o passo inicial para uma colonização e tem a estimativa mais curta, estipulada para a próxima década. Além do ser humano já ter chegado lá, interesses econômicos de extração mineral podem ser decisivos para a implantação de uma base lunar.

A Nasa também possui planos de enviar astronautas à Lua em 2024, na batizada missão Artemis. Esta será a primeira expedição, em 50 anos, a enviar uma astronauta mulher ao nosso satélite natural. O administrador da Agência Espacial dos EUA, Jim Bridenstine, afirmou recentemente que a Lua será o “campo de provas” para a chegada do ser humano a Marte.

 

Check-list: o que precisamos levar em consideração para viver além da Terra

Ao colonizar um planeta, é importante ter em mente que os parâmetros listados não possuem ordem. Dito isso, comecemos pensando:

Transporte: de preferência totalmente reutilizável, com maior potência, menor custo e mais seguro — a aterrissagem, tanto na Lua como em Marte não é das mais suaves, fazendo um eufemismo.

Autossuficiência: precisamos pensar que um abastecimento vindo da Terra é inviável. Por isso, é fundamental que uma colônia de longo prazo consiga suprir e reciclar suas necessidades de nutrientes, microorganismos, oxigênio, água, dejetos e energia.

“Sobrevivência”: para uma colonização perene, é preciso recriar as condições que propiciam a vida como a conhecemos: toda uma biosfera desenvolvida, sem falar na preocupação com temperatura, atmosfera controlada, alterações de gravidade, efeitos biológicos no ser humano, campo magnético protetor e blindagem contra radiação. E ainda tem os fatores culturais e psicológicos.

 

Colaboraram: Antonio Bertachini, pesquisador em Engenharia Espacial do Inpe, e os integrantes do Laboratório de Astrobiologia da USP, Ana Schiavo e Gabriel Gonçalves, mestrandos, e Fabio Rodrigues, professor.

 

Teaser – claro! Sideral

 

Por Giovana Christ e Bruno Carbinatto

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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