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Do excesso à falta, o porquê do fim

 

Por Caroline Aragaki e Karina Merli

 

Antes fosse licença poética, mas perder-se na pessoa amada para corresponder a expectativas e manter um relacionamento — algo citado por muitos eu líricos — é mais comum do que se imagina. A verdade é que conciliar o plano idealista com o de carne  e osso tem lá seus choques de realidade.

No começo, os encontros são fáceis. As conversas, também. Nelas, o casal encontra muitas coincidências de vida e que parecem guiar ao porquê ambos estão ali, de mãos dadas. É quase óbvio o motivo pelo qual não deu certo com ninguém antes: é para dar certo agora. A euforia é tão grande que não sobra espaço para dúvidas.

De repente, já se passaram alguns meses. Aquele frio na barriga começa a diminuir, cedendo lugar para alguns desentendimentos. Mas outros casais também passam por problemas e continuam juntos mesmo assim… Por que esse relacionamento não sobreviveria também?

A causa pode ser tão banal quanto uma louça na pia. A falta de divisão de tarefas domésticas, que no início parece algo tão simples de ser resolvido, como um garfo e uma faca sujos,  aos poucos se torna difícil de ser ignorada. 

Outras vezes, o motivo é material, como o dinheiro. O problema não necessariamente se inicia pelo salário em termos numéricos, mas na proporção de gastos. Quando um casal é formado por uma pessoa que gasta mais do que recebe e outra que preza por economizar, a diferença passa a pesar.

E já que salários foram mencionados, a dedicação excessiva ao trabalho também pode ser um impasse. Um dia, o jantar a luz de velas é substituído por um happy hour de confraternização da empresa. Em outro, o roteiro romântico para degustar vinhos não sai do papel por conta de horas extras e viagens corporativas que minam o tempo a dois. 

Em alguns casos, nem mesmo a convivência e a proximidade desejadas resolvem inseguranças exacerbadas. Difíceis demais de serem verbalizadas, elas ecoam dentro de quem as carrega. E sufocam. Em meio a essa agonia, os pedidos para cessá-las são vistos em crises de ciúmes, cobranças desmedidas e até mentiras. 

Os incômodos iniciais parecem exceções, mas se prolongam. Nas entrelinhas, é perceptível que uma vida a dois já não é tão natural quanto antes. Mesmo assim, há esperanças de que, com uma conversa aqui e uma adaptação ali, a corda bamba do amor se torne menos traiçoeira. 

Quando a tentativa para não cair é exagerada, a individualidade de cada um some. Isso se afasta da dinâmica de uma união saudável, em que os amantes são capazes de caminhar juntos e valorizar as particularidades de cada um, explica Zuleica Pretto, psicóloga especializada em relações amorosas. 

Isso porque aos poucos as duas pessoas que existiam no início não se tornam apenas uma, como gostam de romantizar, mas nenhuma. O perder-se para se adaptar ao outro se transforma no querer-se de volta. E assim, o entrelaçar de dedos se desfaz e cada um segue por um caminho diferente. 

De falta em falta e excesso em excesso, rompimentos acontecem. Um a cada três casamentos resulta em divórcio no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2019. Para os que continuam juntos, resta pensar em como alcançar o tal equilíbrio. 

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Na corda bamba do amor, o que vale tentar? Infográfico: Gabrielle Yumi e Renan Sousa

 

Colaboraram: 

Anne Brito, advogada especialista em Direito da Família e Sucessões;

Fabricio Posocco, especialista em Direito da Família

E pessoas que não quiseram se identificar e já passaram por términos de namoro e casamentos.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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