Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre
Olhos fechados. Respiração sutil. Corpo imóvel. As referências que podem facilmente ser associadas a uma pessoa dormindo também compõem um quadro de inconsciência mais profundo e ainda misterioso, o coma.
A condição é caracterizada pela perda prolongada da consciência e a ausência de resposta a estímulos do ambiente. Ele é um estado que evidencia lesões estruturais ou não estruturais do Sistema Nervoso Central decorrentes de traumas, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), tumores, inflamações e outras condições.
Apesar de poder acontecer de forma natural, o coma também pode ser induzido através de fármacos para preservar a região afetada. Wagner Tavares, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP, conta que o objetivo dessa abordagem é reduzir o funcionamento dos neurônios para poupá-los de atividade em situações que demandam repouso do cérebro.
Esse foi o caso de Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos. Por ter tido complicações após uma cirurgia, teve uma infecção generalizada e foi induzida à condição. Ela conta que, enquanto estava desacordada, sabia que estava em um hospital, mas não lembrava o motivo. A sua inconsciência foi tragada por pesadelos. Em sua mente, as enfermeiras tentavam matá-la queimada ou afogada, e era perseguida a todo instante. Tudo isso sentido vividamente por ela, mesmo desacordada.
Duas semanas se passaram. Ela ouvia sua família falando com ela, mas não conseguia responder. Aos poucos foi retomando a consciência até despertar, confusa com o que havia acontecido e com quanto tempo havia se passado. Segundo Tavares, é comum que pacientes percam a noção temporal durante o coma e acordem confusos. Na grande maioria dos casos, eles não se lembram de qualquer coisa.
Para Jaine, o estado de coma foi um intenso processo espiritual e psicológico. O tempo que passou desacordada na verdade despertou nela um senso de gratidão e uma nova ótica para enxergar o mundo. Ainda que imóvel e inconsciente, o tempo passa e a vida continua.
Colaboraram:
Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos
Wagner Tavares, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP