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Bye Bye Brasil

 

Por Andre Amorim e Laura Toyama

 

estrangeiro

Arte por Bruna Irala e Mayara Prado

 

 

Alguns brasileiros alimentam o desejo em deixar a sua pátria para viver em outro país, como estrangeiros. Uma pesquisa Datafolha, de 2018, mostra que 43% da população adulta e 62% dos jovens (16 a 24 anos) têm esse ímpeto. Em 2020, eram 4.215.800 no exterior. Os motivos que os levam a mudança são os mais diversos, desde a situação econômica até a questão da violência endêmica do Brasil. 

 

Daniela Ohuti, 42, tinha 23 anos quando mudou-se para o Japão, em outubro de 1998. Era técnica de informática recém formada, mas não encontrava emprego. Quando a oportunidade de migrar surgiu, vislumbrou nisso uma alternativa de melhoria de vida. Sua ideia inicial era ficar alguns anos, juntar dinheiro e voltar. Já vivendo lá, e apesar de já estar acostumada com a vida no Japão, Daniela sentia que havia algo faltando. Esse algo era a saudade da família, que havia deixado para trás. Com o nascimento do seu filho, em 2005, decidiu que era hora de voltar pro Brasil. Atualmente, ela não pensa mais em sair do país. 

 

Se para Daniela foram as questões econômicas, para outros a razão pode ser a sensação de insegurança que faz querer arrumar as malas e partir para um lugar estranho. Andrea Faria, 52, é filha de pai português e sua descendência a fez buscar se naturalizar em Portugal com as filhas. Ela enxerga o país como um lugar mais seguro que o Brasil, ainda que casos recentes de xenofobia por parte dos portugueses a façam ter medo da mudança. Esse estranhamento se traduz em números: 86% dos imigrantes já sofreram discriminação, segundo um relatório (2020) da Casa do Brasil de Lisboa (CBL). Além da preocupação com a recepção por lá, a pandemia e outras questões pessoais fizeram com que adiasse a ida para Portugal. 

 

Atualmente, brasileiros que desejam sair do país têm como principal destino a América do Norte. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, quase dois milhões de brasileiros vivem na região. Para o professor Igor Machado,  coordenador do Laboratório de Estudos Migratórios da Universidade Federal de São Carlos, a predileção pelos Estados Unidos (EUA) tem razões culturais: “Há uma narrativa que incentiva essa ideia de que lá  as pessoas progridem mais economicamente, há um ideário do enriquecimento”. Está no imaginário de quem migra as oportunidades que o país oferece. Igor também ressalta que há tanto tempo os brasileiros migram com esse destino, que há uma comunidade brasileira já consolidada por lá: “Quanto mais redes estabelecidas num lugar, mais fácil é ir para lá”. 

 

Algumas experiências são determinantes para despertar o desejo de ir e se tornar um estrangeiro. Jéssica Vieira, 24, sempre estudou inglês e fez alguns intercâmbios antes de se mudar de vez para os EUA. Ela conta que foi muito bem recebida quando chegou, e não vislumbra um movimento de retorno ao Brasil tão cedo. “Acredito que ainda há muitas oportunidades para mim aqui, oportunidades que não existem no Brasil”, conta. Essa visão demonstra uma cristalização do exterior como um lugar de mais possibilidades para os que escolhem ser estranhos. 

 

Colaboraram:

Andreia Cristina de Faria Furtado,  professora da rede pública de São Paulo

Daniela Ohuti, bancária na Caixa Econômica Federal

Igor Machado, coordenador do Laboratório de Estudos Migratórios da Universidade Federal de São Carlos

Jessica Vieira Leme, estudante na área de comunicação na  Universidade da Pensilvânia

Cultura estrangeira por todo lado

 

Por Daniel Terra e Marcelo Canquerino

 

Basta ligar o rádio ou abrir o catálogo da Netflix para você enxergar a grande quantidade de produções culturais dos mais diversos países. Músicas como Sour Candy, parceria entre Lady Gaga, cantora americana e BLACKPINK, grupo sul-coreano, e séries como Dark, da Alemanha, e Elite, da Espanha, são alguns exemplos. 

Pensar na forma como a cultura estrangeira adentra no Brasil é falar sobre como são estabelecidas relações entre as nações. Essa influência ocorre de modo sutil, a partir de inserções culturais externas capazes de formar projeções de outros países no imaginário popular. Uma moeda de dominação definida como soft power.

 

Infográfico - Marcelo e Daniel (Novo)

 

A era dos streamings e os mecanismos de influência do soft power

 

“A principal arma do soft power atualmente é a tecnologia computacional, ou seja, o mundo integrado a partir da internet e das redes sociais”, explica Wagner Pereira, professor de história da UFRJ e do programa de pós graduação em psicologia social da USP. Acesso a filmes, séries e músicas através dos streamings é cada vez mais comum no mundo e, a partir destas plataformas, a disseminação cultural tornou-se uma das maiores da história. 

A mídia também é outro fator importante. Por meio dela a população conhece as produções culturais de massa. Antônio Xavier, doutor em comunicação e semiótica pela PUC-SP, explica que os meios de comunicação são veículos não só de disseminação de cultura, mas também de esquecimento. “A partir do momento que tomamos a mídia como ponto de partida para conhecer culturas, tudo que não está veiculado/midiatizado passa por um apagamento.” 

No nosso dia a dia, esse poder fica até mais claro em algumas situações, como a influência de uma crítica na hora de escolher o que ver no cinema ou em casa. Neste caso, o poder de sedução do soft power também está atrelado a psicologia. Quando muitas pessoas estão consumindo um produto, a música ou série do momento, aquele que “está de fora”, vai buscar consumi-lo. Isso é instintivo do ser humano, segundo Wagner. 

 

 

O resultado da influência 

 

Atualmente, é possível falar de certo hibridismo cultural, uma junção entre elementos estrangeiros e brasileiros. A forma como consumimos, por exemplo, foi sendo assimilada a partir de um modelo dos Estados Unidos. Ao longo do tempo comer fast foods e comprar na tão esperada black friday se tornou muito comum na vida do brasileiro.

A influência cultural dos Estados Unidos se mantém como uma das mais fortes, não só no Brasil como no mundo, em função de ocorrências histórias, segundo Virgílio Arraes, professor no Departamento de História da UnB. Desde a 2ª Guerra o soft power está presente em sua política revelando seu aspecto não apenas ideológico, mas econômico. A política de boa vizinhança, implantada à partir de 1933, levou nossa imagem para a América do Norte, e trouxe a imagem dos estadunidenses para o Brasil através de ferramentas como filmes. 

No clássico média metragem de Walt Disney “Você já foi à Bahia?”, Pato Donald vem conhecer a Bahia e conhece Zé Carioca, que representa o Brasil, e o Galo Panchito, representando o México. 

https://www.youtube.com/watch?v=NLuHm9x2S14 

A construção dessa visão dos EUA perdura até os dias atuais. A influência que o Brasil sofre vai desde o consumo dos diversos produtos culturais, até a imagem “perfeita” que os brasileiros têm com os estrangeiros, refletindo no que assistimos, ouvimos e comemos.

 

Colaboraram: 

Ernesto Magalhães: Gerente de comunicação no Consulado Britânico do RJ.

Luana Caroline Kunast Polon: Mestre e Licenciada em Geografia (UNIOESTE); Professora Formadora na UNIPAMPA. 

Paulo Henrique Heitor Polon: Mestre em Sociedade, Cultura e Fronteiras (UNIOESTE) e Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais (UEL); Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). 

João Reino: Vice-Cônsul do Brasil nos EUA.

Thaís Matos: Jornalista Cultural do Portal G1

Eduardo Filho: Jornalista Cultural da Revista Veja 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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