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…o que fazemos para ser parte da família?

 

Por Erick Lins e Leonardo Vieira

 
Arte: Adrielly Kilryann e Guilherme Castro

Vestir a camisa da empresa, ter a sensação de pertencimento à família empresarial, se doar ao máximo ao trabalho, ter o pet ao seu lado durante a jornada, confraternizar com os colegas durante os finais de semana, poder se vestir da maneira mais confortável, happy hour. Empregado? Não! Colaborador, família.

De acordo com Ana Cristina Limongi Franca, professora da Escola Politécnica da USP, além de especialista em gestão de pessoas e comportamento organizacional, esse cenário surgiu a partir da década de 1990, com a expansão do neoliberalismo, o que levou a ações de gestão da qualidade do ambiente profissional e humanização. “Para as empresas, é uma forma de gerar aproximação, por outro lado, transmite uma falsa sensação de poder ao funcionário.”

Essa narrativa, entretanto, pode se configurar em assédio moral no trabalho, segundo a Cartilha de Prevenção ao Assédio Moral do Tribunal Superior do Trabalho (TST). O documento explica que as empresas utilizam estratégias organizacionais – como impor condições de trabalho personalizadas, diferentes daquelas acordadas e previstas em contrato, e delegar tarefas impossíveis de serem cumpridas – criam uma cultura institucional de humilhação e controle. Algumas dessas são amparadas pelo discurso organizacional.

Maria Clara do Nascimento*, coordenadora de recursos humanos (RH), esclarece que viveu uma situação de abuso: “essa cultura acolhedora, familiar, era uma estratégia de fazer com que nós [funcionários] achássemos normal passar tanto tempo dentro da empresa”. As consequências desse sistema podem afetar a saúde física e mental dos funcionários. Ela conta que a pressão da empresa desencadeou crises de ansiedade, insônia e burnout. A terapia é mais sobre trabalho do que qualquer outro assunto.

Para o vendedor, João Guilherme de Andrade*, esse discurso funciona apenas quando convém para a empresa. Ele relata que durante o expediente, em um sábado, véspera do dia das mães, ninguém havia falado de fazer hora extra. Próximo ao fim da jornada, seu chefe perguntou se ele poderia ficar duas horas a mais. “Informei que não seria possível, pois tinha um compromisso marcado. Ele começou a falar que eu não valorizava a empresa, que era ingrato.”

*Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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