Cresci em uma Igreja Católica Apostólica Romana. Nesse domingo, resolvi conhecer a Igreja Católica Renovada, notável pelos rituais performáticos e exorcismos coletivos. No número 174 da Rua Guarapuava, perto da estação Bresser-Mooca, localiza-se o Santuário do Bom Jesus. Na fachada há um letreiro escrito à mão com as palavras “Padre Jader Pereira”. Era o padre exorcista que procurava.
Eram 14h56 e a Missa de Cura e Libertação começava em minutos. Às 15h15, entra Padre Caetano no altar. Puxa cantos e anda de um lado para o outro sem parar. Os fiéis, agora somando uma centena de pessoas, não parecem muito concentrados. Uns chegam, outros se abraçam e crianças correm pelos corredores durante a missa.
Enquanto canta, Padre Caetano averigua uma sala em um recuo do altar. Lá estava o criador do santuário, Padre Jader. Seu discípulo pede para todos se erguerem e o padre exorcista entra aplaudido de pé pelos fiéis. Durante a homilia*, Jader cita a distribuição de água benta exorcizada ao final da missa, “para levar a quem possui males espirituais”.
Depois de alguns rituais iniciais, ocorre a libertação, uma espécie de exorcismo coletivo.
Padre Jader pede aos presentes para esticarem os braços com as velas nas mãos, compradas em uma loja ao fundo da igreja. Cada uma corresponde a um anseio: vela branca, para curar doenças físicas; vela azul, para transtornos espirituais; e mais umas seis cores, cada uma referente a emprego, família, amor e outros possíveis desejos de um ser humano. Os fiéis erguem a vela e o padre atenta: “Se alguém, ao acender a vela, passar mal, fique tranquilo”. Os ajudantes do santuário, vestidos com um colete amarelo, passam com as velas acesas e repassam o fogo.
“Fechem os olhos”. Os presentes colocam as velas no chão, cerram as pálpebras e Jader começa a sessão. Amansa a voz, profere palavras de elevação de auto-estima e expulsão de negatividade. Para tirar do corpo quaisquer “males, macumbas e feitiços”, diz. “Agora é a hora da LI-BER-TA-ÇÃO”. No “-ção” a música Fortuna, de Carmina Burana invade o santuário. As pessoas choram e se entregam ao momento. Os ajudantes passeiam entre os fiéis para caso alguém se sentisse mal. Não, todos se mantiveram sob controle.
Os ânimos se acalmam.
As velas usadas ao longo da celebração não podem ser levadas para casa. É como se os problemas fossem transferidos para elas. Por isso, são colocadas na Gruta Milagrosa do Bom Jesus, ao lado da lojinha no fundo da igreja.
Velas, óleos para curar dores, água benta, terços e até pequenos travesseiros com a estampa do rosto de Padre Jader são encontrados nesse bazar. Rosa, uma pernambucana faladeira, conheceu o sacerdote por meio de seu programa matutino de rádio. Frequentadora do santuário, há quase três anos passou pelo exorcismo (libertação). Buscou a igreja pelas dores de cabeça intensas e, com auxílio do padre em sua primeira visita, descobriu que haviam feito uma “macumba” contra ela. Uma colega de trabalho confessou e confirmou e feito. Após pegar um absorvente usado de Rosa, e colocá-lo em um papel com o nome dela no meio, a colega ateou fogo nesse pacote. Assim, de acordo com Rosa, jogou sua alma para todos os males do mundo. Porém, conseguiu se libertar com o exorcismo de Padre Jader.
O ritual dura por volta de 1h30. Emocionei-me no momento da libertação. A mistura de música e palavras volumosas fez meus olhos lacrimejarem. Desde então, uma grande dor de cabeça me atingiu e só reparei a intensidade ao sair do Santuário. Sou, de certa forma, cética. Mas, quem sabe, a libertação não passou por mim também?
*Palestra dada pelo padre após a leitura do Evangelho, trecho retirado do Antigo ou Novo Testamento.