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Um remédio, dois fenômenos

 

Por Ana Luisa Moraes

 

Logo depois do sexo, uma mulher sacode vigorosamente uma garrafa de coca cola e a insere na entrada da vagina. O líquido chega até a entrada do útero ─ na saída, promete levar com ele todos os espermatozóides depositados ali há pouco. Coca, vinagre, desinfetante: antes dos anos 60, grande parte das mulheres só tinham acesso a esses métodos se não quisessem engravidar. O diafragma, uma “tampa” que cobre o colo do útero, e a camisinha já existiam ─ o primeiro, era de difícil colocação e caro. Já o segundo dependia da boa vontade dos homens, e, surpresa, eles quase nunca topavam usar.
Tudo isso mudou radicalmente no começo dos anos 60, quando a pílula anticoncepcional chegou ao mercado. Discreta e eficiente, ela permitiu, pela primeira vez, que as mulheres fossem as únicas responsáveis pela decisão de quantos filhos teriam e quando eles nasceriam: mesmo que o marido se opusesse, a mulher podia tomar o remédio sem que ninguém soubesse.
Já naquela época, muitas usuárias reclamavam dos efeitos colaterais causados pelos hormônios da pílula: “Dores, inchaço, náusea, coágulos no sangue, secura vaginal. Elas tentavam mudar, usar camisinha, tabelinha, mas não eram tão eficientes”, explica a professora de história Joana Prado. Atualmente, o anticoncepcional possui 85% menos hormônios que nos anos 60 ─ mesmo assim, um movimento crescente contra o seu uso vem ganhando força.
No Facebook, a página “Vítimas de anticoncepcionais. Unidas a favor da Vida” reúne mais de 130.000 curtidas. Lá, e em grupos fechados, mulheres relatam casos de trombose, enxaquecas, baixa na libido e outros problemas que estariam ligados ao uso da pílula.
No Brasil, 27% das mulheres em idade fértil usam o anticoncepcional. O número é alto, mas algumas iniciativas recentes apontam para uma direção contrária ao uso de métodos hormonais. O diafragma, por exemplo, foi redesenhado em 2014 pela primeira vez em 50 anos, dessa vez, mais seguro. O DIU de cobre dos anos 60 causava diversas infecções. Agora, ele é considerado mais seguro do que a própria pílula, e, entre 2010 e 2013, as vendas do dispositivo no mundo aumentaram em 33%. Além disso, algumas mulheres utilizam métodos de percepção da fertilidade 100% naturais, encorajadas principalmente por livros e grupos no Facebook.
A médica de família e comunidade, Luiza Cadioli, diz que muitas mulheres querem permitir que o corpo, antes silenciado pelo anticoncepcional, se expresse: “Elas estão começando a se questionar o por quê de o corpo delas ter que receber hormônio e o dos homens não”. Mesmo assim, ressalta: “Para muitas, a pílula ainda é uma boa opção. Por isso, dizer que elas têm que parar ou têm que tomar é errado. A mulher não ‘tem que’ nada”.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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