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A moeda que falta

 

Por Felipe Velames

 

Arte: Clarisse Macedo

Lance inicial, 95 mil pela moeda rara do século passado.

Assim começa mais uma troca indireta entre associados, uma espécie de leilão feito somente para pessoas pertencentes a Sociedade Numismática Brasileira, uma entidade que estuda moedas, cédulas e medalhas. Um dos melhores locais para encontrar as peças que faltam em suas coleções.

O ponto mais importante da noite não são os leilões, e sim os seus bastidores. É durante os intervalos, o cafezinho, o bate papo nos corredores, que de fato ocorrem as trocas entre colecionadores.

Aqui comigo tem 123 mil.

Até mesmo as amizades formadas com outros vendedores podem render trocas no futuro, mas existem pessoas que tiveram a sorte de achar suas moedinhas em lugares mais comuns.

Número 13, 299 mil.

Durante uma visita à Stonehenge, aquelas pedronas que ficam no sul da Inglaterra, um rapaz encontrou uma singela feirinha de domingo. Surpreendentemente, foi lá que ele conseguiu um denário, uma pequena moeda de prata da época do Império Romano, que faltava em sua coleção.

513 mil. Quem me dá 600?

Essas peças que foram tão difíceis de conseguir demandam um cuidado especial. Mas de vez em quando, um colecionador acaba se distraindo e perdendo a sua tão preciosa moeda, que custou 2 mil reais, no vão de um elevador. A perda só não custou mais caro porque o síndico do elevador achou a bendita.

829 mil. Será que vamos chegar a um milhão?

Não é só de moedas, fichas e/ou selos que se vive o colecionismo. Pode acreditar, existe colecionador para todo tipo de objeto, até os mais ordinários que ninguém coleciona, como rótulos de requeijão, algo que nem ele mesmo come. Geralmente, pede para os familiares ou amigos guardarem os potinhos e, então, retira com todo cuidado o rótulo e o plastifica em um caderninho. Fica a coisa mais linda. O bom é que ele não precisa passar horas em leilões para terminar sua coleção.

901 mil. Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Vendido.

Voltando aos lances, infelizmente, não foi dessa vez que conseguimos adquirir a moeda que faltava. Estou começando a achar que o raro não é encontrar o objeto, mas conseguir comprar ele. O jeito é procurar em uma feirinha.

Colaboradores: Eliezer da Silva, dono do canal de YouTube Numismática Brasileira; Felipe Rocha, sócio fundador da Rocha Numismática; Hilton Lúcio, sócio fundador da casa de leilões Vila Rica Moedas; Nilton Romani, dono do site Coleções de Cédulas e Moedas Brasileiras; Oswaldo Rodrigues, diretor de comunicações da Sociedade Numismática Brasileira; Paulo Abreu, sócio gerente do leilão MNM Numismática; Pedro Jorge e José Henrique, multicolecionadores;

pelas veias colecionistas

 

Por Murillo Cesar Alves

 
Arte: Adrielly Kilryann e Guilherme Castro

De objetos mundanos àqueles considerados mais excêntricos, os colecionadores ganham as prateleiras das casas e estantes dos museus. No centro de São Paulo, há um playground para um nicho da sociedade que tem neste hobby um estilo de vida. As ruas Sete de Abril e Barão de Itapetininga são ocupadas por um shopping a céu aberto, com escadas estreitas e dezenas de lojas, como a Galeria Nova Barão, que surgiu com comércio de pedras preciosas e se transformou ao longo dos anos. Hoje, conta com 23 lojas dedicadas às coleções de vinis.

Relatório da Associação da Indústria Fonográfica dos EUA de 2022 revela um número recorde de vendas de vinis em 35 anos – 41 milhões. Flávio de Paula, 53, colecionador de vinis há mais de duas décadas e dono da Medusa Records, na mesma galeria, observou um crescimento nas vendas desse item na mesma proporção ao longo dos anos desde que fundou o local, em 2017. No caso da música, os preços variam pelo estado de conservação e a raridade do produto. “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd, é vendido por Flávio em seu estabelecimento por R$ 900. O álbum, de 1973, preserva sua embalagem original em exemplar da loja, o que explica seu preço.

O hobby também se espalha pelo mundo virtual e para além dos discos. De acordo com Néliton Carrumba, 37, fundador da “Casa do Colecionador”, loja virtual focada no hobby, os itens mais buscados são as moedas. Seu pai, colecionador, morreu há três anos e foi inspiração para que Néliton fundasse o negócio. A cada mês, vende mais de 400 objetos, sendo 50% destes moedas ou cédulas.

O colecionismo serve também para a conservação destes itens. Paula Pestana, mestre em museologia, iniciou sua tese na USP a partir de cartões postais doados ao Museu Histórico e Cultural de Jundiaí. “Artigos pessoais não tinham valor para pesquisa. Mas é possível decifrar costumes de certas épocas a partir destes itens.” 

Além da análise histórica, as ciências naturais ganham destaque. Ângelo Alves, 28, é tatuador e, como hobby, reúne e comercializa itens considerados mais excêntricos, como meteoritos e conchas. Começou sua coleção aos 18 anos e doou parte a museus, como forma de incentivar a prática. O Museu de Geociência da USP, que foi escolhido por ele, utiliza as doações para pesquisa e exposição. Alves também expõe seus artigos naturalistas na instituição. “Mais pessoas precisam ver e se apaixonar pelo universo dos meteoritos.”

COLABORADORES: EDSON JUNIO, COLECIONADOR DE MOEDAS E ESPECIALISTA EM MERCADO NUMISMÁTICO, DAVID FOXEN, COLECIONADOR DE CAMISAS E FABIANO RODRIGUES, MESTRE EM PSICOLOGIA.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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