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Como a ciência sobrevive a fake news no Brasil?

 

Por César Costa e Tiago Medeiros

 

Fake news e movimentos negacionistas afetam a produção científica no Brasil. Passando por falhas na divulgação de informações e por escassez de recursos financeiros, o Claro! buscou entender como esses aspectos afetam a ciência em nosso país neste podcast.

 

Não é só medo de agulha

 

Por Isabella Velleda

 

“Temos uma história de mais de 200 anos de informações que comprova a importância das vacinas. Conhece-se muito, até demais, a respeito delas.” É o que diz Guido Levi, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Embora essa noção aparente ser consensual, existem grupos que questionam a sua validade.

Rotulado de negacionista por médicos e cientistas, o movimento antivacina baseia-se na rejeição ao potencial benéfico das vacinas. Isma de Sousa, criadora da página “O lado obscuro das vacinas”, no Facebook, inclusive faz um jogo de palavras, invertendo o rótulo: “Como existem pessoas que vivem nesse ‘negacionismo’ de que vacinas são seguras, quando a realidade prova o contrário?”

As reações pós-vacinação são uma das principais preocupações do movimento. E, para Isma, é difícil enxergar além delas: “Não consigo ver nenhum benefício em estar provocando o organismo continuamente com vírus, metais pesados, formol.”

Para questões como essa, porém, a ciência tem respostas categóricas. Embora todos os componentes citados já tenham sido identificados em vacinas, eles sempre estiveram presentes em quantidades não nocivas ao corpo. Guido, contudo, afirma: “Nenhuma vacina é desprovida do risco de provocar reações adversas; essas, porém, são muito menores do que as das doenças contra as quais elas protegem.”

“E se eu acredito na eficácia das vacinas? Não.” Isma lista como fator conclusivo o que considera uma falta de transparência dos estudos científicos, citando uma pesquisa norte-americana da década de 1960 que não deixava à disposição os ensaios clínicos feitos. Embora hoje exista um amplo acesso a informações dessa natureza, estabeleceu-se uma desconfiança geral com a ciência por parte desse grupo.

Então, o movimento criou a sua própria rede de informação. Jorge Aramuni, administrador da página “VACINAS: o maior CRIME da história”, indica um livro que compila mais de 1200 estudos sobre o tema. Lá, aprende-se, por exemplo, como células de fetos abortados foram utilizadas para a produção da vacina contra rubéola. Enquanto essa parte não é mentira, a informação de que o DNA dessas células poderia se misturar com o DNA do paciente e causar autismo é.

Mas as vacinas nunca foram imunes de críticas. A vacina contra HPV, como um caso pontual, foi repreendida até por médicos especializados, por não ser totalmente eficaz contra a doença que pretende combater. Eno Filho, doutor em epidemiologia, inclusive cita o conflito de interesses nos estudos que fundaram seu lançamento: “Como o câncer cervical é objeto de outras ações preventivas, nada justifica trazer à comparação um produto caríssimo e mal-testado.”

Embora tenham erradicado doenças responsáveis pela morte de milhões, como a varíola, as vacinas ainda estão em constante desenvolvimento. “Agora, dizer que a gente usa a vacina sem estudar, sem tomar precauções, é uma calúnia”, diz Guido. “E depois que ela está disponível, tem todo um segmento para obter informações de possíveis eventos adversos e os seus significados.” As opiniões de médicos sobre o tema, porém, ainda não são suficientes para o movimento antivacina.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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