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Três tempos

 

Por Jessica Bernardo

 

 

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O vermelho do semáforo avisa aos automóveis: parem. O vendedor de amendoins começa o discurso e quase se camufla entre um escapamento e um para-choque. Só o branco da embalagem chama a atenção. 3,2,1, verde. A calçada é o ponto de espera. Segue, atenção, pare. Segue, atenção… Olha o Pixuleco! Tem carregador pro seu celular! Aceita um jornal?

 

VERDE – A tonalidade de limão fluorescente na roupa dos entregadores de jornal salta aos olhos de quem passa pelo cruzamento na zona oeste da cidade. No canteiro central, os exemplares do Metro acabaram, e Alexandre, 17 anos, olhos esmeralda e bigode começando a despontar, se diverte na correria do abre-entrega-fecha-volta do seu primeiro ofício. A cor chocante do uniforme o intimida a entrar no Mc Donald’s ao lado para usar o banheiro. Imagina todo mundo olhando? Alexandre amarela e confessa: de limão ele não entra.

 

AMARELO – Zé Domingos chega áureo, radiante. O “Zé dos Panos”, como é conhecido, já foi flanelinha, passou rodinho, vendeu limão e doce, mas hoje se concentra apenas nos panos de prato brancos com bordas coloridas. Três por dez reais. “Sabe quanto tá cada um no mercado? Sete!”. Mas “esse ano tá embaçado”. Dois mil e cinzas.
O pernambucano veste um avental amarelado como o farol para conquistar a confiança dos motoristas: “Eu que lancei o avental aqui”. O acessório é para mostrar que os comerciantes são “trabalhador”. Abre, alerta, fecha.

 

VERMELHO – Sinal vermelho. Entram em cena dois vendedores de Pixulecos, um vendedor de balas, três ou quatro adolescentes que limpam para-brisas, alguns artistas de rua e Cilene.
Seis anos de farol, com vermelho na roupa e no batom, Cilene se destaca pela experiência na entrega do Destak – outra publicação gratuita.
Ainda não foi alvo de xingamentos pela cor do uniforme. Que sorte! Em época de obsessão auri-verde, até o rubro do trânsito corre risco. Ao lado dela, os bonecos preto e branco das manifestações fazem sucesso. Isso se a telinha nas mãos dos condutores não desviar a atenção primeiro: “Depois que lançou o zap zap, cê é doido”, resume bem Zé. Quase ninguém lembra de abrir o vidro.

 

VERDE – Os ônibus alaranjados e azuis rasgam a avenida embranquecida pelo sol. Negros andam, ruivos e morenos conversam, loiros dirigem. Quantos vermelhos, amarelos e verdes o semáforo já não mostrou? Siga, atenção, pare.

 

Siga, atenção, biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

Paulo, dono de uma banca vizinha ao local, se recorda. O asfalto, preto, foi tomado pelo vinho do sangue. Há três anos Edson resolveu deitar no meio fio. Um carro – cinza talvez – perdeu o controle da direção e passou por cima do morador de rua. “Todo mundo conhecia o Edson. O irmão dele sempre vinha aqui de BMW perguntar por ele”. Avermelhou. E os carros também pararam – dessa vez não pelo sinal do semáforo.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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