Você já percebeu que arte e ciência muitas vezes andam juntas? A arte afeta nossa cabeça diretamente, intensificando a atividade cerebral e gerando fenômenos como a catarse e a empatia. Além disso, é uma ferramenta usada no tratamento de pacientes com perda de memória. Entenda como isso acontece.
Colaboraram:
Samir Zeki, neurocientista
Norberto Garcia-Cairasco, neurofisiologista e professor da USP-RP
Cora Laszlo, bailarina e professora de dança
Carlos Becker, ator
Lucas Daher, cinéfilo
Fontes:
Estudo “Arte e o Cérebro”, desenvolvido na University College London por Semir Zeki
Relatórios do The MoMA Alzheimer Project
Outros caminhos de dança: Técnica Klauss Vianna para adolescentes e para adolescer
No fim dos anos 1980, foi descoberta uma família inglesa que, há três gerações, apresentava dificuldades na articulação de algumas consoantes, rigidez na parte inferior da face e problemas na escrita e na leitura. Geneticistas da Universidade de Oxford descobriram que essa família tinha mutações em um gene chamado FOXP2. Por isso, esse gene foi considerado determinante para o surgimento da linguagem no ser humano.
Em 2018, ele acabou perdendo prestígio entre a comunidade científica, quando foram encontrados resquícios dele em DNA neandertal. Isto é, se foi encontrada em nossos antepassados, a estrutura não poderia ser exclusiva da espécie humana.
Os cientistas passaram a considerar duas hipóteses para o mistério da linguagem: as teorias ambientalista e inatista, também conhecida como hipótese da Gramática Universal.
A primeira foi amplamente aceita até a metade do século XX e sugeria que o ser humano é influenciado pelo meio. Dessa forma, a linguagem seria resultado da interação do indivíduo com o meio, em processos de estímulos e respostas que exigiriam uma estrutura inata mínima para tal.
Essa habilidade de desenvolver a linguagem seria um processo fisiológico — sem relação com questões genéticas — assim como aprender a andar de bicicleta. Ou seja, a interação com outro ser humano seria essencial para que o processo de aprendizado fosse bem sucedido.
A segunda — e mais aceita pelos estudiosos — combina fatores biológicos e linguísticos. Segundo a hipótese da Gramática Universal do linguista Noam Chomsky, acredita-se que o cérebro humano já estaria geneticamente predisposto a receber a linguagem, que lhe seria inata.
Essa predisposição seria resultado do processo evolutivo da espécie que, vivendo em uma comunidade tão complexa, precisaria desenvolver interações à altura.
A Gramática Universal “congrega mecanismos necessários para que um indivíduo, ao ser exposto a uma língua, seja capaz de decodificá-la, transformando sua aptidão biológica para a linguagem em uma gramática específica”, explica Vitor Nóbrega, doutor em Linguística pela USP.
Seja por processos evolutivos ou por adaptação pelo meio em que vivemos, enquanto os cientistas não encontram uma solução definitiva, continuemos a falar.
Colaboraram: Marco Varella, PhD em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP; Maria Okumura, Coordenadora do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências (IB) da USP, e Vitor Nóbrega, doutor em Linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.