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Game over

 

Por Matheus Sacramento

 

Os dois disparam em direção ao pique, mas Mário chega primeiro. Ele tinha duas preocupações: uma delas era bater o nome dos colegas na parede de sua casa. “Um dois três Élder! Ufa, peguei o mais rápido e o mais esperto. Faltam só dois.”

 

Doce engano. A segunda preocupação do menino aparece na janela de casa: “Máriooo! Vem tomar banho! Já tá ficando escuro, filho.” “Deixa só acabar essa rodada…” “Mário César! Já pra casa. E não feche essa cara, se não…”

 

A ameaça foi suficiente. Game Over, Mário. “Você tem que entender que a vida não é só diversão, filho… Mas eu te amo, viu?”

 

“Gira a roleta aí, Mário. Sua vez.” A rua deu lugar à mesa central da sala, enquanto a correria foi substituída pelo tabuleiro. “Seis! Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Dia do casamento! Receba os presentes”. Nessa fase da vida, puberdade é piada pronta. “Ih, o Mário se casou! Finalmente vai tirar esse bigode?” “Fica quieto, Élder.” “Como você quer que a Joana olhe para você com essa taturana na cara?”. Vermelho como um pimentão, o adolescente explodiu. Jogou o tabuleiro para cima, espalhou todas as peças e acabou com o jogo.

 

De castigo, o esquentadinho recebeu mais um capítulo do tutorial da vida. “Pai, eles ficam zoando dos meus pelos!” “É uma fase, filho… Já pensou se explodir desse jeito sempre? Você vai aprender a superar. ” Game Over, Mário.

 

“Amor, que inferno. Amanhã tem prova de estatística. Tudo que eu sei dessa matéria é que estou 13/8”.  Esse número representava suas matanças e suas mortes no Counter Strike. Enquanto Mário metralhava os problemas, Joana tentava pela última vez mudar o jeito do rapaz.

 

“Você está viciado! Como vai se tornar um engenheiro se só pensa nisso?” escreveu a jovem no MSN. “Faz parte, Jô. A vida é um jogo. Só estou treinando para ela”, disfarçou. “Eu desisto… Vou embora… Por que você é assim? Acho que não vamos funcionar juntos… Preciso de um tempo para pensar…” A tradicional frase que antecede o fim. Game Over, Mário.

 

Era fim de expediente. O senhor Mário César foi chamado no escritório do temido chefão. “Dizem que ninguém nunca conseguiu passar dessa sala sem uma notícia ruim”, provocou o mestre de obras que sentava ao seu lado. “Estou acostumado a desafios”, retrucou, com medo.

 

O lugar era escuro e cheirava a fechado. A voz de trovão anunciou: “Estamos passando por momentos difíceis e precisamos fazer uns cortes. É com pesar que digo isso, mas o senhor está sendo desligado.” O homem quase chutou a mesa, mas conseguiu se controlar. Próximo passo, RH. Próxima fase, desemprego. Game Over, Mário. “E aí, vamos recomeçar?”, pergunta Joana.

Vai que é sua

 

Por Barbara Monfrinato

 

Dois times rivais, torcida, juiz, apito, hino, uniforme. Poderia bem ser um jogo de futebol, se não parecesse também um circo, peça de comédia ou show de palhaços. Aqui os jogadores têm nariz vermelho e um objetivo comum: criar, no improviso, as cenas preferidas da plateia.

 

Em “Jogando no Quintal”, espetáculo criado em 2001, é o público quem define os temas a serem encenados. “Chulé”, pede alguém. “Eva e Adão”. Ou ainda: “Minha mulher me traiu com o Chico Buarque”.

 

Tudo é encenado por palhaços humanizados, seguindo desafios diversos apitados pelo juiz. Definir os vencedores é, mais uma vez, para o público. Medalha: uma torta na cara de quem venceu – e também de quem perdeu. “No final, a gente passa a rasteira nessa competitividade”, brinca César Gouveia (palhaço Cizar Parker), ator, diretor e criador da Cia do Quintal.

 

A ideia surgiu entre os anos 1990 e 2000, quando César e Marcio Ballas trabalhavam como Doutores na Alegria em hospitais e buscavam uma nova linguagem que aliasse o improviso ao palhaço, personagem que nos convida a rir de nosso próprio ridículo.

 

O que começou como pelada no quintal de casa acabou indo para estádios maiores e influenciando diversos grupos de improviso desde então, como os Barbixas e o Z.É. Zenas Emprovisadas. Quinze anos de atividade mostraram que brincar é coisa séria: é preciso uma estrutura teatral bem produzida para que, a partir dela, se crie livremente.

 

Marcio, além de ator e apresentador de TV, hoje também dá aulas na Casa do Humor, espaço com o seguinte slogan na porta: “Improviso.Palhaço.StandUp.eoquefor”. Para os iniciantes no improviso, ele começa resgatando a espontaneidade e a criatividade, até chegar à reação imediata e construtiva a qualquer proposta cênica. “Você responde rápido e acrescenta elementos à proposta”, orienta ele.

 

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Como no futebol, a questão é treino: o ator pratica suas ferramentas de agilidade, do corpo à palavra. Um exemplo é o “goleirinho”, exercício clássico da improvisação. Nele, o “goleiro” espera o chute de um “atacante”, a toda e qualquer direção. “Ô tio, posso comer mais um biscoito?”, propõe um colega. “Mas Júlio, sua mãe disse que não podia”, responde o outro. Aqui, o bom goleiro é aquele que diz “sim”: deixa a bola entrar e entra junto, sem pensamento, sem juízo. “Não é defender sua ideia, mas compartilhar”, acredita César, também professor.

 

A repórter resolve então vestir a camisa e pede uma rodada de improvisação. Nosso tema, claro: “jogo”. César dita as regras, num desafio já apresentado tantas vezes ao vivo: desenvolver uma história em que cada frase comece seguindo as letras do alfabeto. Se eu falo “alô”, ele diz “bom dia”, então pergunto “como vai?” e assim por diante.

 

César começa.

 

Adelaide, o que você quer jogar?

Boliche!

Caramba, que saudade de jogar boliche.

D…elícia, vamos jogar então.

Espero que a gente aproveite.

 

E é hora do F da repórter. Ela vasculha palavras em seu dicionário mental.

 

Ff…odeu…

Quer entrar no BBB?

 

Por Dimítria Coutinho

 

1 – Tenha bons motivos para querer entrar na casa.


Tipo a Dona Geralda, ex-BBB 16, que queria conhecer o Bial, ou o Ronan, também da última edição do programa, que disse ter “um plano extremamente ambicioso” para o seu futuro. Vale de tudo, né?

 

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2 – Carregue um pé de coelho…

 

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Quem sabe você não dá a sorte de esbarrar com um olheiro e seja exatamente aquilo que ele está procurando? Ou o olheiro virtual pode ficar encantado com suas redes sociais. Sim, os caras têm um perfil – o Robbb, aquele robozinho olhudo – que vasculha as redes sociais alheias. Você pode estar sendo stalkeado enquanto lê isso aqui.

 

3 – …ou abra sua vida. Para um completo estranho.

 

 

"Fofoca sempre aproxima as pessoas" VH1 | GIPHY

“Fofoca sempre aproxima as pessoas” VH1 | GIPHY

 

Você, reles mortal que não chamou a atenção de um olheiro por aí , tem que se inscrever pelo site. E eles vão te perguntar tudo! Desde sua altura e peso até seu passado completo. São oitenta e uma perguntas que esmiúçam seu trabalho, orientação sexual, relacionamento com a família (avaliado de zero a dez), religião, antecedentes criminais, manias e tudo o mais que você possa imaginar. Tem algo sobre você ou sua vida que você nunca contou para ninguém, mas queira compartilhar conosco? Mas é claro, vou contar justamente pra você, equipe global! Sim, a partir de agora, a galera do reality vai tentar ser seu seu melhor amigo.

 

4 – Mande fotos e vídeos

 

De três a dez fotos e um vídeo. Vale dançar, ficar falando sobre a vida, cantar, mostrar a rotina, imitar um famoso… o que quiser! Só cuidado pra não soltar na rede e virar webcelebridade antes de virar BBB. Mas se acontecer, é aquele ditado: vamo fazer o quê?

 

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5 – Passe pelas seleções

 

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Finalmente você foi chamado para a primeira seletiva! Parabéns. Nela, você provavelmente vai participar de dinâmicas em grupo, nas quais vão te chamar por um número e não por seu nome. Afinal, tem muita gente tentando ser BBB, né? Depois, você preenche uma ficha com quase cem questões que procuram detalhar (mais ainda) sua vida, além de uma entrevista em vídeo e por fim, ufa!, mais uma entrevista.

 

Pelo menos foi assim que aconteceu com o Leonardo Vinhas, jornalista que foi chamado para participar de uma seletiva do BBB 16, e contou tudo em seu blog Na Brodagem.

 

Mas essa é só a primeira, tá? Se conseguir sobreviver, você passa por mais algumas seletivas.

 

Eu não disse que a equipe do BBB agora ia querer saber de tudo sobre você?

 

Eu não disse que a equipe do BBB agora ia querer saber de tudo sobre você?

 

 

6 – Seja psicologicamente equilibrado

 

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@LOK | PANDLR

 

 

Depois de passar por todas as seletivas, você ainda passa por uma fase que avalia seu equilíbrio psicológico. Regina Navarro, que avaliou candidatos de várias edições do BBB, explica que a pessoa não precisa ser certinha, mas tem que ter um suporte emocional. Nessa fase, a avaliação serve pra perceber se a pessoa tem maturidade pra não desistir do reality cedo demais. Até porque ficar confinado mexe com o psicológico de qualquer um. “O que acontece lá dentro é que os sentimentos ficam bem mais intensos, a situação te leva a isso”, conta Munik, vencedora da última edição.

 

Ou seja, você só precisa provar que não vai dar a louca lá dentro, tá?

 

7 – Persista…

 

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“A inscrição já esta feita, finalizada com sucesso, porém gente do Brasil todo se inscreve e a única coisa que eu penso é que o ‘não’ eu já tenho, o que custa correr atrás do ‘sim’, não é mesmo?” – Fernando Baptista, se inscreve todos os anos no BBB desde 2011 e ainda está no páreo para o BBB 17.

 

8 – …ou não.

 

“Acho que se eles quiserem agora, tem que vir pedir minha mão em casamento para os meus pais” – Sergio Abib, inscrito de 2009 a 2014. Largou mão.

 

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Azarado tem sete letras

 

Por Guilherme Eler

 

O sexto páreo da noite tinha como palco o Hipódromo da Gávea, na capital carioca, mas era atentamente acompanhado a centenas de quilômetros por um inquieto grupo de vinte e poucos homens. Senhores de idade, todos eles, impreterivelmente. Dispostos em mesas, formavam uma telha de esparsos fios grisalhos logo abaixo das duas tevês, posicionadas no alto da parede. Os olhos, vidrados. Conhecedores do jogo, debruçavam-se a analisar os números e estatísticas que se revezavam em faixas coloridas nas telas.

 

Canetas e tabelas nas mãos. Recibos, planilhas. Estavam ali para apostar. “A partir de três reais já dá para jogar”, me explica um deles. “Se apostar agora no número cinco e ele vencer, cê ganha R$ 170”. O homem, funcionário do local durante o dia, não tinha muita paciência para meus questionamentos amadores. Agora à noite, estava lá de novo também para tentar a sorte. Com o suntuoso salão de eventos do Jockey Club de São Paulo de pano de fundo, reclamava da falta de habilidade de um dos jóqueis e da pouca sorte no último páreo.

 

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Bastante amplo e todo na cor marfim, o espaço contava com dezenas de bilheterias e atendentes mobilizados para computar as apostas. As conversas sobre o jogo e o clima de descontração eram interrompidos só no momento em que os animais começavam a ser alinhados para o início da corrida. Xaquira Thunder, Garota Levada, Futurosa, Hora Fatal, e outros tantos. Cada nome exótico trazia consigo certa probabilidade de vitória e uma possível recompensa para o sortudo da vez.

 

“Largou mal de novo, é brincadeira?”, se irritava um no começo da corrida. Mais para o fim, gritos ritmados passavam a preencher totalmente o salão. A torcida era efusiva. Dorinha Bacana, com uma impressionante arrancada na última reta, foi a primeira a cumprir o percurso de 1.300 m, sob lamentos e comemorações. “Só vou fazer mais essa de R$ 50 e aí eu paro”, pontua desacreditado um outro, que acompanhava ao lado.

 

Resolvi que entraria no sétimo páreo. Só pra ver como era. O cavalo escolhido foi o de número três. Assim, sem motivo ou simbologia nenhuma. Na verdade, a atendente confundira a minha intenção de fazer a aposta mínima, e tinha entendido “três” como o número escolhido, e não como a quantidade de reais que pretendia por no jogo. Aniche, o nome da égua que defenderia meus três contos.

 

Exatamente antes do início da corrida, uma pane elétrica, fruto do grande volume de chuva, deixa tudo no escuro. A frustração geral era agora minha também. A energia só volta quando Heart-free, o sete, era anunciado como primeiro lugar. Aniche tinha sido a segunda colocada. Ainda pude acompanhar o oitavo páreo, agora sim vencido, para minha descrença, pelo animal que levava o número três no lombo. Fora eu experiente, teria esperado mais uma única rodada e saído de lá com o valor da aposta duplicado trinta ou mais vezes. Ou não. A sorte tem dessas.

Amor, do grego stratēgia

 

Por Vinicius Andrade

 

Se você curtir fotos antigas da outra pessoa, interesse você tem. A opinião é de Ailton Amélio da Silva, psicólogo clínico e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo durante 30 anos. Autor do livro Relacionamento Amoroso, publicado em 2009 pela editora Publifolha, Amélio faz questão de emendar: “Mas o ato pode ter diferentes motivações. Por isso é que as coisas são ambíguas”. Em entrevista ao Claro!, o psicólogo explicou a relação entre amor e jogo, falando a respeito da opção por encarar a vida amorosa como uma área repleta de objetivos, estratégias e territórios a serem conquistados.  

 

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CLARO!: O amor é um jogo? O que une essas duas coisas?

 

AILTON AMELIO: O aspecto jogo não deve predominar no amor. O jogo é uma analogia, mas não é o que as pessoas devem estar sentindo em suas práticas amorosas, porque, se encaro como jogo, deixo em segundo plano o que penso de verdade. Assim, deixo-me guiar pela estratégia – e não por sentimentos genuínos. O amor é um jogo preparado pela natureza, mas não pode ser algo deliberado, porque superficializa, esvazia e torna inseguro o que se passa entre as pessoas.  

 

CLARO!: No mundo virtual, essa relação entre amor e jogo se intensifica?

 

AMELIO: Acredito que sim. Como há muita gente, as coisas são voláteis e podem ser facilmente descartadas, fazendo com que as pessoas maximizem um pouco o aspecto do jogo. Ali, você está pisando em ovos, usando todos os recursos possíveis.

 

CLARO!: O que pode justificar a opção por tratar o amor como um jogo?

 

AMELIO: Bem, tem gente que encara como jogo,  mas tem gente que não suporta essa ideia, achando isso desagradável e inverídico. As pessoas são heterogêneas. Nesses meios, em aplicativos e na internet, as coisas geralmente estão em um nível superficial. E, nesse nível, você não está sentindo ou pensando muita coisa. Você está trabalhando por resultados. Para algumas pessoas, isso é admissível como um estágio inicial, em direção a um outro patamar. As pessoas esperam que o outro se comporte de base mais verídica.

 

CLARO!: O fato de alguém ter curtido determinada foto antiga de uma outra pessoa – sem que haja, ali, interesse amoroso – não pode criar alguma situação embaraçosa, por exemplo?

 

AMELIO: Se você curtir fotos antigas, interesse você tem. Mas o ato pode ter diferentes motivações. Por isso que as coisas são ambíguas. Agora, se você vê que há sempre uma motivação do mesmo tipo presente, aí temos o que chamamos de convergência. O flerte é uma progressão de pistas ambíguas para algo mais claro da natureza do meu interesse. Se corro demais, aperto o outro. Se corro de menos, a coisa perde a natureza amorosa.

 

CLARO!: É possível jogar esse jogo sem fugir dessas regras?

 

AMELIO: Não, porque isso é comunicação. É como perguntar se posso fazer isso sem me comunicar: não tem jeito. Há outros caminhos, porque são vários tipos de amor. Tem amor que, desde cara, tem natureza romântica e sexual. E tem outros que passam pela amizade. Esse jogo tem diferentes regras, o que complica ainda mais a coisa. Por isso que não dá para escrever um livro sobre “Como conquistar qualquer pessoa” – quem fala isso é um charlatão.

 

Para terminar, o psicólogo também listou 9 sinais de interesse por parte de uma pessoa no mundo virtual. Confira abaixo:

 

1) A pessoa responde a sua mensagem rapidamente

2) A pessoa responde a tudo o que você mencionou na mensagem

3) A pessoa é quem toma a iniciativa

4) A pessoa responde mais do que o mínimo necessário, fornecendo informações gratuitas

5) A pessoa curte tudo o que você coloca nas redes sociais

6) A pessoa curte suas fotos antigas

7) A pessoa tenta fazer a conversa progredir para algo na vida real

8) A pessoa tende a concordar com o que você diz, tentando criar base positiva

9) A pessoa tenta estabelecer clima romântico e sexual, não apenas amistoso

 

Coisa de gente grande

 

Por Beatriz Quesada e Vitoria Batistoti

 

Se antes os games eram vistos como lazer para nerds, hoje eles lotam estádios em campeonatos ao redor do mundo com premiações que chegam até R$ 1 milhão

 

A indústria dos videogames vem crescendo com tanto vigor que já ultrapassou a famosa Hollywood – em 2003, o cinema faturou US$ 19 bilhões, enquanto os games alcançaram a marca dos U$ 30 bilhões. Essa prosperidade que só cresce vem permitindo que cada vez mais fãs de jogos consigam viver do ramo.

 

 

Aos 28 anos, Cláudia Rosa Santini é jogadora profissional do popular Counter Strike (CS), jogo de tiro em primeira pessoa que fez sucesso no Brasil durante o boom das lan houses, no início dos anos 2000. Aliando faculdade, trabalho e jogo, Santininha, nickname pelo qual é conhecida, dedica mais da metade de seu tempo aperfeiçoando suas habilidades no mouse e teclado de seu computador, onde cada letra tem uma função diferente. Enquanto o botão esquerdo do mouse atira, a tecla ‘E’ arma e desarma bombas. Entre terroristas e antiterroristas, Santininha não tem preferência. Ela gosta mesmo é de ser a capitã de sua equipe, atualmente o More Than You (MTY), sendo responsável pela criação e desenvolvimento de estratégias.

 

Ilustração - Centrais - Jogo

 

Ela já gostava de jogos desde criança – lembra com orgulho de quando zerou o game 007 – Golden Eye para Nintendo 64. Mas a paixão mesmo veio quando ela conheceu o CS, aos 13 anos. Por influência do irmão, passava horas na lan house jogando e não demorou muito pra invadir o quarto e computador dele para se aventurar em partidas contra BOT (modo no qual o oponente é a própria máquina). Conciliando os estudos com dedicação e treinamento, de repente o profissionalismo surgiu. “Não foi algo que eu escolhi: só aconteceu”, pontua a jogadora, que precisou trancar a faculdade várias vezes por conta dos compromissos da nova rotina.

 

França, Canadá, EUA, Portugal e Alemanha – ela já esteve em todos estes países por conta de eventos de e-sports (esporte eletrônicos). Apesar do talento, o maior prêmio que ganhou foi de R$ 5 mil. Além de não conseguir se manter apenas como pró-player, Santininha lida diariamente com comentários sexistas de telespectadores e jogadores profissionais. No universo predominantemente masculino dos games, muitos são machistas e arrogantes: “Dizem que não deve haver investimento no cenário feminino”, conta.

 

Do outro lado, quem quer desenvolver seu próprio jogo também passa por dificuldades de adequação no mercado. O crescimento do espaço para os games é o que atrai muitas pessoas para o concorrido e instável mercado de jogos independentes, os indie games.

 

Igor Edington, por exemplo, só começou a se dedicar full time à sua paixão pelos jogos depois de dez anos de carteira assinada. Foi buscar contatos de trabalho em eventos de desenvolvedores como o BIG Festival (Brazil’s Independent Games Festival), o maior evento de jogos independentes da América Latina e o Spin, encontro mensal entre entusiastas da área.

 

Durante o BIG de 2015, Igor pôde conhecer o trabalho de Litsoh – conhecido fora do mundo dos games como João Navarro. “Sabe quando você vê de canto de olho que uma pessoa tá te rodeando, mas ela ainda não chegou junto? Parecia um stalker”, conta o designer aos risos sobre a falta de jeito de Igor ao tentar se aproximar dele. O time ficou completo quando conheceram no Spin o músico Thiago Schiefer, que trabalha com trilha sonora de jogos há dois anos.

 

Inspirados em uma mistura dos já consolidados Fruit Ninja e Zombie Juice, os três desenvolveram um jogo para mobile chamado Drop Dead Twice. O nome é uma gíria do estilo roqueiro dos anos 50 que significa “morra duas vezes” – um conceito que se encaixa bem com a ideia de matar zumbis.

 

Tiveram a ideia de aplicar no projeto o estilo roqueiro dos anos 50, bastante associado à figura do cantor Elvis Presley (que inclusive faz uma aparição no jogo como morto-vivo).

 

Já a pixel art foi uma escolha nostálgica: “Gostamos muito da geração old school dos games”, explica Litsoh. O jogo para android foi desenvolvido em menos de um ano através de chats, compartilhamentos de tela e reuniões semanais.

 

Apesar da competitividade que existe no ramo de desenvolvimento de jogos, os três amigos têm como meta viver de games, objetivo que está mais próximo com a oportunidade de expôr o jogo no Big Festival deste ano. “Isso é muito legal porque o Drop Dead Twice surgiu originalmente no mesmo festival”, conta Thiago.

 

Já Santininha ainda percorre um longo caminho para alcançar seu sonho, sempre com uma mão no teclado e outra no mouse pronta para detonar as ameaças que aparecem em seu jogo. “No CS é como se eu estivesse em casa. É emoção, conforto, dedicação; é uma das únicas coisas que eu sei o que tô fazendo da minha vida”, conta.

 

O que motiva a jogadora, a equipe do Drop Dead Twice, e tantos outros que se aventuram na indústria é o amor incondicional pelos videogames. E você, está pronto para jogar? PRESS START.

Olho no lance

 

Por Roberta Vassalo

 

A bola vai rolando no gramado, os jogadores atrás. Três lutam pela posse, outros dois mais distantes se preparam para recebê-la. O outro time intercepta. Na arquibancada, a torcida levanta e grita. O barulho, inversamente proporcional à distância entre a bola e o gol, é cada vez maior. Em meio ao alvoroço, um único integrante com a vestimenta de cor diferente e apito no pescoço, corre para observar o lance. O atacante se prepara para chutar, mas é derrubado. O juiz apita. “Ei, juiz, vai tomar no cu!”

 

Dentro de um salão, parado, olhando para a bolinha que saltita freneticamente de um lado para o outro até que um dos jogadores golpeia o ar com a raquete e o jogo para. Tem o dever de olhar fixamente a repetição até que chegue o 11º ponto do set. Manter a atenção no tênis de mesa não é para qualquer um, afinal, não é à toa que a modalidade não é conhecida por ter torcidas alvoroçadas — ou qualquer torcida. No xadrez é a mesma coisa, mas o inconveniente é outro. Na maior parte do tempo, parece que nada acontece. Podem passar minutos até que uma peça seja movimentada no tabuleiro.

 

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Conhecedor do jogo melhor que ninguém, corre tanto quanto o jogador de futebol, mantém a concentração de um atleta de tênis de mesa, mas nem um troféu almeja. Arbitrar definitivamente não está entre os ofícios de maior apelo no universo esportivo. “Me tornei árbitro mais por necessidade, por falta de gente que tinha ambição ou vontade de ser”, confirma um dos maiores nomes do xadrez mundial, Herman Claudius. Para ele, que já competiu nos principais campeonatos do mundo, a arbitragem é só mais uma das atividades relacionadas ao esporte à qual se dedica.

 

Ao final da coluna da página de Esportes do Estadão em 6 de fevereiro de 99, de sua autoria, era anunciado o curso de arbitragem da modalidade que o próprio autor ministraria no final do mês. A coluna de xadrez, publicada todos os sábados, chegaria ao seu fim dois anos depois, ao contrário da carreira em arbitragem, que ainda contaria com campeonatos como a final do mundial, em 2005.

 

O convite para arbitrar geralmente envolve viagens e dias de dedicação completa. O clima de amizade com outros árbitros é o que encoraja Maurel Luchiari, técnico de tênis de mesa, que arbitra jogos há 20 anos. “Na viagem é só falando de tênis de mesa, sobre cada jogador. Na volta, é sempre comentando o que cada um fez e o que não fez, trocando experiências.”


A remuneração é baixa. A carga horária, não. Mesmo assim, para Herman, o trabalho já foi significativo complemento em sua renda. “Ser jogador de xadrez não é tao simples, as pessoas não conseguem viver só de premiação, então você acaba buscando alternativas e a arbitragem é uma delas.” O primeiro a chegar no salão termina 
a jornada com o aperto de mão dos jogadores após a última rodada do dia. Fim de papo.

 

Mais do que nadar

 

Por Giovanna Chencci

 

Parte de sua vida mudou quando começou a namorar. Do rock, André Kopte passou ao sertanejo. Os estilos musicais se juntaram em sua vida, “não deixei de ouvir rock, só incluí coisas a mais”. A música com a pegada mais pesada veio da convivência com o irmão mais velho, uma de suas principais companhias de balada na época de solteiro. Mas essa influência, não se deu só no rock, mas no esporte também.

 

Sua vida de atleta começou aos três anos. Primo e irmão já nadavam, por que não começar também? A decisão veio da mãe, que aceitou a ideia do treinador dos meninos e colocou o filho mais novo para nadar. O sucesso chegou na adolescência. Após 10 anos, quantificar o número de medalhas e campeonatos é difícil, mas os mais emblemáticos ainda ficam na memória, como em 2009, em um campeonato americano na Colômbia, quando trouxe para casa uma medalha de bronze e uma prata.

 
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Mas nada aconteceu em sua vida sem esforço. Os treinos são regulares, assim como a vontade de vencer. De segunda a sábado, 2h30 dos seus dias são dedicados à natação. Além do esporte, é formado em Rádio e TV pela Cásper Líbero, porém, aos 25 anos, ainda não arrumou um emprego na sua área de atuação. Enquanto isso, dedica seu tempo às aulas de inglês e aos treinos, principalmente. Seus pais o ajudam a se manter no esporte e também em sua rotina diária.

 

Portador da Síndrome de Roberts – doença genética que leva a uma má formação física e possível deficiência mental – André é um caso raro. Mesmo tendo nascido sem os dois braços, ele se diz uma pessoa com muita sorte, já que, de acordo com a literatura médica, a síndrome poderia ter se manifestado de maneira muito mais grave, afetando não só o seu corpo físico, mas também suas capacidades neurológicas.

 

As dificuldades físicas, no entanto, sempre foram encaradas de uma forma natural. Na natação, é possível ser um vencedor usando a cabeça e o tronco. No videogame, os pés. Para escrever, uma mesa adaptada. Nas baladas, os amigos. Os obstáculos do paratleta são vencidos dia após dia, como qualquer outra pessoa. E o esporte é um dos fatores que mais o ajudam em sua trajetória. Além de ter proporcionado reconhecimento e momentos de felicidade, a natação também colabora para manter uma vida saudável. “A natação me ajuda não só na saúde, mas no social também, fazer mais amigos, ser mais desinibido. Além disso, ajuda a emagrecer, ter mais foco nas coisas da vida”.

 

Na hora de nadar, nenhum apoio é necessário. Ele diz que a maior dificuldade é sair da piscina, quando o seu treinador o auxilia. Nas competições, suas categorias são S3, SM2 e SD2, mas ele conta que a melhor maneira é o nado de borboleta e não nada de costas, só de frente.

 

Hoje, nada pela ADD (Associação Desportiva para Deficientes), depois de ter passado por diversos outros lugares. O próximo grande campeonato que ele irá disputar será em São Paulo, na etapa nacional do Circuito Caixa Brasil Paralímpico, em junho. Mesmo com os 10 anos no esporte e uma grande experiência na área, André não fará parte dos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Não por falta de vontade, mas pela necessidade de uma classificação internacional que não possui. Mas isso não é problema, a vida segue e que venham novos desafios!

Mata – mata

 

Por Matheus Pimentel

 

Diariamente, alguns distintos senhores e senhoras se reúnem para a já tradicional partida de dominó na Praça dos Três Poderes, pelas bandas de Brasília. A jogatina tem uma só diferença para as das demais praças e calçadas pelo país: é a única televisionada, com milhões de espectadores a observar cada pedra nova disposta sobre a mesa. Já tem gente dizendo que o esporte vai desbancar o futebol como a maior paixão nacional.

 

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Vão marcando o placar geral e a coisa parece feia para D, sua dupla titular faz tempo que não aparece na praça. Antes líder do ranking, D ainda não aceita os membros de sua equipe que pularam para o lado de T, que não anda exatamente bem das pernas. J até inventou de mexer com os amigos do arquirrival C, que é do tipo de jogador que não larga o osso.

 

No fim do dia, quando a partida acaba, nem precisam dizer “amanhã no mesmo horário?”, porque bicho velho de dominó sabe que a revanche está sempre marcada para o outro dia. Cada um volta para casa e os jornalistas passam a reportar os bastidores das equipes, treinos, contratações e, mais frequente por esses tempos, rescisões de contrato.

 

Há quem lembre que, em poucos meses, começam as partidas municipais. Mas aí, negócios à parte. Tem gente que, em Brasília, jamais ia jogar junto. O time de D anda dizendo que vai se afastar da trupe de T nos municípios, mas nem tanto, vão “examinar caso a caso”. Ora, é paixão nacional, o importante é somar vitórias pelo país. Lá na capital o negócio segue acirrado e sem data para terminar.

 

D manuseia sua pilha de fichas, que já foi menor, e aguarda uma mão boa para dar all-in. Exilado, C parece ter tirado a carta-objetivo “Destruir totalmente os exércitos vermelhos”, mas há umas boas rodadas só toca nos dados amarelos. Jogando ao lado do filho pequeno, T segue numa sequência de “volte duas casas”. J aposta que foi o Sr. Marinho no escritório, só lhe resta descobrir como. Olho no peões.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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