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não me apego não

 

Por Leticia Naome

 
Arte: Adrielly Kilryann e Guilherme Castro

Uns com 30 anos de casado

Sem medo de apego

Eu não tive essa sorte

Toda vez que me abri, eu só sofri

Não achei ninguém, com 30 almas gêmeas por aí

Já que dei muito azar, agora vou pra farra 

Esquecer de relação, por mais que volte a sentir

Não vou me entregar, e sim me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Não tem pra que sofrer

No mundo real, o amor é irreal

Por que me comprometer?

Se posso pegar sem me apegar

No outro dia nem ligar 

Agora eu já sei, é só ir pra farra

Esquecer de relação, não preciso mais sentir

Quero, sim, sair e me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Música baseada na história de 4 pessoas e nas pesquisas do Badoo e Sky News. Com colaboração de Felipe de Souza, especialista em psicologia clínica.

Fim de relacionamento

 

Por Carina Brito

 

Não. Não. NÃO! EU AINDA NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE ELE TERMINOU COMIGO. E por Whatsapp ainda! Já faz 24 horas que eu li aquela mensagem que estraçalhou o meu coração e ainda não consigo acreditar. Nem sair da minha cama. Comer? Pra que? É impossível terminar de ver Stranger Things porque a gente tinha combinado de ver juntos e dói demais assistir sem ele. Como eu vou saber o que acontece no último episódio?? Mas tem alguma coisa de errado comigo que não tem como ter sido causada apenas pelo término. Eu tenho certeza de que estou doente porque não é possível que essa dor que eu esteja sentindo seja normal. Vou pedir para a minha mãe me levar ao médico quando ela chegar em casa. Meus amigos ficaram tristes quando levaram um fora mas eu tenho certeza de que o meu caso é mais grave e eu preciso de um diagnóstico antes que seja tarde. Tenho que me distrair da saudade que estou sentindo. Acho que vou ouvir música. Eu que sempre achei que os cantores sertanejos exageravam nas letras e agora me pergunto se eles se inspiraram em mim para compô- -las! A Marília Mendonça está certa: sem você a vida não continua. E agora, como eu faço para continuar? Não dá! É o fim. Ah, não. E aqui, no Facebook? Todo mundo vai ver que não estou mais em um relacionamento sério. O que vou falar? Não posso dizer que ele terminou comigo. Imagina, levar um pé na bunda. Vou falar que foi de comum acordo, aham, mesmo sabendo que eu nunca terminaria com ele. Mas ele fez isso comigo. Como assim o amor acabou? O amor não era eterno? Meus amigos dizem que estou exagerando, que isso é “normal” para um fim de relacionamento. Ainda dizem que até Fátima Bernardes e William Bonner terminaram em 2016 e hoje estão ótimos. “Ano novo vida nova”, falam. Mas será que eles não entendem? Não vêem que eu não vou ficar bem? Nem daqui um milhão de anos? Perdê-lo foi pior do que tudo que poderia acontecer, pior do que final de novela. Seria melhor se o mundo tivesse acabado de uma vez! Sem ele, não existe final feliz. E não é drama.

Com Leticia Fuentes

Dois Rodrigos, duas medidas

 

Por Giuliana Viggiano

 

Um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, mostrou que ficar perto da pessoa amada faz muito bem. Um abraço rápido, dormir de conchinha ou só ficar próximo a quem se ama é o suficiente para a liberação de ocitocina, hormônio responsável pela sensação de bem-estar.

 

Ana Paula e Rodrigo são prova de que distância faz diferença. Se casaram em 2011 na cidade de Campanha, em Minas Gerais: mais ou menos o meio do caminho entre as capitais mineira e paulista. O motivo? Cada um morava em uma cidade — e continuou lá depois do matrimônio.

 

Ela estava grávida e logo tiveram Bárbara, que fez com que a vontade de morar junto crescesse cada vez mais. Era inviável, para eles, manterem um relacionamento à distância, criarem uma filha e serem felizes ao mesmo tempo. Cerca de um ano depois, Rodrigo veio para São Paulo: esperar uma semana para ver a menina era tempo demais.

 

Isso não é regra, contudo. Sophie e o outro Rodrigo são super bem resolvidos e moram muito longe um do outro: ele em Piracicaba, no interior paulista, e ela na Finlândia. Mas essa não é a primeira vez que ficam separados, o casal passou dois anos de cinco do relacionamento separado, já que ela viaja muito.

 

Os dois, entretanto, gostam da distância. Por mais que o tempo passe muito rápido quando estão juntos, os quilômetros que os separam não são de todo ruim: “Não nos arrependemos de nada, sentimos falta um do outro e quando nos vemos é muito bom. Aproveitamos cada segundo como se fosse único”, conta o casal.

 

Não sei se existe um estudo sobre relacionamentos à distância, mas se houver, com certeza, os Rodrigos e suas respectivas companheiras deveriam participar. Se falta ocitocina para uns, sobra paixão e adrenalina para outros.

 

De ponto em ponto: o abuso que não para

 

Por Isabela Schreen

 

Ônibus lotado. Se tem uma coisa que eu considero um desafio diário, é enfrentá-lo, mas às vezes não dá. É aperto, gente junta, muita respiração compartilhada contra a vontade dos que estão presentes. Sufoca. Queria estar livre nesse momento, livre da rotina. Na verdade, livre de muitas coisas.

Já a Fernanda*, coitada, está presa em algo pior: um relacionamento abusivo. Ainda bem que eu nunca passei por algo assim. Aquele cara prende, anula, tira a personalidade dela. Anos se passaram e a violência psicológica perdura. Como alguém pode dizer que ama uma pessoa e ao mesmo tempo fazer ela se sentir infeliz, deprimida e fraca perante a tantos insultos? Até que ponto uma atitude possessiva é um sintoma de amor sem freio e doentio, e não uma busca por satisfação própria?

Muitas vezes eu e ela estávamos vendo um filme e ele ligava chamando-a de coisas horríveis, simplesmente por estar com uma amiga. Deturpar a imagem que a pessoa tem de seus companheiros de vida – sejam amigos, ex namorados, e até mesmo família – para se autopromover, faz parte de todo um processo de abuso. Isso parece algo impensável, desumano, e me arrisco à dizer que seria o ápice do egoísmo. Mas é tão comum… como meu ônibus lotado.

A cada ponto que chegamos, entra e sai gente, num vai e vem ritmado. Está chovendo lá fora, e nem toda a andança dentro dessa lataria diminui esse calor humano, que chega a embaçar os vidros. E ainda estou bem encolhida, quase prendendo o ar.

Estar aqui presa me fez lembrar de Carolina*. Essa passou pelos males mais profundos de um relacionamento abusivo. Eu imagino a dor que deve ser se relacionar com uma pessoa e descobrir aos poucos quem ela realmente é, e isso se tornar um monstro em sua vida. E é tudo uma questão de ciclo. Começaram bem e se mudaram para Copenhague*. Mas, longe de família, amigos, ou qualquer pessoa que pudesse ajudar, a armadilha estava formada.

Eram atrocidades o que ele fazia com ela. Bater o carro enquanto nevava foi um pretexto para deixá-la sob seus “cuidados” num país estranho. Ele a deixava sem comida, sem contato com ninguém, e sem nem mesmo poder tomar banho. Era uma espécie de cativeiro físico, e principalmente, psicológico. E além de tudo isso, a agressão física. Eram meses assim, e enfim, uma separação. Depois disso, as palavras doces, e um recomeço com data de validade, pois a agressão poderia até tardar um pouco a chegar, mas estava ali, à espreita, como um cobra prestes a dar o bote.

Hoje, ela tem uma filha com esse homem e o inferno ainda não saiu de sua vida. São ameaças que perduram, e cicatrizes que ainda não se fecharam por completo. E o pior de tudo é a culpa. O questionamento de porquês inexplicáveis, e o sentimento de que aquilo pode ter sido sua culpa. Mas não é.

Bom, cheguei ao meu ponto. Eu até estaria aliviada, se não soubesse que daqui umas 8 horas estarei de volta ao meu ciclo. Eu, e todos aqueles que pretendem algum dia chegar a algum lugar, mesmo que para isso precisem dar voltas e voltas, para se livrarem delas.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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