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Os desfechos mais emblemáticos do cinema

 

Por Vinícius Bernardes

 

 

Você já teve a sensação de aguardar pelo final de um filme e ele simplesmente acabar? Ou, então, imaginar um desfecho com seus mínimos detalhes, e perceber, nas cenas finais, que tudo ocorreu de forma diferente?

 

Sem receita para o sucesso, o final de um filme é uma “caixa de surpresas”. Envolvente e impactante, o fim de uma narrativa cinematográfica é tido, por muitos especialistas, como o momento mais intenso de uma grande história. Pensando nisso, o Claro! deste mês selecionou alguns dos desfechos mais interessantes do cinema para você. Confira:

 

1. Cidadão Kane (1941)

 

O filme conta a vida do jornalista Charles Foster Kane, magnata da comunicação americana. A história começa com a morte do jornalista, que momentos antes pronunciava a palavra “Rousebud”. Nesse enredo, Jerry Thompson é encarregado de investigar a morte de Kane e descobrir o significado da misteriosa palavra. A esperteza de Thompson poderá auxiliá-lo a ligar os pontos e desnudar os segredos da vida de Kane.

 

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2. Bonnie and Clyde (1967)

Campeão de bilheteria na época, Bonnie and Clyde conta a história de um casal de assaltantes que aterrorizaram os Estados Unidos na primeira metade do século XX. Os dois escaparão de todas as emboscadas até o fim?

 

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Se7en- Os sete crimes capitais (1995)

Você já cometeu algum dos sete pecados capitais? Se sim, tome cuidado, pois pode ser a próxima vítima. Em Se7en- Os sete crimes capitais, David Mills e William Somerset são dois policiais encarregados de investigar um perigoso serial killer, que mata seguindo a ordem dos sete pecados capitais. Será que Mills e Somerset conseguirão desvendar a mente desse criminoso?

 

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Show de Truman (1998)

O que você faria se descobrisse que tudo o que viveu até agora não passou de uma mera invenção? Que milhões de pessoas assistem a sua vida 24 horas por dia? Pode parecer estranho, mas essa é a realidade de Truman, um homem que não sabe que é uma estrela de televisão. Monitorado desde o dia em que nasceu, Truman Burbank  vive uma vida tranquila, como vendedor de seguros. Entretanto, essa estabilidade será quebrada no contato com a jovem Lauren, uma moça que tenta contar-lhe a verdade sobre o fato do rapaz ser um mero personagem da televisão. A inocência de Truman talvez dificulte sua saída dessa fabricada realidade.

 

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Django (2012)

No contexto da guerra civil americana, o escravo Django é comprado pelo Dr. King Schultz, um matador de aluguel que necessita de informações sobre três criminosos procurados. Ao se aliar ao doutor, a vida do ex-escravo é completamente alterada. Juntos, passam a matar por dinheiro. No meio da narrativa, Django revela seu desejo de resgatar sua amada, a escrava Broomhilda. O seu talento como atirador pode ajudá-lo nesta empreitada.

Online 5

The Hunt (2012)

Premiado filme dinamarquês, The Hunt conta a história de Lucas, um professor de primário que acaba de se divorciar. Em meio ao término dessa relação, uma de suas alunas, Klara, de 5 anos, o acusa injustamente de abuso sexual, desencadeando um forte ódio da comunidade local. Para agravar essa situação, o jeito introvertido do professor pode se tornar uma barreira para sua inocência.

 

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Bastardos Inglórios (2009)

Para os amantes da 2ª Guerra e do dinamismo das narrativas de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios é uma ótima pedida. O filme, amplamente elogiado pela crítica, conta a história do tenente Aldo Raine, encarregado de organizar uma missão suicida com judeus, para matar o maior número de nazistas possível. Em paralelo, é narrada a história de Shosanna Dreyfuss, uma moça que assiste à morte de sua família, pelos nazistas, e decide se vingar. Ambos estão bastante determinados a atingir seus objetivos.

 

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La La Land: Cantando Estações (2016)

Queridinho ao Oscar 2017, La La Land conta a história de Mia, uma atriz que sonha em atingir o estrelato, e de Sebastian, um compositor que sonha em salvar o Jazz. O filme narra o romance dos dois e os dilemas que envolvem suas escolhas para conciliar: o amor e o sonho profissional. Será que Mia e Sebastian conseguirão ficar juntos no final?

 

Online 8

 

 

Colaboração: Professor Rodrigo Petrônio, Doutor em Literatura comparada (UERJ)  e professor titular da FAAP. Colaborador, há 15 anos, dos jornais Valor Econômico e Estado de São Paulo.

O fim que todos esperamos

 

Por Jose Paulo Gomes

 
Olho para o relógio. Ainda faltam dez minutos. Mas parece que faltavam onze há meia hora. Não aguento mais esperar, só quero que o relógio atravesse o ponteiro da meia noite para ver o céu iluminado de várias cores.
Começo a olhar em volta e ver minha família. Percebo que não estou sozinho nos meus pensamentos de pessoa ansiosa. Até aquele meu tio mais calmo não para de olhar para o pulso e conferir o relógio. Será que agora a aposentadoria dele sai?
Minha mãe, que até há pouco não saía da cozinha, levando e trazendo comida, não se mexe mais. Colocou a roupa branca especial, separada exatamente para essa noite. Meu irmão vai prestar vestibular para medicina daqui uns dias. É a quinta vez que ele tenta. Nem para a festa veio.
Meu avô, que já estaria dormindo faz tempo, está acordado e também um pouco ansioso, mesmo já tendo passado por essa situação tantas vezes, mas esse ano é diferente, depois de 64 reveillons junto da vovó, ele agora está sozinho. Tranquilo mesmo, só o Pedro, mas com três meses ninguém é muito preocupado com nada.
O pai do Pedro, meu outro tio, tão cético e afastado dessas coisas da família, agora está aqui, produzido com uma das roupas que mais atraem superstições. A expressão no rosto é de quem não aguenta mais esperar. Ele precisa de um emprego para sustentar a criança.
O maior barulho que sobrou é o da televisão. Ou no máximo da criançada correndo lá no fundo, ainda sem entender muito o que está acontecendo.
Faz bem refletir nos momentos finais, por isso que essa família, que fala, fala e fala ainda mais, está tão quieta há tanto tempo.
O Pedro começa a chorar e causa um barulho que rompe o silêncio. Basta isso para todo mundo esquecer um pouco o que se passava, mas logo tudo termina e o menino se abraça à mãe.
E o choro que termina parece acalmar todo mundo. Como se as coisas ruins fossem embora com ele durante a virada do ano.
Dizem que existe uma mágica na noite do ano novo: assim que os ponteiros do relógio marcam meia noite, todos ganhamos um novo começo! Eu não sei quanto a você, mas eu não acredito nessas coisas. Se bem que meus tios, minha mãe, meu avô e talvez até eu poderíamos aproveitar bastante um novo começo!
Saberemos em dez..

Viveram felizes para sempre

 

Por Mariana Mallet

 
Você é feliz? Ah, a felicidade está sempre em jogo! Novelas, filmes e livros, todos com tramas diferentes, tentando alcançar um único objetivo: o final feliz. Mas, afinal, o que é essa tão cobiçada felicidade que a humanidade busca ininterruptamente?
Alguns dizem que ser feliz é não ser infeliz – leia-se razoavelmente satisfeito – em nenhum aspecto da vida. Muitos filósofos também já bateram na mesma tecla que hoje insisto em bater. Schopenhauer, por exemplo, concluiu que a felicidade plena era inconcebível: buscá-la é o mesmo que evitar infelicidades. Claro, sabemos que o alemão era pessimista, mas, será que ele está tão errado assim?
É engraçado como a felicidade conduz os homens. Até Harvard estuda a felicidade! Para os cientistas norte-americanos, as pessoas infelizes são as que pensam muito sobre a felicidade. Acredite se quiser, mas um estudo feito por eles indicou que as pessoas mais felizes eram as que aproveitavam o momento, sem estar com a mente em outra preocupação. Então toda aquela história de carpe diem (aproveite o dia), que era moda tatuar, nos anos 90, é verdade?
Vamos olhar por outro lado então. Bertrand Russell dizia que, para alcançar a felicidade, era preciso desapegar-se dos egocentrismos, focar-se nos aspectos externos da vida: os relacionamentos, o trabalho, as sensações. E se juntarmos tudo?
Temos aqui que felicidade é não ser infeliz em nenhuma área da vida; é evitar as infelicidades; é aproveitar o momento; e desapegar do egocentrismo.
Ora, se você não é infeliz com nada na sua vida, você tem evitado o que te deixa infeliz, certo? E se você tem evitado o que te deixa infeliz, por exemplo, deixou de trabalhar aos finais de semana, você aproveita mais o que te deixa feliz, como passar um tempo com entes queridos. E se você aproveita mais os seus momentos, você desapegou do egocentrismo que te faz procurar a felicidade plena incansavelmente: você saiu de dentro de si.
O leitor vai me questionar: como isso se aplica no mundo real? Afinal, esses são pensamentos de filósofos. Mas, engana-se quem acha que essa conclusão é exclusiva dos pensa dores. Outro dia mesmo, um senhor sentou-se ao meu lado no metrô, puxando conversa. Eis que aproveito e lanço a pergunta – inconveniente – se ele é feliz. Seu Jorge gastou muito tempo atrás da felicidade: passou fome, trabalhou de domingo a domingo. E, então, com setenta e muitos anos, ele enxerga que os seus momentos de verdadeira felicidade foram quando não estava em busca da mesma.
Ora, o que um velho qualquer tem a ver? Pense comigo: para alcançar a felicidade, ele trabalhou incessavelmente, deixou de fazer o que queria. Mas, quando nem sequer pensou nela, estava feliz.
Então, depois de tudo isso, eu venho tentar te convencer que eles estão falando basicamente a mesma coisa, de maneiras diferentes? Não, afinal, não existe fórmula para a felicidade. Enfim, chega de martelar sobre ela. Hoje o dia está lindo.

Novela na vida real

 

Por João Paulo Almeida

 
Zeca e Rui estão tentando encontrar Ritinha – “Nasci para viver presa!” Geisa tem sua grande oportunidade no UFC – “It’s time!” E Bibi decide confessar seu crime – “Fui eu que incendiei o restaurante.” – “Então você está presa!” Amanhã, último capítulo de “A Força do Querer”.
A novela sempre fez parte da vida do brasileiro, com a televisão ocupando o lugar principal na sala. Sempre foi um ritual das famílias acompanhar, após o jantar, a vida de intrigas, aventuras e amores das personagens. A TV ditava tendências e provocava grandes polêmicas nacionais ao falar de aborto, sexualidade, Aids, drogas, reforma agrária e outros. E o final de uma trama sempre causou grande expectativa, quando no sofá era discutido quem ia ficar com a mocinha, o que ia acontecer com o galã, ou como o vilão ia morrer. O último capítulo de Roque Santeiro parou o país em 1986, e a audiência de 67 pontos nunca foi superada.
O final é importante, mas a professora Esther Imperio Hamburger, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA, lembra que é mais interessante para o autor adaptar o roteiro durante a trama. O fim não é necessariamente o que se espera e o que importa é a busca de interlocução, adequação e suspense. “No final, o autor pode até surpreender porque o público já chegou até ali e não haverá nada depois”, afirma.
Nos anos 90, a discussão familiar em volta da TV ficou morna, com a TV a cabo, aparelhos nos quartos e os computadores pessoais. Foi assim até a chegada das telas gigantes, em meados de 2005, com modelos de mais de 40 polegadas e alta definição, quando voltou a reinar nas salas, fina e elegante, um objeto de desejo. Passou a ser não apenas uma TV, mas uma central multimídia online.
O fim de uma novela, principalmente da TV Globo, continua despertando muito interesse, mas precisa competir com os elementos fora do canal. O telespectador ainda fica no sofá, mas de olho no celular e na internet, onde comenta tudo em tempo real. Se uma personagem agrada ou não, logo as redes mostram; se algo foi engraçado, rapidamente vira “meme”; se a trama vai ficando ruim, mais pessoas se conectam para reclamar. Muitos também telefonam para a emissora todos os dias, dando palpites e perguntando até a marca de esmalte da atriz. Seja como for, a novela pode ter um último capítulo, mas a discussão, real ou virtual, não.

Equipe conquista incrível vice-campeonato

 

Por Diogo Magri

 

Um círculo no meio do campo, formado por torcedores, jogadores e diretores, agradece pela glória conquistada. O
motivo do agradecimento está no meio da roda: um troféu. A cena, ocorrida em Batatais, a 355 km da capital São Paulo, é comum após a vitória de um time de futebol na final de um campeonato. Um aspecto, entretanto, chama a atenção em toda aquela comemoração. O troféu é de prata – a cor do segundo lugar.

 

Conhecer o Batatais FC ajuda no entendimento do contexto. Com 98 anos de história, a equipe não possui uma
estrutura que rivalize sequer com outros times do interior. Em 2017, porém, o Batatais se sagrou vice-campeão
da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a competição mais importante da categoria sub-20 no Brasil. “Foi tudo lindo,
nunca vai sair da minha cabeça”, comenta Bruno de Paula, membro de uma torcida organizada do time que acompanhou toda a campanha.

 

Dos 120 clubes que iniciaram a competição, Batatais e Corinthians chegaram à final, no dia 25 de janeiro, no Pacaembu. Maurício Kem, volante do Batatais, mal conse guia acreditar no que estava vivendo: “Era um sonho meu
de muito tempo atrás”. Maurício, por conta de um cartão amarelo na semifinal, não pôde enfrentar o Corinthians,
mesmo tendo sido titular a competição inteira. “O que mais me chateou foi não ter jogado a final, mesmo tendo contribuído para tudo aquilo. Ainda assim, estava muito animado pela equipe”.

 

Enquanto Maurício controlava a expectativa no hotel onde o time estava hospedado, na capital, Bruno se dirigia a São Paulo com a caravana que havia saído de Batatais na manhã do dia da final. “Fomos em seis ônibus e alguns carros”, conta. Chegar ao Pacaembu e encher um setor das arquibancadas parecia inimaginável para a torcida de um clube tão pouco conhecido. “Ali, caímos na realidade e entendemos o que aquilo significava”, reforça Bruno. E, quando a bola rolou, o time grande, empurrado pela tradição de títulos e por milhares de torcedores no estádio, teve dificuldades frente àqueles meninos do interior.
Bruno resume, orgulhoso: “A determinação de cada atleta nos impressionou”. Por isso, o resultado, 2×1 para o Corinthians, pouco importou. O que se viu após o apito final foi uma festa de ambos os lados. Para Maurício, a chateação de não poder ajudar os companheiros ou mostrar seu futebol em rede nacional desapareceu após o jogo. “Não tenho nem palavras para descrever uma felicidade tão grande quanto a que senti naquela hora”, disse. Após a partida, eles voltaram com os ônibus para Batatais e encerraram a festa no campo do time, com a roda de agradecimento. Naquele dia, a medalha de prata, cujo clichê é ser símbolo de uma derrota, teve um valor dourado.

Onde o tempo não tem pressa

 

Por Gabriel Campos

 
Maria do Rosário Sosa, 53 anos, é dona da Pousada Sol de Verão, localizada no pacato vilarejo do litoral da Bahia. Maria cresceu no estado e hoje vive lá com o marido, irmã e duas primas. Mas ali, pouco tem ficado nos últimos anos. Viajar o mundo tem sido sua rotina. Depois de 44 países e quatro continentes, a próxima de suas paradas é na antiga cidade Inca de Machu Picchu. Apesar de nunca ter visitado o lugar, já o conhece. Falou sobre ele nas muitas aulas que lecionou em uma vida que ficou no passado, e já não existe mais.
Sosa, como era chamada pelos alunos, deixou Salvador ainda no ensino médio, finalizado em São Paulo, que se tornou sua casa por mais de duas décadas. Formou-se em história em 1987, aos vinte e três anos, quando, por necessidade, teve de abrir mão do sonho de seguir profissão na área, e ser historiadora, para ingressar no mundo pedagógico. Por dois anos, rodou por escolas menores, enquanto tinha como principal sustento as aulas particulares. Foi quando, em 1989, entrou no Colégio Santa Marcelina, bastante conhecido no lado oeste da capital paulista, à época com quase 1500 alunos, dos quais 350 sob sua tutela no ensino de História.
Professora de todo o ensino médio, tornou-se uma referência entre a docência, o que lhe garantiu, doze anos depois, o cargo de coordenadora da matéria no colégio, onde ficaria até março de 2011. Neste período, Sosa viu e agiu contra diversas mudanças que acabariam por minar a credibilidade de outrora do colégio. Mas contra a mudança daquele ano, ela nada pode fazer. O novo corpo administrativo integrou o Santa Marcelina a uma rede nacional, responsável por instaurar novos padrões de uniforme, conduta em sala de aula e, claro, do quadro de professores. Os mais antigos foram demitidos, e assim, Sosa deixava o lugar onde havia construído sua carreira por vinte e dois anos.
Bateu à porta de outros colégios, arriscou tentar em cursinhos, mas o alto salário pretendido era um empecilho aos empregadores. Depois de quase um ano tentando, veio o ostracismo, acompanhado por um sentimento de impotência, que a fazia duvidar da sua mais íntima capacidade.
As manhãs não eram mais diante dos quase cinquenta alunos de cada sala, mas bem longe deles. E foi nesse distanciamento que ela percebeu: aquela estrada que se acabava, abria ao lado um novo caminho. Um novo velho caminho. Ela deu voz a um de seus mais antigos desejos, soterrado pela profissão que aprendeu a amar.
Desde 2012, Cumuruxatiba, “onde o tempo não tem pressa, e a preguiça é mais gostosa”, é sua nova casa, e dela fez sua porta para o mundo. Atualmente está no Equador, onde deve ficar até desembarcar no Peru. Hoje, retomou um velho sonho: vive a história com os próprios olhos.

Memórias de uma velha tartaruga

 

Por Marcos Pomar

 

Olá. Meu nome é George e eu sou o último membro da minha espécie ainda a habitar o planeta. Tenho 112 anos, e com esses olhos de tartaruga já vi muita coisa.

Quando mãe tartaruga me deu à luz, ainda havia muitos de nós, os Chelonoidis abingdonii, mas isso mudou muito. Os humanos que chegaram às ilhas Galápagos — primeiro os pescadores, depois os cientistas, como aquele tal de Darwin — vieram a achar nossa carne muito macia, esse foi nosso azar. Sempre levamos a vida em paz, devagar, e isso também deixou as coisas mais fáceis pra eles na hora de nos capturar. Éramos muitos, e hoje somos muito poucos.

Mas agora não adianta chorar. A vida seguiu, apesar de ela já não fazer mais tanto sentido como antes. É muito difícil viver por conta própria, sabe? Sem ninguém com quem conversar, sem uma companheira ou uma prole pra chamar de sua.

Era 1971, e havia um americano que não estava metido e nem se interessava pela tal Guerra do Vietnã. Esse homem era Joseph Vagvolgyi. Como seus colegas biólogos, ele achava que os nossos haviam todos desaparecido, mas ainda restava a mim. Quando me encontrou, fui levado até um centro de pesquisa, e ali pude conviver com outros quelônios gigantes como eu. Bem, não era como se fossem da minha espécie, mas já era algo.

É engraçado. Os humanos que por tanto tempo nos devoraram, agora pareciam muito preocupados comigo, críticos à voracidade de seus antepassados, mas talvez já fosse tarde demais.

Como tentei explicar a eles várias vezes, minhas articulações já não são as mesmas, e meu sex appeal também não. Então quando trouxeram Lucy e Lupita da ilha de Volcano, demorou vários anos para acasalarmos. Quando isso finalmente aconteceu, os ovos que fizemos foram inférteis. Eu, que tenho 100 anos sobre o casco, sofri como se fosse uma tartaruga bebê.

Depois esqueci essas ideias malucas dos humanos de “perpetuar a minha espécie” e me dediquei a uma vida tranquila. Ouvia as notícias do mundo lá fora através de meu cuidador, o Seu Fausto, e pensava que afinal de contas o homem não tinha mudado tanto assim.

Era um belo dia de sol — 24 de junho de 2012, para ser preciso — e eu aquecia minhas rugas sobre as pedras. De repente me bateu vontade de beber água. Arrastava minhas grandes patas com calma, até aquela pequena fonte ladeada de pedras, quando minha visão ficou turva e eu senti meu corpo esmorecer, tombando no chão tranquilamente.

Aqui jaz George, o último dos quelônios gigantes da ilha de Pina (1900-2012)

 

Colaboraram:

Franco Souza, biólogo e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

Fontes: Páginas online: http://bit.ly/2mpxT1H; https://glo.bo/2AH4ZfG; http://bit.ly/2iWMtJ8

Vivendo à beira da morte

 

Por Vinicius Sayao

 

Em uma manhã qualquer a romena Rowena Kincaid, 39 anos, resolveu tirar as roupas e correr nua em uma calçada movimentada de Cardiff, Reino Unido. Mas por que alguém faria isso por vontade própria? Rowena é protagonista do documentário Antes de Partir (Before I Kick the Bucket, nome original), diagnosticada com câncer de mama em estágio avançado e com previsão de três a seis meses de vida.

 

Produzido e exibido pela BBC em 2016, o documentário acompanhou a britânica por oito meses, até um de seus principais objetivos: chegar ao aniversário de 40 anos. Durante esses oito meses, Rowena fez de tudo. Comprou um carro caríssimo, casou-se com um desconhecido, fez fotos sensuais, pulou de paraquedas. Não só isso. Com muito bom humor, ela também planejou seu próprio funeral, a playlist da ocasião, se seria enterrada ou cremada e, claro, tratou da doença o máximo possível.

 

Apesar de ainda não ter atendido ninguém que tenha feito como Rowena, Eliza de Paula, psicóloga especializada em cuidados paliativos – assistência promovida para a melhora da qualidade de vida diante de uma doença que ameace a vida –, explica que, ao contrário dos pacientes convencionais, “os terminais, como o próprio nome diz, tem pouco tempo e, por isso, as miudezas e futilidades passam longe. Coisas do dia a dia perdem um pouco o sentido e cada um tem sua emergência a ser cuidada”.

 

Segundo a psicóloga, os pacientes se focam em necessidades mais práticas, como entender o processo da doença ou resolver algumas pendências – fazer as pazes com um irmão, pedir desculpas a um filho ou até mesmo resolver o que fazer com alguns bens ou peças pessoais de valor sentimental.

 

“Meu intuito enquanto psicóloga é acolher seus medos e aflições, ajudar o paciente a entender todo o processo e poder contribuir no que for possível para a realização dos desejos e vontades”, complementa Eliza.

 

Seja fazendo algumas loucuras como Rowena, seja com psicoterapia, o objetivo principal é aliviar a tensão e aprender a lidar com a situação para conseguir aproveitar o tempo que resta. A reflexão que a britânica faz no documentário provavelmente é a mesma que fazemos enquanto acompanhamos sua trajetória: não esperar até que seja tarde demais.

 

Rowena morreu em setembro de 2016, oito meses após sua festa de 40 anos e sete anos após a descoberta do câncer.

 

O documentário voltou a ser exibido pelo canal Discovery Home & Health em outubro deste ano, como parte do Outubro Rosa, campanha de conscientização sobre o câncer de mama.

O fim está [sempre] próximo

 

Por Carolina Marins

 

Em milhões de anos de existência da humanidade, a sociedade, a ciência e a tecnologia evoluiu de uma forma que constantemente nos perguntamos: onde iremos parar? Sem saber o que reserva o futuro, o ser humano procura possíveis sinais do seu fim. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o crescimento do extremismo político, aprovação do casamento gay, podem parecer presságios de que “o fim está próximo” para alguns, tão próximo quanto esteve há milhares de anos. Segundo João Paulo Pimenta, historiador pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a espera pelo fim dos tempos surgiu junto com a religião. “Durante séculos a humanidade se pergunta qual o seu rumo e dentro dessa questão a ideia de fim do mundo surgiu de forma espontânea”, explica. Nossa atual visão de que o fim do mundo será trágico está diretamente relacionada com a maneira como enxergamos o tempo. As primeiras teorias sobre o fim não eram tão negativas como as atuais. As religiões antigas possuíam uma concepção cíclica do tempo, ou seja, tudo tinha um começo, um fim e um recomeço, que se repetiria eternamente. O hinduísmo é um exemplo de religião cujo tempo é cíclico. A ideia linear do tempo, portanto, começo, meio e fim, surgiu na Pérsia, entre os séculos X e V a.C. no Mazdaísmo, que acreditava que o oceano seria coberto por lava e metal, onde só os justos atravessariam. É dessa visão do tempo e do fim que surge o conceito do Juízo Final, presente no cristianismo, judaísmo e islamismo. O apocalipse seria uma forma de purificar o mundo das maldades da humanidade. A partir do momento que o tempo passa a ser linear, o fim torna-se o final absoluto, sem recomeços. O futuro, então, se torna incerto e, portanto, amedrontador. Dessa forma, as antigas teorias sobre o fim dos tempos ganham um novo contexto, muito mais catastrófico. Nasce a ideia de que o fim será sanguinário, sofrido e em massa. Ainda há uma forte presença da moral em teorias religiosas, como as evangélicas, de que os pecadores irão sofrer. Porém, o apelo atual está muito mais ligado à desastres naturais, humanos e astronômicos, como o aquecimento global, uma guerra nuclear ou a morte do Sol, cuja verossimilhança científica convence. Segundo Pimenta, enquanto o futuro for um mistério, especulações sobre o fim irão existir, com teorias semelhantes às antigas. Enquanto isso, continuaremos nos perguntando, sendo alimentados por centenas de obras de ficção-científica: quando e como será o “próximo” fim do mundo?

 

Fontes: ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Martins Fontes, Rio de Janeiro – 2012

Filmes: “2012”; “Interestelar”; “Núcleo – missão ao centro da Terra”; “O dia depois de amanhã”; “Independence Day”; “Armageddon”; “Contágio”; “Impacto Profundo”

Páginas online: http://bit.ly/2iGWjPl

Rio, Brasília, paralisia

 

Por Mariana Goncalves

 

Um post recente num grupo do Facebook exibe o link para a manchete: “Criança tem paralisia após tomar vacina contra pólio em MG”. Quem mostra é a administradora do grupo, Iolanda Santos*, dedicada a “desmistificar” a vacinação nas redes sociais. “Você sabe o que realmente é a poliomielite?”, pergunta. “Será que as vacinas acabaram mesmo com as doenças?”. A provocação é em referência à erradicação da paralisia infantil no Brasil, que data de 1990, segundo o Ministério da Saúde.

 

Caracterizada pela flacidez muscular e paralisia motora, a poliomielite é uma doença que traz sequelas permanentes. Altamente transmissível, no passado fez epidemias no Brasil e no mundo. A reportagem trazida por Iolanda, sobre um caso de 2011, alertava para a suspeita de um bebê ter contraído paralisia pós-vacinal, evento que acontece a cada 2,3 milhões de doses, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Grupos antivacinistas, geralmente formados por chefes de família, têm justamente este medo: o de que os componentes das vacinas (agentes infecciosos ou substâncias químicas), ao invés de proteger, provoquem reações adversas ou a própria doença que tentam evitar.

 

Segundo a infectologista e integrante do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Rosana Richtmann, graças à vacinação, o Brasil combateu doenças como a pólio e a varíola, e todos devem tomar as doses necessárias. “As pessoas se enganam se acham que vão proteger suas crianças se não as vacinarem”, diz a pediatra e imunologista Kelly Oliveira, do Espaço Médico Descomplicado. Durante a infância, a imunidade e o sistema de defesa ainda estão em formação, e apenas as vacinas podem preveni-las contra algumas doenças. “Por isso são tantas doses no início da vida.”

 

“A gente tem dados, sim, mostrando que algumas vacinas têm mais chance de causar evento adverso”, conta Richtmann. Mas as complicações são leves e temporárias, com sintomas como febre e dor no corpo. Já as histórias do Facebook – onde se mostram crianças com hemorragias ou membros amputados – não têm confirmação na literatura médica. No caso do “efeito” do autismo, frequentemente citado entre antivacinistas, a pediatra reforça: é mentira.

 

“Se está erradicada, por que precisamos vacinar contra a paralisia?”, questiona  uma mãe na internet. Richtmann diz que é preciso que toda a população esteja vacinada para que o vírus deixe de circular. “Tem gente que não se vacina e, para justificar, diz que antigamente não era assim”, completa Oliveira. “Mas o mundo de hoje é outro.”

 

A erradicação também pode não ser o fim da história. Segundo a OMS, apesar do êxito das políticas de prevenção nas Américas, a poliomielite ainda existe no Paquistão, Afeganistão e Nigéria. “Como temos voos entre os países, ainda existe o risco de reintrodução do vírus”, afirma Richtmann. Apesar de remota, a possibilidade é um alerta para os profissionais de saúde, dada a gravidade da doença. “Se a gente diminuir nossas coberturas vacinais, se deixar de fazer os reforços… O vírus não está erradicado no mundo.”

 

*Nome fictício.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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