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Boa noite, Seu Zé!

 

Por Theo Sales

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Com um boné da Nelore, botina de couro e casaco cobrindo até o pescoço, Seu Zé, hoje aos 58 anos, relembra da juventude correndo em meio aos galhos secos e espinhos em um pega de boi. Correndo em cima do cavalo nas vaquejadas no interior de Alagoas, o tempo parecia passar mais rápido. Hoje, nas noites frias em São Paulo, o relógio parece congelar.

José Gabriel da Silva, chamado popularmente de Seu Zé, é vigia noturno na capital São Paulo. Enquanto a maioria dorme, ele se mantém vigilante. Nas noites, o tempo teima a passar. De quando em vez, alguém passa e interações de segundos fazem o ponteiro correr mais rápido. “Boa noite, Seu Zé!”, ao que ele responde com um sorriso no rosto. Após, o silêncio volta a reinar e o os segundos demoram horas.

Ele abandonou sua terra em busca de trabalho e, na riqueza de São Paulo, Seu Zé encontrou a pobreza de tempo. Sua história remete ao livro Uma geografia do tempo, do psicólogo Robert Levine, que mostra que países e lugares mais industrializados, populosos e voltados ao individualismo são mais opulentos, porém “escassos” de tempo. O ritmo da vida marcado pela precisão dos relógios e máquinas voa tão rápido que as 24 horas do dia parecem não ser suficientes. 

Laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer. Deixai fazer, deixai ir, deixai passar. Poderiam muito bem ser versos de um poema sobre o tempo, mas se trata da máxima do liberalismo econômico, que poderia ser melhor representado por uma expressão latina clássica: tempus fugit. O tempo foge. A lógica neoliberal subordina a noção do tempo ao cronômetro e acelera a forma como o medimos e sentimos, como sustenta a psicóloga Umbelina do Rego Leite. 

De dia, nunca há tempo, nem para pensar. De noite, tão cansados que estão, querem apenas retornar a suas casas e descansar. Em meio ao fluxo ininterrupto e sempre calculando o dia seguinte, pensar o tempo é como carregar água numa peneira. 

Na contramão desse movimento incessante, como alguém que abre os olhos no meio da noite e aos poucos vai enxergando na escuridão, Seu Zé se acostumou a ver a areia cair. Então o sol nasce e a ampulheta vira, dando início a mais um ciclo de encontros e desencontros com o tempo. O “bom dia, Seu Zé!” marca o recomeço diário. Ele comenta com uma das pessoas que passa: vamos que o dia é longo. Alguns, mais longos que outros…

Colaboraram:

José Gabriel da Silva, o Seu Zé, vigia noturno
Umbelina do Rego Leite, psicóloga e professora de Psicologia da UFPE
Caio Barbosa Cavalcanti, estudante da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas

Antes da última badalada

 

Por Juliana Meres e Vinicius Andrade

 

 

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O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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