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A saga doméstica do alinhamento de chakras

 

Por Isabelle Almeida

 

Em um final de tarde de quinta-feira, tendo voltado do estágio e sem nenhum plano para noite, decidi que tentaria meditar para abrir meus chakras. Sem nenhuma noção sobre o assunto, mas com vontade de aprender, comecei minha pesquisa pelo único lugar por onde sabia começar: o Google. Logo de cara percebi que as opções que haviam na internet são quase que infinitas. Métodos diferentes de meditação, mantras, vídeos, posições de yoga, uma série de ferramentas disponíveis de forma ilimitada para qualquer um com um computador por perto. É um pouco intimidador a princípio. E é difícil escolher o que funciona melhor quando não se tem experiência nenhuma. Sem ter muita noção do que estava fazendo, achei que deveria começar pelo básico: meditação.

Parti para os exercícios. Comecei por um vídeo de meditação guiada que achei no Youtube, de 44 minutos. Se eu ia fazer isso, ia fazer direito. Decidi que deveria tentar uma imersão total. Fechei a janela, me tranquei no meu quarto. Acendi um incenso de lavanda que encontrei guardado no armário e só pela emoção, também tirei da gaveta meu quartzo rosa em formato de coração para ajudar com a energização. Li em algum lugar que cristais ativam os centros de energia e equilibram o campo magnético do corpo. Se isso não funcionasse, não sei o que iria. Sentei-me no chão, arrumei minha postura, cruzei as pernas e alinhei minha coluna. Não tinha ninguém em casa, tudo estava em completo silêncio. Respirei fundo e dei play no vídeo. Uma voz feminina um pouco inquietante logo começou a sussurrar em meus ouvidos, exercício de ativação e alinhamento dos chakras, coloque-se confortavelmente sentado… Eu procurei me concentrar, mas acabou que encontrar uma postura certa foi mais difícil do que eu imaginava. Cinco minutos de vídeo e surgiu minha primeira dificuldade. A cãibra. Descruzei as pernas algumas vezes, tentei me esticar. Não teve jeito. Precisei me levantar e sentar na minha cama.

Recomecei. Tudo bem, estava tudo certo. Já tinha superado a estranheza inicial de uma voz me guiando, estava confortável na minha posição. Sentia meu corpo se aquecer, uma sensação gostosa enquanto me concentrava na voz da mulher. Tudo ia melhor do que eu previa. Imagine agora o ar mudando para a cor laranja, e a cada inspiração ele entrando por suas narinas como uma névoa... Eu tento me concentrar na minha respiração. Inspiro e expiro lentamente, enquanto procuro visualizar a energia laranja saindo de mim. Tento fazer a mesma coisa com os chakras seguintes (o que consigo com mais ou menos sucesso). E tudo parecia certo, até que percebo que estou divagando cada vez mais. Aquilo estava demorando demais. 44 minutos do dia fazendo isso? O que eu tinha na cabeça? Não tinha esse tempo todo para gastar. Se esse vídeo não terminasse logo ia me atrasar, tinha que comprar o presente de aniversário da minha amiga, tinha que arrumar minhas malas porque ia passar o fim de semana na praia. Não tinha tempo para isso.

Dei uma espiada no vídeo. Faltavam 20 minutos. Droga. Não, tudo bem. Concentre-se. Inspire a luz verde, sinta a sensação de calma invadir seu peito... Continuei, distrair-se era normal, li em diversos sites diferentes. Apenas deixe que o pensamento passe, sem julgá-lo. Isso funcionou por um tempo. De repente, ouço um barulho vindo da sala. Percebo imediatamente do que se trata. Minha mãe chegou mais cedo em casa hoje. Sabia que isso ia acontecer. Ela me chama, e eu tento ignorar. Concentre-se, concentre-se. Ela grita alguma coisa e eu grito de volta, Tá mãe, depois eu vejo isso! Ligeiramente irritada, volto a fechar os olhos e tento me focar de novo. Agora só faltam dois chakras. Leve sua atenção ao chakra do terceiro olho, inspire o ar e o visualize na cor azul-escuro índigo... Finalmente cheguei ao chakra frontal. Desde o começo, era o chakra que eu mais tinha curiosidade em abrir. Imagino uma cor forte azul-escura ainda mais saturada, da mesma cor de uma noite escura. Não tenho muita certeza se a cor que imagino é índigo, mas acho que não importa. Sinto-me invadida por uma luz forte, e por alguns breves instantes é quase como se eu realmente tivesse alcançado um estado para além do nível básico de consciência. É difícil de explicar, mas essa sensação dura apenas alguns segundos.

Essa energia estimula uma vibração que se espalha em círculos, de uma forma sutil… A música é suave a voz da moça é tranquilizante. Se eu estivesse deitada, com certeza já estaria dormindo. O silêncio é cada vez maior, seus pensamentos são claros, nítidos... Então, de repente e sem aviso prévio, a música para. Lentamente voltando sua atenção novamente para seu corpo… Abro os olhos com certa surpresa. Talvez até um pouco decepcionada. Os 44 minutos terminaram. Com as palmas das mãos juntas em frente ao coração, agradeço pela experiência. Não me sinto transformada, mas me sinto bem.

Por Isabelle Almeida

 

Em Busca do Corpo Ideal

 

Por Sofia Mendes

 

Toda a batalha com meu peso começou quando eu estava entrando na adolescência. Na infância não tinha muito dessas coisas, eu era uma criança normal, então não ligava muito pra isso… Ou vice-versa. Mas com a puberdade se estampando no meu corpo (nas minhas novas coxas fartas e braços rechonchudos) e as opiniões dos outros importando cada vez mais, a insatisfação com minha aparência se tornou parte da rotina.

 

Meus pais também deram um “empurrãozinho”. Eles foram os primeiros a cortarem minhas “besteiras”, a controlarem o que eu comia e a julgar quando eu estava “acima do peso”. Até promessa de presente caso emagrecesse eu recebi!

 

 

A partir daí as dietas eram as mais malucas: dos pontos, da banana verde (que dor de barriga!), das calorias vazias… Mas o que eu mais gostava mesmo era de ficar em jejum – me sentia poderosa por poder ficar muito tempo sem comer, uma guerreira! Exercício físico? Que preguiça! Mas como não tem solução, o jeito era fazer ginástica aos montes de uma vez só, até me machucar.

 

Com uns 15 anos, eu entrei em uma dieta por conta própria, e ia na academia sete dias por semana. Consegui perder 25 quilos (uau!), mas perdi também alguns amigos, já que não podia comer nada nos lugares que eles iam, além de sempre estar  sem energia para sair. Além disso, sempre fui mestre em esconder as partes do meu corpo que mais me incomodavam, não importava meu peso. Numa dessas, andando na rua  de moletom no auge do verão desmaiei de calor, em prol de esconder meus pobres bracinhos.

 

Gastei energia absurda tentando esconder meu corpo e minhas imperfeições, quando eu podia ter aproveitado minha família, feito novos amigos e dado mais atenção aos antigos. E eu vejo isso agora, no início da vida adulta e com uma cabeça – e corpo – totalmente calejados por essa experiência. Aprendi muito sobre empoderamento feminino e libertação dos padrões. Hoje em dia não compro mais revistas que me prometam o corpo perfeito; seguir “musa fitness” nem pensar!

 

 

Mas vira e mexe eu ainda me pego olhando pro espelho apertando uma gordurinha e odiando ela estar ali. Ainda deixo de usar uma roupa linda porque acho que ela ressalta meu quadril – fora de cogitação! É até meio bobo falar isso, porque ao mesmo tempo que você apoia e empodera as meninas que passaram e passam pela mesma coisa que você às vezes é tão difícil se livrar desses pensamentos ruins!

 

No final das contas, você vira o seu pior inimigo, mais que os olhares julgadores, as revistas de moda, os padrões.E a maior luta, a contra você mesma, é diária, inconstante e sofrida. Pelo menos eu sei que não estou sozinha nessa.

 

*Texto baseado em relatos anônimos.

 

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Por Sofia Mendes

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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