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Entre o certo e errado, valores e gerações

 

Por Mariana Cotrim

 

Se hoje vamos a um clube noturno, é comum presenciar casais se formando, além de carícias e beijos sendo trocados em público. Mas há 60 anos, uma cena como essas seria inimaginável para Zélia Gomes, 77 anos. Para seus pais, namoros expostos contrariavam a ideia de “andar na linha”.

Essa expressão ainda é presente entre jovens de hoje e, assim como antes, ela denota regras, naturais para qualquer interação social. Contudo, a  ligação com valores de uma geração faz com que a definição do “andar na linha” mude entre famílias. Se para Vivian Dias, 17 anos, pode ser lutar pelo seu futuro, para Edite Pestana, da mesma geração de Zélia, usar uma minissaia extrapolava o limite imposto pela época. E mais, se sair da linha não era nem uma opção para Raimundo Gomes, hoje com 85 anos, jovens atualmente consideram esse ato essencial para adquirir experiências, como para Giovanna Rocca, 17 anos. 

A psicóloga Daniela Daleffe, especialista em análise do comportamento, aponta a importância do equilíbrio entre o “sair” e o “andar” na linha. Segundo ela, sendo a expressão variável em diferentes grupos sociais, uma pessoa que se atenta rigidamente a um tipo de regra imposta pode ter dificuldades para se adaptar a outro ambiente.

Quando se fala em regras, os contextos sociais e culturais também são importantes para a definição do certo e errado, e a contestação desses valores contribui com a mudança dos limites na sociedade. Essa reavaliação foi mais visível no Brasil a partir de 1950, com a Contracultura e a Revolução Sexual. No mesmo período do golpe militar, jovens de diferentes movimentos contestavam o que era visto como retrógrado. 

Assim, enquanto colégios brasileiros proibiam o uso de minissaias e mulheres causavam espanto ao usá-las, passeatas feministas como o Women’s Liberation Movement ganhavam corpo, principalmente nos Estados Unidos. Esses atos possibilitaram o uso da vestimenta sem que mulheres precisassem se esconder, como fazia Edite quando saía, e permitiram uma mudança nos valores que rodeiam hoje Vivian e Giovanna em suas decisões sobre o futuro. 

Essa ampla contestação dá a Zélia a ideia de um momento atual menos rígido. Isso permite que Giovanna, por exemplo, não fique presa somente ao que é considerado certo ou errado, mas também às experiências que compõem sua vida. Também dá abertura à discussão de Daniella, sobre como o equilíbrio entre o excesso de regras e as infrações são importantes para o desenvolvimento social.

Colaboraram:

Daniela Daleffe, psicóloga formada pela PUC-Campinas. Atua com psicoterapia infantil, de adolescentes e adultos e dedica-se a grupos de estudo e supervisão em Análise do Comportamento;

Natália Cristina Batista, pós-doutoranda no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Grupo de Autoritarismo e Resistência e membro do núcleo de História Oral da UFMG;

Orivaldo Leme Biagi, doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas, coordenador do curso de Direito do Centro Universitário UNIFAAT.

O que não sai da minha cabeça

 

Por Crisley Santana

 

Luiza estava exausta. Não havia dormido direito, estava muito preocupada, para variar. “E se me demitirem?”, perguntava-se, sentindo o coração palpitar. O travesseiro, naquela noite, não passou de um lembrete de todas as tarefas que ainda estavam por concluir no escritório. 

Nos últimos meses vinha sentindo muita dificuldade de se concentrar, o que fez os afazeres se acumularem. “E se estiverem todos falando de mim, por isso?” inquietava-se enquanto observava os colegas conversarem.

“Ei, Lu. Pode me ajudar com esse item aqui?“. “É claro que não! Estou muito ocupada!” Esbravejou. Sentia os nervos à flor da pele. Não queria ter tratado o estagiário daquela maneira, mas não conseguiu evitar.

A irritabilidade já era parte do seu cotidiano. Tanto, que ficou conhecida como “aquela do pavio curto”. Porém só ela sabia porque se sentia assim. Só ela, e seus músculos, sempre tensos e doloridos.

Foi depois da primeira crise que decidiu descobrir o que sentia. Estava em casa quando aconteceu. Sentiu a garganta fechando, mal conseguia respirar. Deitou-se no chão da cozinha para evitar um desmaio. A sensação de descontrole fazia sentir que o coração explodiria. Chorava desesperadamente enquanto os pensamentos se atropelavam: “e se eu enlouquecer?”

Antes disso, já suspeitava precisar de ajuda, pois seus constantes questionamentos a fizeram sair da faculdade. Não conseguia mais interagir e conviver com aquele estresse diário. “E se não gostarem da minha tarefa? E se não gostarem de mim?”. O estômago chegava a embrulhar. Não era fácil sentir-se tão vigiada.

Talvez não tenha procurado um médico antes por sempre ouvir ser frescura o que  sentia. “É só não ligar para o que pensam”, “não precisa se preocupar tanto”. Sentia-se ainda mais aflita quando ouvia coisas assim. De qualquer maneira, considerou ter sorte. Apesar dos comentários, ao menos sua mãe entendeu porque precisou parar os estudos.

Não era fácil conviver com seu distúrbio. Era difícil admitir para si própria que possuía o tal mal do século, compartilhado por 18,3 milhões de brasileiros. Mas aprendeu a não mais pensar em “e se não fosse assim?”. Precisava admitir: o transtorno de ansiedade generalizada fazia parte da sua vida.

Talvez desde a infância, quando passou a receber apelidos maldosos. Ou por causa daquele relacionamento que despertou-lhe gatilhos. Podia ser genética. Seus pais claramente sofriam do mesmo mal. Não sabia dizer. 

Só sabia que precisava tomar seu ansiolítico do dia e decidir se ligaria para remarcar o horário da terapia. “E se eu faltar para tentar terminar as tarefas? Mais uma vez…”

 

Colaboraram: Carolina Santos Lacerda, Renan Otavyo Ferreira

Fonte consultada: Michelle Binhame, psicóloga clínica

 

Já pensou em uma internet que faça relaxar?

 

Por Mayara Paixão

 

 

Pesquisas já têm mostrado: a internet e a tecnologia podem influenciar em fatores como a ansiedade humana. No mundo hiperconectado que vivemos, muitas pessoas encontram uma das soluções para esse problema no próprio celular. Pode parecer contraditório, mas te explicamos como os chamados ‘aplicativos para relaxar’ têm sido usados como válvula de escape para os gatilhos desencadeados no mundo virtual.

 

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O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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