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não me apego não

 

Por Leticia Naome

 
Arte: Adrielly Kilryann e Guilherme Castro

Uns com 30 anos de casado

Sem medo de apego

Eu não tive essa sorte

Toda vez que me abri, eu só sofri

Não achei ninguém, com 30 almas gêmeas por aí

Já que dei muito azar, agora vou pra farra 

Esquecer de relação, por mais que volte a sentir

Não vou me entregar, e sim me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Não tem pra que sofrer

No mundo real, o amor é irreal

Por que me comprometer?

Se posso pegar sem me apegar

No outro dia nem ligar 

Agora eu já sei, é só ir pra farra

Esquecer de relação, não preciso mais sentir

Quero, sim, sair e me divertir

(Refrão)

Um, dois, três, mais que dez

É o total de pessoas que saí

Cinco delas são casadas

E foi no Tinder que conheci

Música baseada na história de 4 pessoas e nas pesquisas do Badoo e Sky News. Com colaboração de Felipe de Souza, especialista em psicologia clínica.

Todo mundo em pânico?

 

Por Jose Higidio e Pedro Henrique Costa

 

capa podcast prazer no medo 3

Arte por Karina Tarasiuk

 

O medo, a princípio é uma sensação ruim. Mas os números da indústria do terror não escondem: muita gente acha divertido tomar uns sustinhos de vez em quando. Nesse podcast contamos o que passa na cabeça dessas pessoas, o que pode influenciar nesse gosto e como esses conteúdos mobilizam toda uma comunidade.

 

 

 

Colaboraram:

Otávio Gaudencio – cineasta, diretor de curtas de terror

Veronica Blackabby e Livia Jurkowitsch – apresentadoras do podcast “É Você, Satanás?”

Daniel Martins de Barros – psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas

 

Pilotando na ponta dos dedos

 

Por Caio Mattos e Jose Carlos Ferreira

 

Pouco tempo faltava para pousar em Buenos Aires em um dia de céu aberto em 1988. O sinal para que os passageiros afivelassem os cintos acabara de apitar. Então, uma súbita turbulência chacoalhou o avião, um Airbus A300. 

De tanto tremor, o copiloto, Ricardo Giorgi, não avistava nada no painel de controle. Mas, por estar a baixa altitude, apenas 2100 metros, o melhor era esperar o fim da turbulência. 

Após “10 segundos de uma eternidade”, a aeronave se estabilizou e pousou sem nenhum ferido. Hoje comandante, Giorgi nunca se esquece dos conselhos de seus instrutores: “Ricardo, pilote na ponta dos dedos” e deixe o avião se estabilizar.

O professor de projeto de aeronave Adson Agrico De Paula, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), concorda com os instrutores e explica que as aeronaves comerciais, como o Airbus A300, são projetadas para que “o piloto trabalhe o mínimo possível”.

Dentre as características do avião que contribuem para sua estabilidade, De Paula destaca o desenho da cauda. Essa estrutura, com formato de “T” invertido, regula a aeronave em caso de rajadas de vento.

Como ilustra Giorgi, “se o avião pegar uma corrente de ar que levante a parte da frente para cima, eu não preciso fazer nada para que ele volte a voar reto assim que a corrente passar”.

O professor do ITA também esclarece a importância do piloto automático, software que mantém a altura e a velocidade da aeronave constantes e, logo, em equilíbrio durante grande parte do voo.

No trajeto São Paulo-Paris, por exemplo, o piloto automático entra em ação quando o avião passa pelo Rio de Janeiro para sair de cena apenas na capital francesa, pouco antes do pouso.

O fator que “mais interfere” na estabilidade da aeronave, segundo Giorgi, é a turbulência, espécie de redemoinhos no ar que podem ser causados por diversos fatores, como as nuvens.

 

Medo de voar

O piscar do sinal de “apertem os cintos” e o primeiro balanço do copo de água na bandeja da frente já aceleram o coração da estudante Júlia Ricci, que assume o medo de voar.

A estudante não é exceção. A maioria das pessoas compartilham esse pavor, diz a ex-comissária Ana Paula Nadine. Afinal, elas se sentem indefesas: “Se algo der errado, não dá para sair no ‘próximo ponto’”.

Para retomar o “controle” durante uma turbulência, Ricci desenvolveu uma técnica: ela olha para os outros passageiros que, estando tranquilos, possam inspirá-la.

De fato, turbulências podem ser severas. Nadine lembra de um caso em 2002, quando carrinhos de petiscos foram arremessados e 16 passageiros se feriram, nenhum estava com o cinto afivelado.

Mas, normalmente, como no voo de Giorgi em 1988, elas não vão além de alguns copos de cristal quebrados na primeira classe. Além do mais, todo voo quase sempre está sob turbulência, lembra Nadine. Na maior parte, ela é suave como o balanço de um berço: “É bom para dormir”.

 

Colaboração:

Ricardo Giorgi, comandante de avião comercial

Adson Agrico de Paula, engenheiro aeronáutico e professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Júlia Ricci, estudante de educação física

Ana Paula Nadine, ex-comissária de bordo 

Alvaro Martins Abdalla, engenheiro aeronáutico e professor da Escola de Engenharia de São Carlos da USP

Gustavo Mata, estudante de relações públicas

Naiady Moura, estudante de arquitetura

 

Imagine um ambiente silencioso…

 

Por Giovanna Simonetti

 

Fotografia: Wender Starlles

Fotografia: Wender Starlles

Vá lá. Feche os olhos e pense no silêncio. O máximo de silêncio possível. Pronto?

Quais sensações vieram à mente? Tranquilidade, medo, desconforto? 

Uma das principais sensações associadas ao silêncio é o relaxamento. Dentre várias opções para lidar com estresses, a busca por quietude é quase inconsciente e se manifesta de diferentes formas – como um simples fechar de portas, o colocar de fones de ouvido e até viagens pela natureza, retiros e exercícios de meditação. 

Na própria meditação, o silêncio é elemento fundamental. Não o exterior, como estamos acostumados a pensar. Sim, um ambiente silencioso ajuda. Mas importante mesmo é o silêncio interior, diz André Fukunaga, professor de meditação. Segundo ele, o silêncio da mente é essencial para usufruir dos benefícios da atividade (entre eles tranquilidade, foco e autoconhecimento).

A praticante de meditação Stella Garcia conta que silêncio foi fator ativo para o melhor entendimento de suas emoções. Mas o processo não foi exatamente silencioso: ao atingir o silêncio, os próprios pensamentos foram amplificados. “O mais difícil foi ouvir tudo o que penso e ver como somos barulhentos”, relata. 

A bancária Carolina Beolchi teve uma experiência similar em sua viagem pela Floresta Amazônica. Por 15 dias, ela se isolou na selva, sem celular nem energia. “O que eu imaginava ser silencioso, se mostrou mais barulhento do que uma metrópole”, afirma. Sem distrações, tudo era ouvido com mais intensidade. 

Mas a busca por quietude pode também ser assustadora. “O silêncio pode te colocar em contato com coisas que você talvez nem queira”, revela Carolina. Ao mesmo tempo que nos conhecemos, podemos enfrentar traumas, angústias e sentimentos indesejados.

E então chegamos a face oposta ao relaxamento. O silêncio pode carregar uma aura do desconhecido, do estranho. Seu uso no cinema é um ótimo exemplo. O que precede o susto em um filme de terror? Todos nós já ficamos aflitos com cenas em que só é possível ouvir passos, a porta se abrindo ou janelas batendo. Ou quando alguém anda por uma rua deserta – o que é angustiante mesmo na vida real. É a ausência de sons que ajuda a criar a atmosfera de tensão. 

 

Mas não é apenas sobre medo. A principal sensação dessa face é o incômodo. Nossos ouvidos são naturalmente adaptados a procurar sons e a falta deles causa uma ruptura. É como um personagem no cinema que dá um grito sem voz. Ou uma explosão sem barulho. Causa estranheza. 

Talvez não seja tão ruim não poder viver em silêncio absoluto…


Colaboraram: Nathália Janovik, psiquiatra, Marco Dutra, cineasta, e Eduardo Santos Mendes, professor do curso de audiovisual da ECA-USP.

Cacete de agulha!

 

Por Giovana Feix

 

 

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Do desespero alheio, Carla Santos de Oliveira já viu muito nessa vida. Coletora de sangue há quase uma década em laboratórios de São Paulo, a enfermeira de 40 anos já atendeu pacientes o suficiente para entender que medo de sangue é coisa muito séria. Segundo relatos dela e de outros profissionais da área, tem muita, mas muita gente para quem a única coisa comparável ao tal do hemograma parece ser o apocalipse zumbi.
 
Quem trabalha com isso, por tabela, tem muitas histórias para contar. Histórias sobre o medo, sim – mas principalmente sobre como cada pessoa acaba arranjando um jeito único e completamente seu de lidar com ele. Aliás, como explica a psicanalista Paula Salomão, também não há resposta padrão para explicar a origem da fobia: na hora de o medo “nascer”, cada um faz à sua maneira. “Precisamos ter elementos da história do sujeito para entender de que forma a fobia se liga a ele”, explica. “A particularidade está no que o sujeito pode atribuir ao sangue, no caso. Dentro da narrativa dele”.
 
Apesar de não ser psicólogo, o aluno de biomedicina e também coletor Henrique Sokoloski já teve que lidar com os traumas de quem frequenta o Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba. “Um dia, chamei uma paciente e entrou um homem. Olhei na foto da identidade e fiquei confuso: ‘você é a Marina*?’, perguntei. Ele respondeu: ‘Não, ela é minha noiva. Queria saber se posso entrar com ela’. A Marina tinha 28 anos, e, além de acompanhada, entrou na sala de costas e com os olhos tampados. Ela chorava, chorava, chorava”, conta o estudante. “Quando fui começar a falar, eles me contaram que, mais nova, ela apanhava do pai, e sempre saía muito sangue”, lamenta. “Eu fiquei muito chocado”.
 
Ao longo da carreira, Carla também se deparou com muitas cenas inusitadas. Mas, felizmente, sem traumas: depois que passa o desespero, ela costuma inclusive extrair boas risadas da maioria delas. “Uma vez chegou um menino de mais ou menos 10 anos. Assim que fui procurar a veia dele, ele pediu pra parar – disse que precisava fazer um aquecimento. E começou a fazer vários exercícios na sala – abaixava, levantava, sentava, levantava de novo”, conta, sorrindo. “Já em um outro dia, teve uma moça, toda tatuada e cheia de piercings, dizendo que não conseguia nem pensar na agulha dentro da veia, do sangue dela. Ela falou que precisava deitar, fechar os olhos e se concentrar em comidas gostosas”, ri. “Muitas vezes, é só depois que as pessoas fazem coisas assim que elas ficam tranquilas o bastante para fazer a coleta”.
 
Medo de sangue é mesmo coisa muito séria. Mas, pelo menos para quem descobre o jeito certo de contorná-lo, há histórias comprovando que não precisa ser tanto assim; que há, no fim do túnel, uma maneira de manter a tranquilidade. Para quem ainda não encontrou esse caminho, quem sabe a melhor solução seja fazer como a Marina: saber que, até para o apocalipse zumbi que acontece diariamente em hospitais e laboratórios, podemos contar com a ajuda de uma companhia especial.

Agirofobia

 

Por Marcela Campos

 

 
ilustração rua com olhos
 
Por que tão escorregadia, droga? Que tipo de gente comprava maçaneta redonda, dessas que se aperta pra abrir, machucando as articulações?
 
As palmas eram já líquidas do suor e sal e a boca era já seca porque vinha da porta aberta um vento infernal de rua. Os pés eram dois que quase se trançavam em queda. O tênis era branco leite e a sola lambia o concreto ainda com todas as ranhuras de confecção.
 
O que sujava seu corpo era o barulho constante de gente. Era gente preta, gente branca, gente de pele descascada do sol que fazia ferver o asfalto. E as gentes gritavam ao telefone que chegariam em cinco minutos e engoliam a pipoca doce que deixava os dedos tingidos de vermelho-sangue, como se pulsassem vida.
 
Olhos na trilha dos pés. E o ruído das vozes era tão horrível que chegava a parecer a sua própria voz multiplicada por mil, como reflexo no espelho.
 
É um burburinho que não existe dentro da lata, no banco de couro, dezoito graus celsius a soprar na cara, o pé viciado no pedal e nova brasil éfe eme às oito da manhã. Às dez, à uma, às quatro e às sete.
 
Mas naquele dia era pé no tênis branco que pisa o concreto e o asfalto e até o buraco e também a raiz das copas que sombreiam as calçadas.
 
“Dá um trocado?”, “Você sabe onde fica a Brigadeiro? Poxa, eu não sou daqui e não consigo achar a rua. Tô procurando emprego. Me indica a direção?”, “Não quer ver nosso cardápio? Fazemos grelhados e”, “E aí! Quanto tempo? Opa, te confundi… Desculpa”, “Chip da TIM, só dez reais, olha o chip da TIM!”.
 
Transpirava uma coisa grudenta. Sentia que suava o suficiente pra pele umedecer doce, e a primeira marcha das latas do engarrafamento salgavam o ar com a fumaça preta.
 
Olhos na trilha dos pés. E porque é que alguém haveria de gostar disso não sabia. Se expor assim ao incerto sem paredes.
 
O asco vinha pelas narinas. Como é que pode o azedo invadir assim? Como é que pode essa gente cheirar assim? Essa gente que não se recolhe, essa que olha pra frente, nos olhos dos outros e ousa gastar muitas horas da vinte e quatro sob o sol, cheirando azedo.
 
E os disfarces? Cada baunilha que entope narizes nos pescoços azedos. O óleo de gergelim na panela quente cheira a graxa e envolve o fio e o brócoli e a cenoura praquela gente cortar entre os dentes. E depois cospem borrachento no chão ou nos buracos que exalam merda.
 
Olhos na trilha dos pés. A nuca doía, o abdômen tensionado sob a camiseta e os ombros presos às orelhas. Só que os braços são sempre livres.
 
O corpo exige essa relação estranha com os objetos do mundo. É lei da física que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, mas os braços são pueris e, por muitas vezes, insistem em desafiar a lei. Batem forte e dolorido no que cerca o mundo.
 
Olha pra frente, imbecil! E mirou.
 
Olhos nos olhos de Alex. E Mariana, e Otávio, Marcos, Raquel, Clara, Roberto, Ana e dessa gente que não se recolhe, essa que olha pra frente e ousa gastar muitas horas das vinte e quatro sob o sol.
 
Mirou o concreto derretendo, mirou a gente caminhando, mirou a chuva condensada, a barriga grande do homem, o prédio onde morava, a boca ao celular, a gente matando tempo. E se viu.
 
E ali todos os objetos ocuparam o mesmo espaço, que era o espaço de si, que era o espaço de tudo.
 

Sai desse corpo!

 

Por Júlia Pellizon

 

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Cresci em uma Igreja Católica Apostólica Romana. Nesse domingo, resolvi conhecer a Igreja Católica Renovada, notável pelos rituais performáticos e exorcismos coletivos. No número 174 da Rua Guarapuava, perto da estação Bresser-Mooca, localiza-se o Santuário do Bom Jesus. Na fachada há um letreiro escrito à mão com as palavras “Padre Jader Pereira”. Era o padre exorcista que procurava.

Eram 14h56 e a Missa de Cura e Libertação começava em minutos. Às 15h15, entra Padre Caetano no altar. Puxa cantos e anda de um lado para o outro sem parar. Os fiéis, agora somando uma centena de pessoas, não parecem muito concentrados. Uns chegam, outros se abraçam e crianças correm pelos corredores durante a missa.

Enquanto canta, Padre Caetano averigua uma sala em um recuo do altar. Lá estava o criador do santuário, Padre Jader. Seu discípulo pede para todos se erguerem e o padre exorcista entra aplaudido de pé pelos fiéis. Durante a homilia*, Jader cita a distribuição de água benta exorcizada ao final da missa, “para levar a quem possui males espirituais”.

Depois de alguns rituais iniciais, ocorre a libertação, uma espécie de exorcismo coletivo.

Padre Jader pede aos presentes para esticarem os braços com as velas nas mãos, compradas em uma loja ao fundo da igreja. Cada uma corresponde a um anseio: vela branca, para curar doenças físicas; vela azul, para transtornos espirituais; e mais umas seis cores, cada uma referente a emprego, família, amor e outros possíveis desejos de um ser humano. Os fiéis erguem a vela e o padre atenta: “Se alguém, ao acender a vela, passar mal, fique tranquilo”. Os ajudantes do santuário, vestidos com um colete amarelo, passam com as velas acesas e repassam o fogo.

“Fechem os olhos”. Os presentes colocam as velas no chão, cerram as pálpebras e Jader começa a sessão. Amansa a voz, profere palavras de elevação de auto-estima e expulsão de negatividade. Para tirar do corpo quaisquer “males, macumbas e feitiços”, diz. “Agora é a hora da LI-BER-TA-ÇÃO”. No “-ção” a música Fortuna, de Carmina Burana invade o santuário. As pessoas choram e se entregam ao momento. Os ajudantes passeiam entre os fiéis para caso alguém se sentisse mal. Não, todos se mantiveram sob controle.

Os ânimos se acalmam.

As velas usadas ao longo da celebração não podem ser levadas para casa. É como se os problemas fossem transferidos para elas. Por isso, são colocadas na Gruta Milagrosa do Bom Jesus, ao lado da lojinha no fundo da igreja.

Velas, óleos para curar dores, água benta, terços e até pequenos travesseiros com a estampa do rosto de Padre Jader são encontrados nesse bazar. Rosa, uma pernambucana faladeira, conheceu o sacerdote por meio de seu programa matutino de rádio. Frequentadora do santuário, há quase três anos passou pelo exorcismo (libertação). Buscou a igreja pelas dores de cabeça intensas e, com auxílio do padre em sua primeira visita, descobriu que haviam feito uma “macumba” contra ela. Uma colega de trabalho confessou e confirmou e feito. Após pegar um absorvente usado de Rosa, e colocá-lo em um papel com o nome dela no meio, a colega ateou fogo nesse pacote. Assim, de acordo com Rosa, jogou sua alma para todos os males do mundo. Porém, conseguiu se libertar com o exorcismo de Padre Jader.

O ritual dura por volta de 1h30. Emocionei-me no momento da libertação. A mistura de música e palavras volumosas fez meus olhos lacrimejarem. Desde então, uma grande dor de cabeça me atingiu e só reparei a intensidade ao sair do Santuário. Sou, de certa forma, cética. Mas, quem sabe, a libertação não passou por mim também?

*Palestra dada pelo padre após a leitura do Evangelho, trecho retirado do Antigo ou Novo Testamento.

Editorial: Ecos do Além

 

Por Ana Carolina Leonardi e Thais Matos

 

obsucro editorial

Caro leitor, chegamos ao nosso último Claro! do semestre.

Desvendar o que gostaríamos que fosse o Claro! nesse período foi nossa primeira missão. A cada edição, tornar uma ideia vaga e indistinta em um projeto completo era como caminhar na névoa, que se dissipava aos poucos, até que pudéssemos enxergar de fato o que queríamos entregar a você, que agora nos lê.

Agora que as obscuridades chegaram ao fim para nós, o Claro! fica à mercê de outro mistério: o que será que a próxima turma vai fazer com ele?

Nossa última edição também se propõe a flertar com o desconhecido, o místico, o nebuloso, capazes de despertar nossos instintos mais profundos.

Nos aproximamos do obscuro em diversas fases da vida, seja envolvidos diretamente ou como observadores curiosos. De brincadeiras de criança a distúrbios psicológicos, passando por fetiches sexuais e crenças religiosas, o incomum e o sobrenatural provocam a imaginação, por serem tão difíceis de entender.

A vontade de tocar o além nos cerca e passa por pontos tão importantes e antagônicos como a fé e o sexo. E nos deparamos com a questão: por que, afinal, temos tanto apreço e curiosidade pelo incerto?

Pesquisas apontam que toda essa nossa vontade de espiar pelo buraco da fechadura que separa o mundo real do mundo dos espíritos, lobisomens, aliens e toda a sorte de criaturas em que possamos crer, vem do medo. O medo do caos.

Afugentados pelo horror de um mundo complexo e desorganizado, que caminha à nossa revelia em seu próprio ritmo alucinante, sem qualquer estrutura, nós buscamos sentido no que não é daqui. Esperamos que o além – seja lá o que isso quer dizer – organize o nosso caos. Não importa quão avançada a ciência esteja.

Mergulhamos nesta edição nos mistérios que rondam a mente humana desde que o mundo é mundo. E nos despedimos neste editorial com uma recomendação: leiam à luz do dia, jamais sozinhos e, se possível, com um trevo de quatro folhas na mão. Dizem os espíritos que a edição está sinistra.

Damos adeus a vocês, leitores. Ou até logo, quem sabe voltemos a interagir através de algum contato sobrenatural. Obrigada por terem nos acompanhado e sigam em paz.

Se puderem.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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